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domingo, 30 de setembro de 2007

DO FIM DO MUNDO




Por S. Thot


Afim de comentar o tema é preciso determinar antes o que é mundo, e o que é fim.
Entre as classificações dadas pelo Aurélio, há uma que se encaixa no significado cotidiano: mundo é sociedade, a o tempo contemporâneo.
E fim é a conclusão de algo, entre outras explicações.


Para mim, estes dois significados se complementam no pensar pagão. Mas antes, falemos sobre como a forma de pensar da religião majoritária define o Fim do Mundo. Afinal, ela nos influencia de um modo ou de outro!

O povo fala por aí que...
A tradição religiosa majoritária de nosso país diz que no Princípio era o Caos. Então a Divindade criou o Céus, a Terra, vegetação, animais e humanos.

O curioso nesta história é que apesar dos registros relatarem um casal primordial e dois filhos (e um foi morto), o remanescente parte pra se casar em outra freguesia...

Epa! Então tinha mais gente no mundo? Haviam outras famílias? De onde vieram, se o relato não fala nada disso?

Ora, sem duvida o escritor falava da criação daquele mundo em especial, onde o povo compartilhava uma cultura (língua, religião, hábitos alimentares) e espaço físico comuns. Consequentemente, o final deste mundo, descrito com riqueza de detalhes alegóricos centenas de anos depois, se relaciona com o término desta cultura em especial (apesar dela, hoje, ter se disseminado pelo planeta).

Na Mesoamérica
Os sacerdotes e astrônomos maias possuíam um modo peculiar para determinar o fins das eras usando o conhecimento das estrelas. Tendo Vésper (ou Vênus), como referência, afirmavam que cada período iniciava-se com o surgimento deste astro no horizonte.

Consequentemente, seu desaparecimento determinava o fim de uma era, no nosso caso, a Era do Jaguar. A cultura maia determina 22 de dezembro 2012, como o fim do mundo. Como é uma data relativamente próxima, quem viver verá.

Ragnarok
Não, car@ Leitor@! Não é o jogo, mas o evento que trouxe a destruição ao Universo após uma luta mortal entre Odin e os Aesir contra Loki e os Gigantes segundo o pensamento nórdico. Um casal de humanos sobrevive ao final desta era, iniciando a repovoamento da terra (um, já li isso... )

Aqui houve um fim, mas também um reinício.

Enquanto isto, na Bretanha
Os celtas não deixaram relatos sobre Divindades criadoras. Boa parte de nosso conhecimento sobre eles e a Bretanha, também identificada com a Deusa, fala somente de ocupações sucessivas de povos célticos (os cruithne, fir bolg, os lagin etc. ), e aparente despreocupação com teorias apocalípticas.

Antes mesmos dos celtas supõe-se que moravam na ilha um povo mais antigo, cujo o nome se perdera no tempo, mas a quem os romanos tiveram que enfrentar em lutas ferozes na Escócia. Como este povo de estatura pequena e de pele amarela pintava o corpo de azul, ganharam o nome latino de Pictos, ou os pintados.

Partindo deste princípio afirmaria-se, que para o povo celta, a Terra não fora criada mas sempre existiu. E sempre existirá, aguardando somente a próxima invasão.

Entre os gregos
O fim dos tempos, do ponto de vista grego sobre o divino, significa substituição, sendo notadamente patriarcal. Às vezes esta troca é pacífica, onde um Deus velho é substituído por um novo, geralmente um filho ou irmão.

Por vezes é violento, mesmo quando envolve parentes próximos. Haja visto as divindades olímpicas. Gaia gera com Urano vários filhos, entre eles Rea e Cronos. Sentindo-se ameaçado, Urano os devorava. Cronos castra Urano, libera os irmãos e casa-se com Rea.

Com ela tem filhos, e com eles vem o medo de deposição. Entre os rebentos está Zeus, que derruba o pai tal qual aconteceu com Urano. Os gregos associavam cada deposição com uma era, sendo a era de Urano a de Ouro.

E conosco?

11 de agosto de 1999. Era quarta-feira, acho. Fazia um lindo dia de sol, quente e claro. O céu estava tão azul... Mas ainda sim havia um contraste nas sombras. Elas estavam mais escuras, como se algo fosse pular delas e me agarrar antes que eu chegasse no ponto de ônibus.

O motivo é que um eclipse estava marcado para aquele dia, o último do século. Nada de mais, só mais um maravilhoso evento astronômico. Porém, cruzaram este fato com profecias nostradâmicas e uma certa histeria tomou conta da sociedade ocidental. E de tando se noticiar a baboseira que aquele dia bonito não foi aproveitado em toda sua plenitude.

Quando o cometa de Halley cruzou os céus em 1910 também houve o mesmo pânico apesar de já estarmos em uma sociedade medianamente esclarecida sobre estes fenômenos.

Isto sem contar o sr Wells e sua transmissão radiofônica da invasão marciana nos E. U. A. Há sempre explicações para o fim do mundo. Então ganhei um certo ceticismo com o tema.

Fora que o termo "fim do mundo" é muito genérico. Que mundo é este que se acabará? E será segundo o calendário gregoriano, maia, juliano, judeu, chinês...


Outras preocupações
Nossa divindades, notadamente pagãs, não possuem uma função administrativa como Zeus, Rá ou Odin. São Deuses e Deusas eram cultuados nos tempos antigos por trabalhadores da terra, não por governantes, sacerdotes profissionais ou guerreiros. Portanto não havia trono pelo qual batalhar nem posições a se manter pela eternidade.

Suas preocupações portanto giravam em torno da satisfação de necessidades mais imediatas, entre elas o plantar e comer, e assuntos ligados a elas. O mundo não começa ou acabava. Apenas os ciclos se interpunham, indefinidamente. Hoje não plantamos o que comemos, mas somos herdeiros culturais dos antigos pagãos, apesar de nem sempre tomarmos consciência deste fato simples.

Um aspecto interessante na Wicca é que seus membros não esperam por retornos de grandes homens ou datas específicas para transformar a Terra em um paraíso que tantos povos almejam. Se quisermos a vida boa ela nasce de nossa consciência & ação.

Eu aprendo todos os dias que sempre caminhamos na fronteira entre uma vida plena e a devastação. Tudo depende de nossa posição pessoal frente as diversas necessidades que a vida apresenta. A cada papel jogado no chão, a cada árvore derrubada, a cada ato violento impedido, um novo mundo se cria em torno de nós. Isto é uma luta diária, não uma condição eterna.

E esta luta é travada por todos, sem exceção. Basta apenas que tomemos consciência disto a cada momento e não em uma data específica, segundo alinhamentos astronômicos. Poderíamos viver na plenitude desde 2002, 1992, 1882... A questão é saber se o Universo decidirá quando isto se realizará ou se nós tomaremos as rédeas do Carro.

Como pessoas cientes dos movimentos no micro e macrocosmos, esta é uma oportunidade de aproveitar a crendice da população que há uma data específica universal para a busca da Felicidade e que o Universo marcará como um gigantesco relógio nos céus. Mas, cá entre nós, 2012 para muitos iniciou-se há muito tempo.

Reconhecemos a verdade do ciclo, da espiral, do reinício, ao invés do final abrupto e violento. O apocalipse não nos tira o sono. Ao menos, não o meu. O mundo que conheço terminará quando esta minha existência terminar. Mas após um mergulho no seio do Divino voltarei renovado, vivo em cada ser deste universo.

Só espero deixar um mundo melhor que eu encontrei para que, quando voltar, não tenha muita sujeira pra limpar.


Saúde, amizade, liberdade.


E ó, eu como os antigos egipcios, tenho mais medo de Apophis, a serpente com quem Rá luta desde a aurora dos tempo!

2 comentários:

  1. Olá!!
    Muito Obrigada pela visita!! Acabo de ler o seu post, e curiosamente, acabo de terminar o meu novo post, e cirei sobre o mesmo tópico!!
    (As pessoas encontradas por Caim). Creio que podemos ter construtivas discussões religiosas! =D

    Beijos e Bençãos.

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  2. Sem dúvida. Gostaria que as pessoas deixassem de temer o porvir e se preocupassem em manter as bençãos que temos hoje: água, ar, terra, biodiversidade.

    O amanhã ao Divino pertence! Cuidemos do Agora!

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