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sábado, 25 de outubro de 2008

DIONÍSIO







É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,

perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,

hão de vos responder:
É hora de se embriagar!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas!

De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.

Charles Baudelaire


Dionísio, filho de Sêmele e Zeus, é um dos Deuses preferidos dos pastores e agricultores. Os relatos gregos afirmam que, quando Hera descobriu de quem Ele descendia, enciumou-se e resolveu fazê-lo louco e vagar pelo mundo.

Curioso como são as coisas, não? O que deveria ser um castigo tornou-se sua marca.




Deus Libertador

Os Deuses olímpicos exigiam de seus cultuadores alguma forma de sacrifício, e com Dionísio não é diferente. Mas nossa devoção para com ele se dá através do maior sacro ofício de todos, que é a busca de nossa própria libertação.

O seu valor como divindade agrícola nasce quando ele ensina o cultivo das parreiras e o processamento do vinho, após ser curado pela Deusa Cibele. O vinho não é o fim em si mesmo, mas o caminho do êxtase que nos leva a uma Verdade maior. Algo que vá além da rotina, do trabalho, maternidade, estudo.

Um Deus que liber
ta as mulheres dos sutiãs, activias, OB's... Que permite que o sangue volte ao solo novamente e que o fertilize. Do vinho que reduz a razão, e que permitem ideias loucas e inspiradas brotando da aridez que é nosso dia-a-dia. Uma Verdade que nos retira daquilo que fazemos cotidianamente e nos leva àquilo que somos.

Para os campesinos, que sempre viveram submetidos ao domínio das cidades e seus Deuses de ordens e de linhas retas,
ter um Deus que morre e renasce, que é vítima de injustiças e abusos mas ainda sim mantém-se íntegro, é uma promessa.

Uma promessa de renovação, de esperança, de criatividade, de Vida. Uma promessa de Retorno sem chantagens ou ameaças. O Deus que é o marido secreto de Perséfone, também Esta que conheceu a dor e violência, o rapto e
morte, mas que retorna todo ano para os braços Deméter (Salve Grande Mãe!) para novamente reinarem sobre os grãos e frutos, grãos e frutos que somos nós.

 Não há um sacerdote entre seus cultuadores de Dionísio. Ou melhor, somos todos sacerdotes do Deus, todos responsáveis. Todos carregamos o cetro do Deus da terra. 

Hino Órfico a Dionísio:
 

"Eu clamo ao estrondoso e festivo Dionísio,
primordial, de duas naturezas, duas vezes nascido, senhor Báquico,
selvagem, inefável, secretivo, de chifre duplo, de duas formas.
 
Coberto de hera, com rosto de touro, bélico, uivante, puro,
tu tomas a carne crua, tu tens festivais trienais,
envolto em folhagem, protegido por cachos de uvas.

Eubouleus de muitos recursos, deus imortal gerado por Zeus
quando este se uniu a Perséfone em união inenarrável.

Escuta atentamente à minha voz, ó abençoado,
e com tuas amas vestidas de beleza
sopra em mim um espírito de perfeita gentileza."


Falando em vinho, para aumentar a cultura de meus leitores os brindo com a sabedoria de um enólogo das terras lusitanas!





Outras Leituras


Convido-os a conhecerem a Sociedade Dionísica, cuja a proposta é...


"...alcançar o estado de liberdade que nos coloca em contato com o divino. Nos inspiramos nas principais atribuições que nosso deus tinha na Grécia Antiga (vinho, orgia e teatro) para classificá-las em três grandes gêneros: a liberdade da mente (representada aqui pelo Álcool), a liberdade do corpo (simbolizada pelo Sexo) e a liberdade da alma (figurada pela Arte)."
Clique AQUI e descubra

Leia também um belo Hino Órfico para Bacchus no Mundo Pagão, clicando AQUI.


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

DO MACHO-ALFA




Esses dias, indo para São Paulo, me deparei com alguns membros da torcida Independente do São Paulo Futebol Clube, um time de primeira divisão em meu país. Um dos rapazes desta torcida organizada exibia uma camiseta onde o santo São Paulo, usado como símbolo da organização, estava monstruosamente representado (repito, MONSTRUOSAMENTE). Para as torcidas de futebol nos dias de hoje é visível que demonstrar habilidades no esporte ficou em segundo plano.



Anos atrás vi a mesma representação do santo levantando sua túnica e deixando as pernas livres para melhor dominar a bola. Sua face demonstrava alegria e irreverência, em contraste com a imagem forte, musculosa, sem qualquer simbolo que o relacione ao futebol. Era gritante a desproporcionalidade não só dos músculos em relação a realidade, mas até a "idade" do personagem, que é um velhinho. Me atento ao sorriso. Não um sorriso despreocupado da imagem de anos atrás, mas uma imagem ameaçadora, sádica, violenta.

Ainda temos na mente o padrão "Rambo" sobre homem, sem atentar que uma pessoa pode ser máscula ser ter que coçar o saco, falar alto e cuspir no chão. Um Ares de espada sempre ereta, pronto para luta.


Pensamentos de conquistas não são parte de um ideal pagão. Ora, quem lida com a terra não tem tempo para guerrear: ou é o arado ou a espada. No campo de batalha só se colhem corpos mutilados. Como pagãos, qual é nossa escolha mais óbvia?



É preciso paz para plantar

Ares é diferente, por exemplo, de Dionísio. Esta divindade do vegetal, do vinho e do êxtase, pouco se preocupa com as lutas, ou em "andar na calçada". Seu culto nos leva a quebrar padrões sólidos, a rever parâmetros, e a gozar um pouco a vida, nós que trabalhamos sol a sol desde o início dos tempos.

Dionísio não é um Deus da conquista, ao menos não no modo usual do termo. Nascido de uma das famosas escapadas de Zeus e, portanto, ganhador do rancor justo de Hera, por esta foi tornado louco por vingança contra o marido pulador de cerca, e vagou desvairado pelo mundo à fora.

Sob a proteção da Deusa Cibele, é curado de sua insanidade. Depois é instruído à cultivar vinhedos e de seu fruto extrair a bebida sagrada. Atravessando a Ásia, ensina o cultivo da uva (e, porque não dizer, de outros frutos também?). As imagens que se fazem deste Deus (um velho bonachão, uma criança ou um jovem sorridente) não mostram qualquer imagem de Poder Sobre, de tentativa de dominar outras pessoas ou de prazer sádico.

O Dionísio/Baco representado pelas telas de da Vinci, falando em termos sensuais, tem até a cara daqueles que levam as mulheres ao êxtase muitas e muitas vezes, e que retira daí seu próprio prazer.


Sangue Latino

Agora um exemplo próximo de como é interessante a imagem que o feminino faz dos homens. Uma amiga minha trocou de namorado. O antigo seguia o perfil "macho latino". O novo é mais sutil, delicado. Quando saíram de balada, ela estranhou que seu novo par soubesse dançar, mexer o corpo. O antigo era mais turrão e ficava de canto, fazendo pose.
No início ela confessara que estranhou, mas depois viu que as idéias que se fazem do homem quase sempre são estereotipadas. Inteligente e sensível, seu novo companheiro destoa daquilo que sempre se indicou como provedor, defensor e líder.


Sim, podemos ser machos e ainda sim, sermos fofos, rs!


Na vida diária

Vivemos em uma nação parcialmente democrática. Parcialmente porque ela ainda é representativa, e não direta como eu gostaria. Trocando em letras miúdas, elegemos pessoas que vão escolher para nós aquilo que é prioritário para nossa cidade, estado e país. E a democracia termina aí.

No ganhar da vida, no emprego, nós não escolhemos nossos líderes, coordenadores, supervisores, diretores. Vivemos em uma hierarquia, onde ouço abertamente Manda Quem Pode e Obedece Quem Tem Juízo. São herdeiros culturais de um mundo que está se deteriorando.

Apesar de nossa civilização de 10.000 anos, dos carros elétricos, do Iphone, da Internet, ainda vivemos sob a espada do macho-alfa, que detém poderes virtuais ou mesmo reais de vida ou morte sobre nós. E com nosso consentimento!!!

Isto até a sua queda inevitável, quando muitos machos-beta, submetidos, lutam como crocodilos do Nilo em busca do topo da pirâmide social. Onde ainda há regras de ascensão e queda, as coisas são suavizadas pelas leis e estatutos. Onde o Estado ou o Mercado não têm domínio, ganha quem saca primeiro e tem mais balas no tambor, como demonstram os confrontos nas favelas cariocas.

Se assim tratamos as pessoas, imaginem como tratamos a natureza da qual extraímos nosso sustento? Não raro abuso ambiental é precedido pelo abuso humano.


Um novo tempo

O masculino que submete hoje vive um momento de crise em sua base, uma vez que um número pequeno mais crescente de mulheres já não mais aceitam o sonho romântico de casar. Essas mulheres trabalham fora, possuem mais apoio jurídico e psicológico que suas mães tiveram. Muitas disputam o topo com os homens. Muitas criam sozinhas a sua prole, seja por opção ou por ausência do parceiro (divórcio, abandono, morte).

Ao mesmo tempo surge este novo tipo humano masculino, que busca as crianças da escola, trabalha em parceria horizontal com seus colegas, lava a louça e pergunta com sinceridade em casa "como foi seu dia, amor"? E não tem vergonha disso. Dionísio atende perfeitamente a este tipo homem que não precisa empunhar uma espada para persuadir as pessoas, para lidera-las.

Isto se estenderá para outras partes da vida, seja por bem ou por mal. Nossas relações, graças a facilidade de comunicação, nunca mais serão as mesmas.

Mas se for preciso ir à guerra, que eu tenha um líder que valha a pena ser seguido!


Hmmm... talvez você queira ler também algo sobre as Pressões da Vida. É um texto interessante é que complementa este aqui.


Saúde, amizade, liberdade.


Sergio Thot. 



quarta-feira, 31 de outubro de 2007

DO NOVO HOMEM






Nos últimos grupos pagãos em que trabalhei, a presença feminina era maciça. Nada mais natural uma vez que a Religião da Deusa é um atrativo muito poderoso para o feminino existem em cada um de nós, tenhamos nós os cromossomos XX ou XY. Tal descoberta e as experiências dela decorrentes, ajudou-me a desenvolver em mim o valor do "outro".

Por existir um número maior de mulheres na Religião em geral e nos grupos em que celebrei em particular, as funções dentro dos rituais não podiam ser divididas em papéis masculinos para homens ou femininos para mulheres porque o número de pessoas nem sempre era o ideal para tal prática. Passamos então a ver o outro gênero com novos olhos através do resgate do masculino ou feminino dentro de nós.


E já que é Assim na Terra como no Céu, esta visão ampliada das coisas acertadamente transborda também para a realidade comum. A genitália ou a visão social deixa de ter papel preponderante sobre aquilo que somos realmente

Nossos Papéis no Cotidiano


Somos uma sociedade em luta, uma sociedade de conflitos. Um deles se refere aos papéis que homens e mulheres precisam desenvolver na sociedade, a começar na celula mater, a família. O homem tem deixado de ser a cabeça da casa em muitas cidades do Brasil. Seja porque morram mais cedo, seja porque se divorciam/abandonam as famílias.

Em minha própria família isso foi uma realidade. Minhas duas avós e minha mãe ficaram viúvas cedo e tiveram que gerir sozinhas as suas casas. Há campanhas governamentais que focam diretamente na saúde do homem que, como sei muito bem, não gosta de médico. Tem até um vídeo sobre o assunto.


Muitos banco populares têm feito empréstimos somente às mulheres porque costumam ser mais contantes nos pagamentos, além de serem os "homens da casa", por assim dizer. Há uma experiência muito boa em Bangladesh sobre o assunto.
 
Um novo papel cria-se agora na sociedade, de maneira lenta e gradual! Nós homens estamos um tanto perdidos, onde temos que ser dóceis no mundo privado, porém agressivos cá fora neste capitalismo selvagem. Ser capazes de dar conta da troca de uma fralda, mas também de combater na selva de pedra. Só que em quem nos espelharemos? Somos uma das primeiras gerações a se encontrarem com esta nova realidade. Se não há modelos confiáveis, como podemos cultivar a nosso novos papéis se vivemos em cercados?



Mulheres sem dono

Incrível como os conceitos mudam com o tempo, espaço e povo. O conceito de mulher virgem é um exemplo disso. As mulheres eram virgens não porque nunca tenha se deitado com um homem, mas porque não pertenciam a nenhum.

Num sentido mais profundo, é uma mulher que está ao nosso lado porque o deseja, não por medo do "mundo lá fora", ou piedade, ou interesses. Essa mulher é alguém que nos chama para segurar o alfinete da fralda, mas que também empunha a espada e escudo, com a pele pintada pra guerra e diz: vamos nessa!

Então é isto! Mulheres capazes do manejo da espada ao lado de homens capazes de fazer mamadeiras, todos em igualdade de condições, livres para assumir posições conforme as coisas acontecem, apoiando assim uns aos outros!

Isto, lógico, pede um novo homem também! Um que não se intimide com essa mulher forte e senhora de si.



Ah, este post sobre mulheres fortes merece um som do Ministro!

Ps:

Um texto interessante: Do Macho-Alfa