terça-feira, 20 de novembro de 2007
DO SACRIFÍCIO
Sacrifício: Sm. 1. ato ou efeito de sacrificar (-se). 2. Privação de coisa apreciada. 3. Renúncia em favor de outrem.
A medida que o Ano Pagão caminha para seu final, nos aproximamos do Início do Outono. Há algo de agridoce nesta data, pois ao mesmo tempo que celebramos os primeiros frutos, seremos parte do cortejo que acompanhará o às portas do Início do Inverno, onde Divino iniciará seu inexorável caminho rumo ao Submundo.
Mas, o que é o sacrifício para nós, wiccanos?
O Sacrifício no Neolítico
No período histórico conhecido como neolítico a humanidade conheceu um florescimento social e cultural jamais visto até então. Com a fixação do homem à terra através da agricultura e posterior surgimento de aldeamentos, foi possível viver de maneira mais segura e, porque não dizer, mais filosófica.
Instrumentos que antes eram meramente utilitários agora ganhavam elementos decorativos. Surgem evidências de brinquedos e passatempos, arte e preocupação com os mortos. Com os excedentes de produção nascem as trocas, dinheiro e comércio. As idéias também viajam, logicamente.
Neste ambiente os arqueólogos encontram em locais diferentes como Çatal Hüyük, Malta e Creta indícios de uma cultura voltada ao culto à Deusa. Nestes ambientes e períodos, no auge de suas culturas, não é encontrada qualquer forma de sacrifício ritual, seja na forma de instrumentos, corpos ou pinturas. Supõe-se que ondas invasões/colonizações indo-européias posteriores (pro-gregos, proto-celtas, proto-germânicos, entre outros) trouxeram o culto solar a estas culturas. E, no seio do Culto Solar regido pelo Deus Pai, encontramos o sacrifício ritual.
Mesoamérica
Uma bem documentada experiência de sacrifícios humanos a fim de apaziguar a Divindade encontra-se nas escavações de cidades das Américas Central e do Sul. Os astecas, antes da chegada dos conquistadores europeus, segundo estudos, sacrificavam prisioneiros de guerra para alimentar seus Deuses. Costume similar foi achado em sítios nas terras maias.
Faça-se notar que elite e sacrifício sempre caminham juntas, pois eram as mandatárias de tais atos. O povo é que penava, seja nas guerras, seja no medo deles mesmo viram vítimas sacrificiais.
Na mesma época das Conquistas, as fogueiras da Inquisição já lambiam a Europa, e suas labaredas chegaram na América. Estes homens santos até meados de 1800 permitiram a destruição dos corpos a fim de lhe salvar as almas. E pensar que o europeu considerava os nativos da Ásia e América, selvagens...
Vontade divina
Estes bem-intencionados homens esquecem os barbarismos narrados em seu próprio livro sagrado, afim de aplacar a vontade de Jeová por sangue. Sem citar todos os confrontos que levaram o Povo Escolhido a tomar as terras das nações vizinhas, podemos citar a tentativa de infanticídio que Abraão cometeria sobre Isaac, seu único e precioso filho, sob ordem divina. Chamam isso de prova de fé.
Maturidade
Cada povo possui seu tempo para madurar as suas relações internas, e seu relacionamentos com o divino não escapa disto. Quanto mais violentas, verticais, hierárquicas forem as sociedades, mais brutais e opressoras são suas relações com o Divino, tendo geralmente a figura do Pai como primazia.
Sob esta pressão o povo comum recorre geralmente a uma intercessora, alguém que possa mediar as relações dentro do círculo divino. No cristianismo do século I, este papel coube a Maria, que também serviu, é preciso dizer, para substituir o culto a Ísis.
Em 1989, durante os protestos da Praça da Paz Celestial por liberdade, nascia em meio ao povo a Deusa da Democracia, que olhava para o gigantesco poster de Mao Tse Tung, patriarca desta revolução que, dias depois, massacraria seu próprio indefeso povo com tanques e armas pesadas.
Um toque feminino
Pode-se supor que as figuras femininas nas religiões possuem papel passivo, mas isto é um engano. A morte e o confronto também As acompanhavam, mas de modo diferente.
Raramente lhes são oferecidas criaturas sangrentas para sacrifício ou mutilação, e mais raramente ainda, humanas. As Valkírias, guiadas por Freya cavalgam as nuvens em busca de soldados mortos nos campos de batalhas, enquanto a Deusa Morrígan velava pelos celtas.
Cibele
À Deusa Cibele, da Frígia (atual Turquia), os sacerdotes dedicavam não só seu tempo. Conta-nos os historiadores que mutilações eram feitas em seu nome. Que os sacerdotes de seu templo cortavam seus órgãos sexuais par dedicarem-se à Deusa.
Pagãs transsexuais modernas terminam por aceitar Cibele em seus cultos pois identificaram-se com este aspecto da Deusa. Rachel Pollack, em seu livro "O Corpo da Deusa" conta-nos que na Índia, os hijra, sacerdotes da Deusa Bahuchara, são supostamente emasculados nos tempos atuais, baseado em testemunho da ativista americana pelos direitos dos transsexuais, Anne Ogborn.
Bode Expiatório
O termo bode expiatório é de origem judaica, onde um bode era solto pelo sacerdote no deserto, e que este levava os pecados da comunidade com ele.
Muitos autores, como os Farrar, afirmam que uma alternativa à morte sacrificial do rei era a colocação de um criminoso em seu lugar. Tenho a sensação que a pena de morte faz do condenado uma espécie de bode expiatório, uma válvula de escape das frustrações das pessoas.
Conversando com as pessoas sobre isto, todas as razões que me apontaram giravam em torno de um único sentimento: vingança, e prazer na morte.
A pena de morte não edifica (obviamente) o condenado e nem a sociedade que a apóia. É somente um ato vingativo. E, falando no campo religioso, o Divino não busca a vingança ao executar a Justiça.
É necessário então que a pena de Maat pese não só o coração de quem se condena, mas de quem também o condena.
Oh, que bela guerra!
Acontecem neste momento, enquanto eu escrevo e você me lê, alguma forma de conflito armado no planeta. Neste momento homens mulheres e crianças matam e morrem por algum motivo. Apesar de acreditar na autodefesa dos povos contra as investidas de aventureiros, preferiria que a Terra não fosse arrasada por bombas, forrada por minas terrestres e encharcada pelo sangue humano.
Mas, apesar disso, o culto a guerra predomina pelos mais variados motivos, mas nenhum deles faz menção ao fato de que nações são arrasadas por gerações. Seja por orgulho nacional, aquisição de recursos naturais, defesa de uma terceira nação, a propaganda da guerra mostra homens e máquinas disparando armas. Mas não há nestas mesmas propagandas o efeito que estas mesmas armas causam aonde cairão.
Mas, se em um certo momento, perguntarmos a estes apoiadores da guerra se aceitam o sacrifício humano, eles dirão horrorizados "Nãããããããããããõoooooooo!" Curioso, não?
Sangue
Verter sangue e não morrer sempre foi uma qualidade feminina. Quando uma pessoa se fere atualmente não teme pela vida, pois temos a comodidade dos hospitais à nossa disposição nas áreas mais urbanizadas. Porém,imagine o que era para um caçador ou guerreiro a perda de sangue, longe de casa e de maiores cuidados, e sem os conhecimentos necessários para deter o fluxo ou limpar a ferida?
Supõe-se que uma das causas da natural associação da mulher ao Divino seja a capacidade de não só gerar filhos (em um tempo que tal "mecânica" era desconhecida e o papel masculino nisto, ignorado), mas também de poder sangrar em seu ciclo menstrual. Se muitas mulheres permaneciam juntas, os seus ciclos se ajustavam, e estes ainda por cima, coincidiam com as fases da Lua!
Sangue menstrual era misturado à leite e mel e espalhado nos campos a fim de devolver à Terra sua fertilidade perdida.
Alternativas
Os wiccanos hoje são totalmente contrários aos sacrifícios animal e humano (obviamente). Muitos ainda abrangem este conceito à alimentação e vestuário, não consumindo qualquer produto de origem animal. Também são simpatizantes ou atuantes em diversos orgãos de direitos humanos.
Se querem sacrificar algo, o fazem através de seu tempo e esforço, não fazendo uso de vítimas vivas. Quando querem fazer um sacrifício ou pacto de sangue, vão a um hospital e fazem uma doação em favor da Humanidade(rs).
Este é uma forma verdadeira e moderna de sacro ofício.
Viu? Simples!
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