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sexta-feira, 1 de maio de 2009

DA MORTE

Nos velórios que já fui (e compareci a mais deles do que já desejei) eu nunca sabia bem o que dizer as famílias que sofriam pela perda de seus entes queridos levados pela Ceifadora. A Morte é uma pergunta que possui respostas diferentes em corações diferentes. Eu achei a minha resposta por ocasião da morte de meu irmão, Paulo, anos atrás.

Ele passara por um processo de dor e sofrimento por motivos de saúde. Quando finalmente cerrou os olhos eu senti algo que não me assolava fazia muitos anos. Somente quando jovem, aos 14 anos, eu perdia alguém tão próximo de mim: meu pai. Durante o velório minha família estava arrasada pela perda, principalmente minha mãe, que sentia a dor de Deméter sentiu.

Afinal odo pai e mãe não deseja enterrar os filhos. Pelo contrário, querem ser por eles enterrados. Não é natural, subvertendo a ordem das coisas. E seu choro e sua dor perduram ainda hoje.


Mas eu tinha a certeza de Perséfone em meu coração, a certeza do Retorno. Tempos depois, relembrando os fatos, percebi que minha mãe e meus irmãos não raro buscavam em mim algum apoio. E, de fato, eu era entre os familiares próximos o mais sereno.


Morte-em-vida

Observando com atenção, não só os seres morrem. Suas criações concretas ou abstratas também possuem seu tempo: pontes, edifícios, cidades, civilizações, rios, montanhas, nosso planeta, nossa galáxia, o universo... Tudo caminha para a desagregação, para o fim de sua identidade. E a dor disso é absurda.




O imaterial também morre: amizades, empregos, casamentos...

Há coisa que andam por aí, moribundas, esperando pelo primeiro vento forte para derruba-las. Isto a Morte em seus diversos aspectos traz de bom, que é a possibilidade de renovação. Mas sua dor é absurda, eu repito, e não há muito que se possa fazer. Talvez vivencia-la, mergulhar nela até as lagrimas secarem e torcer para que isto seja o bastante.

Que o rio salgado que nasce das lágrimas e que se forma em nossos pés possa trazer algum conforto, que limpe de nós o sofrimento.


Esperança

Neste Samhain eu relembro então um velho pacto entre o Divino e eu: de que o Amor supera a Morte. Eis a finalidade da Religião. De dizer isto para nós, de mostrar no fundo, no mais escuro poço de nossa existência a luz que nos trará de volta. Desde que o primeiro humano foi enterrado em um leito de flores, nós desejamos acreditar que há algo além da Morte. As religiões do mundo buscam dar este acalanto.

Talvez isto não seja perceptível ainda porque a maioria de seus membros seja muito jovem e saudável, e com pais jovens e saudáveis. Mas a medida que os ciclos de vida (casamento, batismo, morte etc) exigem uma atenção espiritual, a finalidade de se apontar e respeitar os ciclos toma forma. Então, quando finalmente chegar nossa vez, poderemos dizer aos que nos cercam no leito: não temam, pois nos reencontraremos.

E esta certeza será plantada no coração de todos.
Neste Samhain, pensem com carinho neste assunto.

Saúde, amizade, liberdade.


S. Thot


Um comentário:

  1. O frio congela meus ossos hoje, neste período entre o Samhain e o Yule, enquanto releio o que escrevi meses atrás. Que a esperança retorne com o Reino do Verão.

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