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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

DESAFINADO

E vem aí mais um final do ano civil e eu desafinando o compasso. Sim, porque enquanto todos se preparam para o novo ano, em mim as coisas ainda estão em andamento. Todo ano é a mesma coisa, rs! As pessoas me desejam Feliz Ano Novo e eu fico sem jeito para devolver o cumprimento. Para mim amanhã é simplesmente outro dia de verão.

Talvez seja isso. É toda essa agitação e calor que não convida ao recomeço mas a continuidade. Enfim... para quem segue o calendário, feliz 2011. E tenham paciência com este pagão bossa-nova, desafinado, que segue os solstícios e equinócios! Rs!


Post Scriptum

Só para lembrar que não sou o único fora do tom, trago uma matéria interessante pós-virada do jornal O Globo sobre outras culturas para quem o Ano-Novo já começou. Siga AQUI o link.


 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

VISÃO DO PARAÍSO


É uma tarde fria de verão, o que é estranho levando em conta as altas temperaturas registradas nesses últimos tempos. Tarde fria porque estamos no fim do dia, ou porque choveu, ou talvez porque o vento sul sopra da Argentina. Volto para casa de bike depois de um dia de trabalho.


Diante de mim, ao norte, a Serra da Cantareira está parindo nuvens. Quem mora perto de serras cobertas pelas florestas sabe bem o que é isso, quando as nuvens brotam das matas que as cobrem e rumam ao céu. E é poetico isso, não? Montanhas parindo nuvens... E a cena me levou a devanear.

Lembrei de um documentário que assisti esses dias chamado A Insolência Taliban. O título é auto-explicativo. Enfim, no correr do programa o narrador, conduzido por um soldado americano, entra em uma suposta célula de treinamento de homens-bomba. Ou o que sobrou dela depois dos ataques com mísseis inteligentes. Nas paredes sem teto de um certo cômodo com marcas de tiros existem algumas pinturas. O soldado explica ao narrador que chamam aquele cômodo de Sala do Paraíso por causa das pinturas na parede. 


Acredita-se que ali os homens-bomba e outras formas de terroristas eram doutrinados a aceitar a Outra Vida como prêmio pela sua imolação, pelo seu sacrifício, e as pinturas na parede fornecem uma ajuda, um reforço visual para estimular a imaginação das pessoas de como seria o paraíso prometido. E o que se vê nas pinturas?

As pinturas na parede daquele cômodo cravado no deserto amarelo eram de morros suaves, cobertos de verde e com casinhas brancas ponteando aqui e ali em meio a vegetação exuberante. As visões de paraíso daqueles homens desesperados por uma vida mais feliz são a minha realidade!


Levando em consideração o amarelo opressivo daquela paisagem deserta onde a casa e as pessoas estão imersas, morros verdejantes e nuvens carregadas de chuva são uma bela visão para um pastor ou agricultor.



Terra de Verão


Já para os Antigos de certas regiões das terras européias, o paraíso é Summerland, ou a Terra de Verão, uma ilha à oeste da Inglaterra também chamada de Terra das Maçãs (And yes, nós temos bananas também!). Isso sem falar na fantástica ilha de Hi-Brazil. E não é que aprendemos que nosso país era tido como uma ilha pelos antigos navegadores portugueses?

E ali, diante do trivial, percebi que o comum para alguns é o paraíso de outros. Agradeci a Deusa pela chuva, pelo verde e pela esperança que ela nos dá. Mesmo que não percebamos em nosso dia-a-dia (nem tão) atribulado.


E desejo que a paz chegue para regiões tão conturbadas do globo, para que as pessoas possam voltar aos seus campos e plantar e colher, sentar na soleira da porta e ver o sol cair no horizonte. São sempre os camponeses aqueles que mais sofrem com as guerras.

Que neste solstício possamos nos encher de energia para coroar de êxito nossa vida. Assim como a coroa solar reina nos céus.

Feliz Litha!


Sergio Thot




Post Scriptum


Leia AQUI outro texto sobre as Visões do Paraíso, no blog Além do Físico.

 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"O GRANDE PÃ MORREU!"

"Não quero saber se esta árvore é ou não amada pela Deusa. Fosse ela a própria Deusa e eu a abateria se se interpusesse em meu caminho."
Palavras de Erisíchton, antes de abater o carvalho dedicado à Ceres

Retirado d'O Livro de Ouro da Mitologia - Thomas Bulfinch

A primeira menção que li sobre a queda do Espinheiro em Glastonbury foi através da coluna Blogs Amigos, que mostra as últimas postagens de blogs com assuntos correlacionados a este. Quando li o título da postagem do amigo Rafael Noleto, pensei: não vou ler isso senão vou me chatear.

Mas o assunto era por demais relevante! Dias depois o blog Rascunhos de um Pagão, do amigo Roberto Quintas faz uma análise do mesmo assunto. Aí tive que ler ambos e realmente! O assunto me azedou a alma. Sugiro que sigam os links caso não tenham tido acesso a esta informação.


"O Grande Pã Morreu!"

Diz a lenda que no limiar do paganismo da Europa antiga, uma voz misteriosa fez ouvir gritando à plenos pulmões "O Grande Pã Morreu!" e que esta anunciaria o nascimento de um culto cujo os sacerdotes não admitiriam outras formas de espiritualidade. E assim se fez.

Leia mais sobre o assunto no blog "A Era da Filha", da autora Priscila Paixão.

De certo modo, a queda do Espinheiro de Glastonbury possui a mesma carga simbólica nos tempos atuais para as pessoas que o visitavam. Falo aqui de simbolismo porque o ato se deu às portas do solstício de inverno, o que não é pouca coisa.

Centenas de pessoas visitarão nesta época do ano sítios como Glastonbury, Stonehenge e outros para celebrar o nascimento do sol. Quem cometeu a ação o fez de caso pensado, não é possível!

O amigo Rafael chama o fato de vandalismo e acho que ele foi muito comedido. Vandalismo seria alguém escrever no tronco da árvore "John ama Mary". Somando todas as evidências chamo isso de terrorismo.


Budas no Afeganistão e a Gruta do Bosque Maia

Muitos não se lembram mas em 2001 a humanidade viu a estupidez vencer o valor histórico no Afeganistão. Sob a desculpa de ser uma "religião pagã", os governantes da época explodiram duas estátuas gigantes do Buda, datadas de 1.500 anos! É como se dinamitassem a Esfinge no Egito, ou o Vale dos Reis!

Minha cidade também possui seus radicais. Dentro do Bosque Maia existe uma gruta artificial sobre a qual depositávamos flores e velas após os nossos sabás públicos. Se era dedicada a alguma Divindade específica não sabíamos. Mas sempre que voltávamos lá alguns dias depois víamos que as velas eram derrubadas e as flores pisadas. Pequenos nichos onde devotos depositavam suas estátuas e velas também eram vandalizados. Infelizmente temos um longo caminho a percorrer neste sentido.


E agora?

Vamos chorar? Vamos! Depois vamos enxugar as lágrimas e plantar uma nova árvore nas proximidades da antiga. Que ela testemunhe centenas de solstícios como sua antecessora e que daqui a mil anos, dois mil anos as pessoas amarrem ao seu redor fitinhas coloridas e brincarão no vento como pipas.

E que nasçam centenas delas! Saiamos as ruas para plantar em cada espaço nossa árvore sagrada. Se o propósito era derrubar um símbolo o terrorista se lascou. Ele criou milhares! E que a fúria de Ceres o encontre, pois não dá pra ser bonzinho o tempo todo. Pã deve correr pelos bosques novamente, seja em Roma ou em turismo no Brasil, junto com Curupira, Saci, Boitatá e outros companheiros.

Este é meu profundo desejo.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

VÁ DE GALINHA!

Geralmente vou de bike até o trabalho (Aeroporto Internacional de Guarulhos - 6km), mas por conta das aulas de inglês que frequento em alguns dias da semana no centro da cidade e a extensão do trajeto, acabo pegando ônibus. Eis que surge na rodovia Helio Smith, na volta da aula do dia, o outdooor bem-humorado da campanha Vá de Galinha realizada pelo SOS Mata Atlântica. Clique na imagem ao lado para maiores detalhes.

A campanha ironiza a demora na construção da sfamosas linhas de trem que ligarão a cidade e o aeroporto a malha ferroviária da capital. São elas as linhas 13 - Jade e o Expresso Aeroporto. Tomara que 13 seja nosso número de sorte. Veja aqui o projeto do Trem de Guarulhos/Expresso Aeroporto em PDF.

Bem, se observar o ritmo das obras das linhas dos trens prometidos ao Aeroporto de Guarulhos, o maior do país e que receberá uma população-monstro para a Copa e as Olimpíadas, parece-me que vão faltar galinhas.


Navegar é preciso

Viajei para Porto Alegre em novembro e fiquei bestificado. Não só pelo belíssimo centro histórico da capital gaúcha que visitei pelo city tour, mas pelo fato de que havia uma estação de trem bem na porta do aeroporto que leva a população não só no eixo norte-sul da cidade, mas também para as cidades vizinhas!

Guarulhos, com uma população um pouco menor e estrategicamente colocada entre três grandes rodovias (Dutra, Trabalhadores e Fernão Dias), mais o aeroporto, está à mercê de ônibus lotados na hora do rush e de corridas de R$100,00 de táxi até capital. Somos governados pelo motor à combustão.

Haja visto a solução do governo federal na gestão anterior para a última crise econômica: reduzir o IPI e produzir mais carros! Tá certo! Nos comerciais os veículos trafegam gostosos em ruas vazias e sem buracos. Mas ao vivo... ao vivo é muito pior.

Quando tirar seu bibi-fonfon da garagem de manhã e fazer aquela rápida ida à padaria, experimenta trocar seu possante por uma galinha. Quem sabe não é melhor!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DA ANTIGA EUROPA AO MORRO CARIOCA


"A ausência de evidência de violência no período neolítico é tão completa que chega a ser quase inacreditável. Nos locais em que os escavadores encontraram sepultamentos em massa, seja de grandes comunidades ou de pequenos grupos durante um longo período de tempo, virtualmente nenhum dos corpos mostra qualquer sinal de morte violenta. (...)

"A evidência da não-violência vai além das mortes individuais. A cidade neolítica  escavada próximo à Çatal Hüyük, em Anatólia, na Turquia (em geral chamada simplesmente de Çatal Hüyük), é uma das cidades mais antigas do mundo, datando de 7250-6150 a. C. O arqueólogo James Melaart encontrou evidência de 800 anos de habitação contínua. Nenhuma vez o registro arqueológico mostra sinais de um saque ou de um massacre - nenhum em 800 anos."

Da obra O Corpo da Deusa, de Rachel Pollack

Não é de hoje que as pessoas simples, que mourejam sob o sol sofrem na mão de hordas violentas. Segundo várias pesquisas uma civilização não violenta residia no chamado Crescente Fértil durante o período neolítico em uma área que ia dos atuais Iraque até o Egito, passando pelo litoral mediterrâneo. Saiba mais sobre a milenar cidade clicando AQUI.

Composta por fazendeiros (Pagãos? Camponeses?) foram os grandes inventores da humanidade pois a vida fixa na terra permitia a reflexão sobre as questões práticas da existência. Quando temos segurança em todos os aspectos de nossa vida ganhamos tempo ocioso. Com este tempo pensamos em modos práticos de melhorar o que já está bom: o cálculo, a escrita, a agricultura e suas ferramentas, a metalurgia, a cura. Sabe o que acontece? Mais tecnologia, mais segurança e conforto. Então surgem mais pessoas e as aldeias viram cidades.

Neste berço esplêndido supõe-se floresceu uma religião matrifocal, se não matriarcal, dirigida à terra e a sua manutenção. Há quem sustente que no neolítico vivemos o período da Religião da Deusa.

Mas como tudo que bom só dura algumas centenas de anos, tribos do norte, os chamados indo-europeus, ocuparam pela coerção estas regiões e se estabeleceram em definitivo. Era o fim da paz na terra entre os povos de boa vontade. Como a vida é cíclica, a gente sempre vê as coisas acontecerem de novo e de novo.


Ocupe seu lugar no espaço

Tal-qual os povos invasores da Antiga Europa, durante décadas assistimos os morros cariocas e as favelas paulistas serem tomadas por um novo tipo de conquistador no espaço deixado pelo Estado. Lembre-se que a natureza detesta espaços vazios e que se há um vácuo de poder ele TEM que ser ocupado, seja pelo poder do Estado, a organização do cidadão ou a ação criminal.
Seja no Complexo do Alemão, na praça perto de sua casa, aquele terreno baldio ou casa abandonada, o espaço nunca fica vago por muito tempo. Então cabe a uma destas três forças (O Estado, o cidadão ou o crime) a ocuparem, sendo que só duas delas possuem o monopólio da violência. A guerra de ocupação que testemunhamos pela tevê ou mesmo ao vivo (Deusa, se compadeça destas pessoas) é uma amostra do que acontece quando a organização popular deixa seu mundo à deus-dará.

Que Têmis restabeleça a ordem quando as Erínias cumprirem seu papel. Caso queira fazer um pedido especial a elas, vou lhe dar um combustível emocional.