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terça-feira, 30 de setembro de 2008

DO MICRO AO MACRO





Durante os anos de 2007 e 2008 eu participei de um programa de voluntariado do Educafro em Guarulhos. O Educafro tem como missão realizar a inclusão da população afro-descendente. Sob orientação, eu ministrava aulas de Biologia com enfase no mundo vegetal. No início do curso era abordado a questão dos vírus, bactérias, protozoários e outros seres microscópicos, DNA, RNA, mitocôndrias..


Endossimbiose


Palavrão, né? Rs! Esse eu (re) aprendi durante as aulas, através da observação de diversos organismos e as formas com que se organizam para viver me dei conta de como nós somos parecidos com eles. E que não somos aquilo que pensamos realmente.

Por exemplo, a célula vegetal, a menor porção de uma planta que ainda mantém suas características básicas. Ela é formada por outros subsistemas menores. Alguns deles, desconfia-se, tem vida própria e passam a viver dentro célula para partilhar vantagens.

Conosco é a mesma coisa. Nosso corpo é uma colônia onde habita a nossa consciência. Somos o universo de milhões de seres vivos que vivem agem sem a nossa interferência consciente.


Ora, um recuo maior, as células se especializam e formam órgãos completos, como coração, rins, pele. Estes sistemas também funcionam sem nossa interferência direta. Afinal, ninguém compassa o ritmo do coração, ou a quantidade de oxigênio que deve entrar nos pulmões. Estes órgãos formam sistemas maiores (reprodutor, respiratório, digestivo).

A combinação destes sistemas formam as coisas vivas. É assim no micro no macro.


E não pára por aí

Cada indivíduo não é um indivíduo, mas um sócio. Isolados, não teríamos as conquistas que usufruímos hoje. Afinal, a água tratada que chega com pressão em nossas torneiras, vinda de grandes distâncias, não é mágica. Um conjunto de células sociais organiza, monitora e age para que isto aconteça. Também somos parte de um grande corpo que é nossa cidade.

Unidos pelos mais diversos motivos e com os mais diversos objetivos, é verdade. Mas ainda sim somos um corpo. As diversas formas de vida deste planeta estão buscando este entendimento. Cooperar é sempre menos desgastante que lutar. Para sobrevivermos como espécie em algum momento temos que tomar esta decisão. Todas as invenções que tornam nossa vida mais segura e confortável são o resultado destas conexões entre o passado e o presente através das mais diferentes culturas.

A questão é sob que moldes permanecermos juntos para o futuro, já que isto me parece inevitável: sob a coação ou sob o livre-acordo.


Pense nisso.



Sergio Thot


domingo, 21 de setembro de 2008

DA EXPERIÊNCIA




Quando temos uma experiência religiosa, mística, emocional, é algo de cunho extremamente pessoal e que ninguém poderá explicar com exatidão. Isto porque explicar, medir, qualificar compete a ciência e não religião.

A religião trata de credo, de fé (credo quia absurdum est) e portanto sua experiência só pode ser explicada por você mesmo e pelos símbolos que você absorveu ao longo de sua vida. Diferentemente de fenômeno, algo observável por terceiros (num sentido muuuito sucinto!) e, portanto, ciência: fenômenos biológicos, químicos, físicos...


Exemplificando

Uma flor é definida como sendo parte de uma planta e que se destina à reprodução sexual. Sabe-se disso pois é possível observar o fenômeno vez após vez nos jardins, através de pássaros e flores; pode-se arrancar as pétalas e órgãos internos, corta-los e observa-los.

Dois botânicos, mesmo separados por quilômetros de distância, concordarão plenamente se analisassem duas plantas da mesma espécie e nomeassem suas partes principais.

Mas a experiência de se sentir o perfume dela e daí arrancar símbolos internos (há flores que me lembram encontros românticos como rosas, flores que me lembram despedidas em funerais, como crisântemos...) é de cunho totalmente pessoal. Isto não é classificável em livros, ou possível de se explicar. Faz parte da bagagem, social, cultural e histórica de cada indivíduo.


Dificuldades

Eis dos motivos pelos quais falar de ambientalismo para alguém é tão difícil. Para nós ver a natureza como um todo, e nós parte deste todo, é muito fácil pois sentimos isto. Nem todos estão abertos ainda para sentir este amor ainda.

Amar é liberdade e conhecimento. Mas estas são duas palavras em desuso. Atualmente temos a libertinagem e a técnica, e ambos são insípidos, áridos, vazios. Libertar é ter e não dominar, enquanto conhecer é envolver-se, conhecer a si e ao outro também.

E quem ousa olhar nos olhos de alguém e ver neles o reflexo de seu rosto?


Empatia

É bom repetir: só se luta com todas as forças por algo que se ama. Sem esta ligação, esta empatia pelo Todo, sem o amor que se sente ao olhar o mundo natural e ver nele a face do divino, não se tem uma defesa ambiental marcante. Faz-se porque alguém mandou, e só se faz enquanto esta ordem externa se manter forte.

Isto tem que nascer do tambor que bate em seu peito. O coração da Terra tem que bater com o coração da gente. O coração da gente tem que fazer eco com o da Terra.

O coração da Terra é sua cidade, seu bairro, quadra, rua, casa, quarto. É a cadeira onde está agora.

Viva esta experiência constantemente!!!


Saúde, amizade, liberdade

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

LIÇÕES DIFÍCEIS




Conta-nos textos inspirados que a Deusa era una no universo até que um dia gerou de si mesma Outro ser semelhante a Ela, mas diferente. Seu oposto e seu complemento. Ela o recebera primeiramente como Filho e depois como Amante. A partir então da união deles então surgem todas as coisas. No tempo certo, porém, seu Outro sucumbe e morre, retornando ao Ventre Sagrado. Mas não é o fim, porém, e sim um novo começo, renovado. O que seria um erro então se torna a salvação.


No Princípio

A Biologia reconhece este fato descrevendo uma das formas mais simples de reprodução é a divisão de si mesmo em duas partes. O único problema desta forma de reprodução é que ela não gera variedade, ou como gosto de chamar, aprendizado. Se todos forem iguais, todo sucumbem pelo mesmo mal.

Sem variedade só se tem a extinção. Mas então algo dá errado, e o que não programado acontece, surgindo alguem diferente. O fim chega somente para os que não se modificam. Quando esta mudança salva nossas vidas, nós a chamamos de evolução. Posteriormente inventamos o termo masculino e feminino, ele e ela. Mas biologicamente o masculino somente é um feminino diferente.


Tecnologia

Vivemos em uma sociedade onde dependemos profundamente de complexas máquinas. Quando pensamos em máquina, falo não só da calculadora ou do meu computador, mas de itens maiores como aviões, navios e redes elétricas.

Nossas primeiras máquinas, como lanças, fundas, arados facas de pedra também são formas de tecnologia, das quais tudo o que possuímos hoje descendem. Estes aparelhos nos permitiram sobreviver à Natureza que sempre exigiu seu quinhão de seus filhos.

Nossos remédios, instrumentos, máquinas e coberturas nos separaram gradativamente do mundo natural e aprendemos a criar outro meio-ambiente. Então despertamos nossa consciência, tomamos conta daquilo que chamaríamos de realidade. Apartados um pouco da Terra, apesar de para ela retornarmos e dela retirarmos nossa nutrição. E assim fazíamos com tudo a nossa volta: nossas casas, roupas e utensílios, tudo da terra nascia e para ela voltava.


Sociedade da saciedade

Mas a complexidade de nossa vida aumentou. E nossa separação também, afinal, nunca aceitamos o fim de nossa existência nem a dos nossos com bom grado. A morte nunca é bem vinda mesmo que inevitável. A separação do mundo veio a atender esta demanda, primeiramente: garantir uma existência mais estável e mais longa.

E quando conseguimos atingir um certo patamar de tempo de vida, nossa busca se direcionou para a saciedade dos sentidos. A sobrevivência estava assegurada, e era hora do prazer. Prazer nas artes, na convivência com o outro, conosco e com os bens que nos rodeavam.


Tudo que é de graça tem um preço

Como dito, a complexidade de nossas relações só aumentou, e a demanda pela segurança de uns e o prazer de outros só acompanhou. Ao mesmo tempo, o número de pessoas no mundo nos empurra em direção às fronteiras da terra, a conquistas de novos espaços e recursos. Pressionamos cada vez mais. Seguramos pelos pulsos Aquela que nos gerou e gritamos "mais, Mais, MAIS!"

Falamos todo dia nos jornais em "desenvolvimento". Achamos que as crises são desastres menores no caminho. Mas estamos desequilibrados, e mais agora do que nunca, porque somos muitos e nunca em nossa curta história estivemos tão distantes e violentos. Pequenos erros podem trazer grandes conseqüências devido a esta complexidade que criamos.


Perguntas Pertinentes

O fato que todo o desenvolvimento tem um patamar. E o que chamamos de crise é a volta do pêndulo. Cabe então a seguinte pergunta: * Demorará para percebemos que em muitos lugares do tempo e do espaço ou atingimos ou ultrapassamos os limites? * É possível aproveitar este recuo para aprendermos algo sobre nós e a Terra?