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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

BORBOLETAS E MACHADOS


Há uma linha de raciocínio interessante ligando um inseto ao Sagrada Feminino na Ilha de Creta, exposto no livro "O Corpo da Deusa" de Rachel Pollack (Ed. Rosa dos Tempos). Mas antes de tratarmos deste assunto, necessita-se pousar o olhar sobre o conceito do símbolo e do objeto para continuarmos.


Um dos prováveis abismos que separa o homo sapiens das outras espécies é sua capacidade abstrativa, de imaginar algo que ainda não existe. Esta qualidade nos capacita a prever situações perigosas ou vantajosas à 300.000 anos, e nos oferece subsídios para criar em nossa mente e depois no mundo material, toda a sorte de coisas, de residências a ferramentas, pontes, carros, aviões, naves espaciais.


E também arte.


E o que é arte?


Entendo como Arte toda a obra humana que vai além do princípio utilitarista, do mero servir para um propósito concreto, e que nos dá um conjunto de sensações diferentes daquilo que o uso do objeto propunha inicialmente.


Veja AQUI outras definições do que é a arte.



A arte no Neolítico

No período que os historiadores chamam de neolítico, o sapiens viveu o auge da explosão criativa humana, notadamente na Europa e Oriente Próximo. Ora, arte não tem definição precisa, mas é algo que faço em meu tempo livre (isso quando não possui função devocional ou laboral), onde reproduzo no físico algo que só a mente abstrata consegue abarcar.

É comum pensarmos nestas pessoas como seres rudes e incultos, mas locais como Lascaux, na França, provam que a arte não só lhe era familiar como também necessária. Nas cavernas francesas encontramos representações de animais de até quatro metros de altura! Para realizar tais obras, comparáveis ao meu ver as obras da Capela Sistina de Michelangelo, estas pessoas tinham que construir andaimes, dominar técnicas de pintura e ter senso estético apurado. Tinha que dispor de tempo e energia para buscar materiais, escolher o tema e a melhor superfície para pinta-la, e fazer o trabalho. 

E a construção do símbolo é um componente principal da criação artística.


O Machado Duplo

E então entramos no tema principal do texto, que é a criação artística dos machados duplos cretenses. Podemos pensar neles como meros instrumentos de corte para trabalho ou mesmo em um eficaz instrumento de guerra dos tempos anteriores ao uso da pólvora, mas seu aspecto simbólico neste caso soa mais forte.


Onde hoje é a ilha de Creta fora o berço de uma grande civilização ocidental. Antes da invasão e/ou absorção pelos povos indo-europeus caçadores, supõe-se que viviam na região um povo adorador do Sagrada Feminino. Registros arqueológicos apontam que o local vivia em relativa prosperidade e era, de modo geral, pacífica devido a ausência de construções de defesa.

Comerciantes, mantinham contato com povos próximos no próprio Peloponeso e na Sicília. Sua cultura cai com a ocupação dos aqueus e a posterior invasão e/ou absorção dórica. Sua principal cidade fora Knossos.

Em diversos pontos da ilha encontraram-se machados duplos, mas ao contrário do senso comum, não há evidências mostrando que fossem armas de guerra. Aparentemente eram objetos dedicados a Deusas locais. Chamavam-se labrys. Ora, a palavra labrys, segundo a autora Rachel Pollack está relacionado a 'labia' ou lábios da vulva.

Nestes machados duplos, variáveis em tamanho, encontramos gravados imagens de borboletas que também se assemelham aos genitais femininos.

As Borboletas

Curiosamente a raiz grega para a palavra borboleta remete a palavra 'alma', ou psyche. Psiquê, para os gregos, foi uma Deusa que rumou ao submundo (inferno, inconsciente), local presidido por Hades e principalmente Perséfone. Esta Deusa (segundo Pollack, 'aquela que luta na escuridão') fora raptada por Hades com a permissão de Zeus, mas encontrou na situação seu próprio poder.

E não emergem as borboletas da morte quando saem de suas crisálidas?


Conexões

Deméter, senhora das plantas selvagens e mãe de Perséfone, só tomou conhecimento do rapto (ninguém tinha coragem de contar-lhe temendo a ira de Zeus) por intermédio de Hecate, senhora da Lua.

Observem a sutil conexão entre todos estas grandiosas Deusas! Não busquem entender, mas sentir. Leiam as histórias, procurem imaginar seus papéis segundo as mulheres modernas e suas lutas diárias. Aprendam com elas sobre seus mistérios e símbolos. E aqui retornamos ao princípio, como na espiral.

O símbolo é altamente plástico, como vimos. É preciso vivê-lo para compreende-lo. Apenas lhe apresentei as peças do quebra-cabeças cuja a imagem muda conforme o observador, a cultura e o tempo.

À propósito hoje, por exemplo, o
labrys é um símbolo feminista. E o athame deixou de ser um mero punhal e é parte integrante de muitos rituais pagãos.

Maravilhoso, não?

Perguntem sempre, pesquisem mais, vivam a Religião!

Saúde, amizade, liberdade.


Sergio Thot (siga-me no Facebook!)

domingo, 26 de agosto de 2007

DA PERCEPÇÃO & CONSCIÊNCIA


Tudo é estranho e maravilhoso,

para pupilas bem abertas.

Ortega y Gasset

Como você vê o mundo? Como sente as coisas?

Estas perguntas são altamente pertinentes não só para os pagãos, mas para todos os humanos. Vejam: um gato quando nasce já se percebe como gato. É de seu instinto, e destino.

Mas nossas limitações humanas, ao contrário, não impedem o aperfeiçoamento para além da simples evolução das espécies. Uma mulher ou homem pode superar seus pares em força, inteligência, beleza ou rapidez. Basta que ela ou ele se reconheça, se perceba.

O bruxo ou bruxa precisa reconhecer Quem É, De Onde Veio, Para Onde Vai e O Que Fará Quando Lá Chegar. E mais! Ele ou ela vê as limitações e qualidades em cada ser que percebe em seu torno. É aí que mora a magia.

Costuma-se achar que o ato mágico depende do acúmulo que grande energia para se realizar. Queremos crer que o suor brota sim na procura que fazemos para encontrar o ponto onde tudo faz a diferença, o calcanhar-de-aquiles de nosso problema, do ponto onde podemos colocar a alavanca e mover o obstáculo de maneira segura e fácil.

Energia se gasta na preparação, no ato filosófico, na tentativa e erro, no teste e treino, na troca de experiências, no convívio equilibrado com nossos semelhantes.

Foque no que é importante. Saiba o que é importante.

Saúde, Amizade, Liberdade

S. Thot

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

TUDO FLUI


O Rio Nilo, nascido das chuvas periódicas em pleno coração africano e que ruma ao norte, para o Mediterrâneo, testemunhou o surgimento do primeiro Grande Império da História humana. Identificado pelos egípcios como Osíris, o rio Nilo desafiava o deserto em suas cheias anuais. O deserto era visto pelos lavradores como a personificação de Set, seu irmão e rival. As margens que naturalmente se inundam eram dedicadas a Ísis, a Grande Mãe. Poderoso, Osíris também fecunda Neftis, a faixa de terra que suas águas não alcançariam naturalmente, mas que se beneficiam com os canais de irrigação construídos por esta engenhosa nação. Não é exagero afirmar que sem o Nilo não haveria o Egito nem do passado e nem do presente.

Nos tempos atuais, o Nilo sofre com a poluição e obras realizadas em seu leito. Nos anos 60 iniciaram-se as obras da represa de Assuã, cujo lago entre outros problemas pôs em risco importantes relíquias arqueológicas, além de sua eficiência estar aquém das expectativas. Chamam isso de progresso. Será?



E na Terra Brasilis?


Olhando com atenção, há em nossa região paulista um rio cuja as dimensões modestas em comparação ao majestoso rio africano, mas que não eclipsam sua importância. O nosso Rio Tietê, correndo contra o Atlântico desde a Serra do Mar, alavancou as entradas e bandeiras sertão a dentro. Mas centenas de anos antes, servia aos povos autoctones desta terra como via transporte e ligação. Observando o mapa do estado, não é exagero que o rio corta quase que simetricamente, ou antes, o Rio Tietê é a régua, o compasso e esquadro que desenhou o mapa do Estado de São Paulo.

Sinuoso próximo à capital até os primeiros viviam livres da cidade que ajudaria a parir. Hoje São Paulo o espreme em apolíneas retas de concreto, escuro e mal-cheiroso. Chamamos isso de progresso. Será?




Reduzindo ainda mais as proporções mas não a importância do assunto, encontramos em nossa cidade o Rio Baquirivu-Guaçu. Nascido em uma cidade vizinha (Arujá), e que cruza a cidade rumo ao Tietê. Como outros rios de nossa cidade, até os anos 50 o Baquirivu possuía a águas limpas e não raro, férteis em vida.

Com a forte urbanização da cidade e a construção do Aeroporto Internacional de Guarulhos a partir dos anos 80, a ocupação intensificou-se de maneira assustadora. Ao atravessar suas margens usando a ponte da Camargo diariamente, constato que além dos poluentes diluídos (esgotos não tratados de indústrias, comércio e residências), o descaso de seus filhos faz com que sacos de lixo, garrafas PET, animais mortos e até móveis inteiros bóiem em suas águas, nos períodos de seca ou chuvas.

Assoreado pelas construções irregulares nos bairros vizinhos e ameaçado pela ampliação do aeroporto, o Baquirivú pede socorro. Chamamos isso de progresso. Será?

Em 22 de abril tivemos o Dia da Terra (curiosamente também é o dia que os antigos povos dedicavam a Isthar). Menos a comemorar e mais para determinar quais são nossas responsabilidades com o local em que vivemos, amamos, lutamos, rimos, choramos. Um dia para refletir para algo além de nosso umbigo.

Precisamos nos lembrar do era bom, sem perder aquilo que já temos.






Como canta Louis Armstrong:

Rio da Lua,
Mais largo que uma milha
Eu o atravessarei
Com elegância,algum dia
Oh, seu ilusionista,
Seu partidor de corações
Onde quer que você vá
Eu irei

Sim, isto é um convite. Você vem?


Sergio Thot


domingo, 19 de agosto de 2007

PODER OU DEVOÇÃO





Quando as pessoas me perguntam como fazer para ingressar na Religião, a primeira pergunta que faço é: pra quê? A resposta quase invariavelmente é: para fazer magias! É muito estranho isso, essa coisa utilitarista do Divino, algo criticável também em outras formas de culto que fazem do púlpito um local de barganha entre Deuses e humanos.
Se analisarmos a religiosidade do ponto de vista cultural e histórico, veremos que nós humanos nos relacionamos com as Divindades de modos diferentes com o decorrer das eras.

E não seria diferente, pois isso se baseia no modo em que percebemos e vivemos no mundo.
Uma das provas disso está no fato de que mesmo as grandes religiões deixaram de lado muitas práticas que lhe eram corriqueiras, como holocaustos de animais em honra aos Deuses. Estamos prontos hoje, já que temos uma autonomia maior em relação a Natureza e aos elementos, para desenvolver uma relação menos infantil e mendicante com os Deuses. Então chegamos ao uso da magia e afins...


Magia: Como e Porque Usar


Li certa vez, no livro de um autor pagão que gosto muito chamado Scott Cunnighamm (Magia Natural: rituais e encantamentos da Tradição Mágica; pg. 28; Editora Gaia) que a eficácia do ato mágico depende de três fatores fundamentais:


*Necessidade


*Conhecimento


*Emoção


Nesta obra é comentado um fato interessante: desejo e necessidades não são coisas iguais, e que se deve buscar no fundo da alma sua diferenciação. "Um desejo é um capricho", pontua o autor. Até que ponto a busca (e até a confusão que se faz entre Magia e Wicca) de poder não liga-se ao puro desejo de fazer pirotecnias?


Trabalho Duro

Nesses tempos de internet, todos querem tudo na mão, né? Mas as coisas realmente importantes tem ser merecidas. Mesmo os Deuses sabem disso. Haja visto Odin, que para obter sabedoria deu em sacrifício (sacro ofício, santo trabalho) um de seus olhos. De outra feita, pendurou-se na Árvore da Criação para obter o direito às Runas.

Seja no mundo espiritual, seja no físico, não existe essa de almoço grátis. Tudo tem um valor. Tudo merece sua dose de sacrifício.



Viver em Comunidade

O objetivo da Religião é a religação do ser humano com algo que está além dele e de qualquer explicação racional. E Religião pede sacerdócio. As pessoas que buscam a Wicca, e por extensão, uma iniciação, têm que compreender esta verdade básica, que elas se preparam para viver em comunidade, e ajudas-la em suas tensões e passagens.


Afinal, quem os casará? Quem apresentará seus filhos aos Deuses quando nascerem? E quando morrer, que sacerdote dirá palavras de consolo e fortaleza a nós, que ficamos? O padre católico? O pastor protestante?


No Mundo Real


Trabalho com evangélicos, católicos e ortodoxos. Nosso convívio é muito bom, uma vez que o germe evangelizador deles morreu quando suas tentativas de me transformar em varão da igreja não surtiram efeito.
Isso porque perceberam que a paz que eles achavam que só existiam em suas agremiações religiosas estava em meu coração também.

E é este o grande lance: o encontro do equilíbrio interior. Eu simplesmente estou saciado e foi percebido que ofereciam a Água da Vida deles para quem já não tinha mais sede desta fonte.
Apesar das diferentes sendas todos buscamos esta paz. O cara em cima do palco quer algo mais, é verdade. Mas o seguidor no "chão de fábrica" só quer achar seu lugar no mundo.

Todos só queremos achar nosso lugar no mundo. Os athames, cálices, magias&encantos e mantos ornamentados são só fetiche.
O que realmente importa é imaterial. Nos buscamos o Contato. E este contato, acredito eu, se dá com o Divino que mora aí, em seu coração. É através de você que os Deuses se manifestam. Eles sussurram, dia após dia, conselhos para uma vida equilibrada. Quem quiser poderes, quem se inebria com os fetiches que os instrumentos mágicos criam, se perderá na jornada labiríntica, ficará com medo e parará na porta de igreja que achar aberta.


Vencer o Medo


Me veio a mente uma cena de Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas (Tim Burton)

A Roda do Ano, pontuada pelos Sabás, nos conta a história de como o Divino através do Amor, reduz a pó o terror da Morte. Gente, isso não é pouco e vou explicar!
Imagina assim: você rala o ano inteiro no seu emprego, dá o sangue e não tem o reconhecimento merecido. Seu coração sabe que o merece e que sua empresa é capaz de faze-lo. Mas as empresas são feitas de homens e suas imperfeições. Cabe a você então dar o primeiro passo.

E aí entra o medo, principalmente o medo do desemprego por colocar pressão em um ponto tão sutil de sua carreira.
O medo nos conduz a estagnação. Agora pense como um pagão que compreende a sutileza dos ciclos. Você compreende que a morte não é o final e que pode ser vencida, que existe a promessa de Retorno.

Agora, eu te pergunto: quem vence o medo da Morte tem medo de desemprego ou de qualquer outra coisa?


Pense nisso! Abençoado Seja!
E segue a sequencia do filme do Tim, só para relembrar...


Sergio Thot.





sexta-feira, 17 de agosto de 2007

OMPHALOS - UMBIGO DO MUNDO





Façamos um experimento você e eu.

Com o dedo indicador localize seu umbigo e toque-o. Sabia que ele está localizado próximo ao nosso centro de gravidade, o local onde corpo encontra o equilíbrio com a gravidade, esta força que nos mantém aterrados no planeta? Os conhecedores das artes marciais como o judô sabem disto muito bem. O umbigo é o alvo, ponto de apoio da alavanca que pode nos levar ao chão quando aplicada a força necessária nesta parte de nosso corpo.

Pelo mesmo umbigo recebemos o alimento precioso no sangue de nossas mães nas primeiras fases da vida durante nove meses. E pesquisando me deparei com uma coisa que eu ignorava totalmente, um verdadeiro milagre! Deveria haver um combate de células brancas no útero entre a mãe e seu filhote, pois os corpos do filho e da mãe possuem sistemas imunológicos diferentes. No entanto o milagre reside no fato deles coexistirem em harmonia por quase um ano! Ligados pelo cordão umbilical, ambos os corpos convivem até o momento de nascimento. Saiba como o milagre acontece neste artigo da revista Ciência Hoje.


Cortando o Cordão

Quando nascemos para o mundo o cordão é cortado para que uma vida surja, representando que agora somos uma pessoa independente, separada de nossa mãe, e que estamos por conta própria. A cicatriz que temos na barriga é um sinal que tivemos mãe, que não nascemos de chocadeira, rs! Na psicanálise, autores como Erich Fromm usam a analogia do umbigo para discorrer sobre a ligação simbiótica, fanatismo religioso e nacionalismo. Um termo popular sobre a obtenção da independência fala justamente sobre "cortar o cordão" que nos liga a situações negativas.


Se olharmos a nação, a cultura, o povo como uma grande Mãe nosso umbigo, essa cicatriz que carregamos por toda a vida, é a saudade, palavra que não tem tradução em muitas línguas mas que expressa a sensação de separação do corpo, seja a vila, cidade ou nação que nos nutriu e acolheu. É essa cicatriz na alma, algo que levamos em nossas aventuras mundo à fora e que inspiraram poetas-aventureiros como Luís de Camões:

"Ó gente que a natura / Vizinha fez de meu paterno ninho,
Que destino tão grande ou que ventura / Vos trouxe acometerdes tal caminho?
Não é sem causa, não, oculta e escura, / Vir do longínquo Tejo e ignoto Minho,
Por mares nunca doutro lenho arados, / A Reinos tão remotos e apartados."

 



Umbigo do Mundo


O conceito de Umbigo do Mundo, de Onfalos é antiquíssimo e, para nós que absorvemos os costumes ocidentais, o mais famoso é o de Delfos, na Antiga Grécia. 

O antigo povo grego que enxergava-se como uma nação apesar de se dividirem em cidades-estado, assim como um corpo se divide em órgãos diferentes mas que vivem em uma realidade comum. Esta noção de nascimento coletivo que a cultura grega dá a si mesma, este local onde o corpo da nação conectava-se ao corpo divino e faz um povo se considera filho dos Deuses, este lugar de nascimento, este cordão que liga o secular ao divino  tinha (e tem) um nome. Chama-se Delfos, uma cidade grega que atravessou os séculos.

A história do lugar inicia-se nas brumas do tempo, onde os Deuses lutavam em batalhas titânicas pelo poder. 


Cronos tinha o hábito ruim de devorar seus filhos afim de se perpetuar no trono sobre os Titãs e toda a criação. Réia, a Deusa-Mãe, cansou-se disto. Enganou o Deus dando-lhe uma pedra para este comer e criou seu filho Zeus escondido. Quando a criança cresceu, destronou o Pai, salvou seus irmãos e fundou a cidade com a pedra expelida pelo Deus deposto.


Delfos para os gregos era o centro Universal por causa da importância histórica e mitológica que tinha para seu povo já que ali fora palco de uma luta de Titãs!

 Assim nasceu uma nova classe de Deuses, os Olímpicos, e a cidade de Delfos, fundada pelo próprio Zeus.


O Oráculo 

A derrota dos Titãs ecoou também no mundo humano. Na região de Delfos existia um templo dedicado a Píton, a Grande Serpente da era dos Titãs. Nela as sacerdotisas sentadas sobre os vapores imanados do útero de Gaia realizavam previsões para quem as pedisse.

Com a derrota de Cronos, Zeus incorpora o Oráculo ao seu domínio, permitindo que Apolo matasse Píton e se apossasse do templo. Apesar do novo templo ainda utilizar das sacerdotisas, as Pítias, para as profecias na era apolínea, curiosamente as mulheres gregas não podiam consulta-las.
  

O poder do Oráculo de Delfos sobre o imaginário grego era tão grande que, para conquistar o coração da população, precisava-se conquistar o Oráculo. No local realizavam-se profecias sobre pessoas e nações, e mesmo gentes de outras terras (até inimigos dos gregos) recorriam aos seus serviços. De lá, supõe-se, saiu a famosa frase "Conhece-te a Ti Mesmo".

A cidade moderna de Delfos ainda existe, mas o templo encontra-se em ruínas após as idas e vindas de exércitos e religiões. Porém os que sabem sua história podem sentir o poder que emana daquelas rochas. Se um dia você visitar a Grécia, escreva uma prece por mim e coloque-a sob uma pedra para que Gaia saiba que mesmo não sendo gregos nós ainda a lembramos e reverenciamos.


O Centro de meu Mundo!

Acho o pensamento de ter minha cidade como centro do Universo muito interessante, assim como Delfos foi para o povo grego antigo. Além de partir de um pressuposto lógico: se olho ao redor, tenho a percepção de que o mundo gira ao meu redor. É aqui onde sou alguém fora do útero familiar.

Quando cuido da minha cidade, lugar onde moro, onde tenho meus amores, minhas frustrações, minhas alegrias, onde bebo, como respiro, estudo, trabalho, moro e durmo, cuido também do Universo, pois minha cidade, minha casa, meu corpo é parte dele. De onde retirar força senão do meu local de poder?

Quanto mais conheço, mais amo e sinto sua importância, pois o limite citadino determina também o limite de minha segurança e bem-estar, pois fora da cidade encontrava-se o deserto e floresta, berço de mistérios. Não sentimos um certo desconforto ainda hoje quando saímos para um lugar desconhecido?

Do mesmo modo que o conhecer a mim mesmo revela também o quanto sou parecido e diferente do outro, e de como somos únicos na Criação.

Conhecimento: conhecer nosso corpo, nosso passado, nossa cidade, nosso irmão, nossa irmã, nossos Deuses... O que nos retorna ao tema central, que é o nosso centro, nosso umbigo. Nós nos conhecemos?

Onde é o Umbigo de seu Mundo?

Pense nisso


Post Scriptum:

Leia também um escrito da amiga blogueira d'além mar, Hazel, e seu respirar pelo umbigo.



Sergio Thot

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

DO GRUPO DE ESTUDOS




Coisas que são necessárias para um grupo de estudos pagão bem sucedido:

*dia
*hora
*local
*participantes
*responsável
*calendário
*relação de assuntos


Dia
Muitos trabalham e só tem o fim-de-semana para dedicar ao grupo, então ou é sábado ou domingo.

Hora
Depois do almoço é legal, tipo 14h00. Já saiu o almoço e fez-se a "social" com a família. Lembrete: no dia anterior ao grupo não tem balada! "Ressaca" e estudo não combinam!

Local
Tem que ser um ponto central a todos, com privacidade e, de preferência coberto. Se o fizerem a céu aberto e chover, "babau"!

Participantes
Garantido tudo isso, chamem as pessoas. Vejo muita gente nas comunas do orkut, por exemplo, chamando primeiro as pessoas e organizando depois os itens acima. Isto cria uma expectativa e, com a demora, esta se torna frustração.

Responsável
Se o encontro for em local fechado e público, às vezes são necessárias autorizações para uso do espaço. Isto significa documentação simples. Aqui em Guarulhos, isto fica a meu critério quando realizamos encontros no Bosque Maia (http://www.guarulhos.sp.gov.br/ ) . Vou até a prefeitura, peço o espaço, dou as datas e digo o porquê de usa-lo (para não estender o assunto, digo que é para realizar exercícios de meditação e relaxamento, o que é verdade!)

Calendário
A primeira reunião marca a abertura. O responsável pelo encontro pode oferecer datas possíveis para os novos encontros, baseado nas dificuldades encontradas na obtenção do espaço. Aqui, a questão é técnica, pois também envolve a disponibilidade de cada um!

Relação de assuntos
Ideal, pois dá parâmetros daquilo que se estudou e se estudará! Pode ser por tema (ex.: Sexo & Bruxaria) ou livro (ex.: A Religião da Grande Deusa). Material escrito e xerocopiado a todos, sim? E não só cópia de sites, mas também a própria visão dos temas, sua opinião e entendimento.

Acreditar
É essencial crer no que se faz!!! Muitas vezes somos acometidos por nossos piores temores, geralmente na véspera do ritual. Pensamentos como "ninguém virá", ou "vai chover", ou "devia ter divulgado melhor" são fantasmas gigantes que chegam para nos assombrar. E não há nada que se possa fazer a não ser o que estava previsto. Portanto, independente de todos os medos, saia de casa! E mesmo que apareçam poucos, ou ninguém, nunca se está só. Pois outros se reúnem conosco, seja no passado ou no futuro. Neste ou em outro país. E todos nos encontramos no Entremundos!

A importância de estar junto
Juntos aprendemos melhor porque somos motivados pelo outro que nos acompanha e deseja aprender aquilo que desvendamos. Juntos somos como brasa, e nosso destino é ardemos até às cinzas, e não sermos pedaços frios de carvão!

Problemas
Nem tudo é flor no grupo de estudos pagão. Guerras de egos dos próprios membros, fanáticos na porta dos encontros, medos infundados, pressão familiar de quem vive com os pais, possível perseguição ou chacota de amigos ou empregadores.

São coisas a se pesar na balança, não? De certo, o organizador viverá estes problemas agora ou no futuro. Tenha tudo documentado, mesmo as reuniões mais bobas. Seja claro e sucinto nas discussões, sem espaço para "emocionices". Faça tudo de modo juridicamente legal, para que não haja problemas futuros com administradores de parques, pais aflitos ou polícia.

Sugestões de leitura
Faço estas sugestões baseados em um grupo de estudos misto, contendo iniciantes, pessoas já apresentadas ao Paganismo e outras já experimentadas. Como sou wiccano, tenho estes autores como referência.



Espero que estas informações tenham sido úteis!



Visite também outra postagem sobre o assunto neste blog: Os Três Melhores Amigos do Grupo de Estudos!


Vamos nos reunir, bruxos de Guarulhos!

Saúde, amizade, liberdade.


S. Thot.

sábado, 4 de agosto de 2007

DA MAGIA





Magia é um ato deliberado ou não que produz resultados usando instrumentos como odores, cores, formas, símbolos, gestos, palavras escritas e/ ou faladas, etc.

Atente para o fato de que ela, quando feita com intenção exige de seu executor diversas qualidades. São elas capacidade, disponibilidade e responsabilidade. Isso por ser longa e trabalhosa a obtenção de conhecimento mas também porque confeccionar um ato mágico exige esforço físico e vontade férrea. Vamos enumerar as qualidades.

Capacidade, pois necessita de concentração e conhecimento mágicos.

Disponibilidade, pois pede regularidade e local propício para execução.

Responsabilidade, pois uma vez iniciado, os rituais seguem até o fim.


Sim, rituais! Como wiccano, acredito na magia dentro de um contexto religioso. Aliás, a medida que fui entrando cada vez mais dentro dos ciclos do Sol e da Lua, percebi que em muitos casos podemos nos antecipar aos fatos através da leitura dos sinais que a vida nos dá e assumindo assim a responsabilidade de nossas vidas.



Sendo assim, para quê criar magia para obter emprego se aprendo a olhar o cenário político e econômico de meu país e enxergar as tendências para o futuro e me posicionar nele quando as coisas acontecem? Para um observador desatento parecerá mágica, como um dia pareceu para mim também. Mas na verdade é pura observação e ação sobre o que vi adiante.

Voltando a mágica, não se preocupe com a instrumentação: o corpo, vontade, terra de jardim, sementes, além de alguns elementos simples como papel e caneta, bastam quando se é um bruxo.

Aliás, simplicidade é a palavra-chave. A base desta magia consiste no uso de coisas de nosso cotidiano. Isso transforma nossa rotina, pois alteramos a nossa percepção, além de trazer para o sagrado coisas de nosso dia-a-dia, nos conscientizando.

Isso o torna mágico como deve ser.
Como mostra Uau Disnei, não há caminhos fáceis para o verdadeiro poder.


Saúde, amizade, liberdade




Sergio Thot.


quinta-feira, 2 de agosto de 2007

SOBRE O CULTO





Começo este texto com uma estorinha que vivi em uma sexta-feira dessas. Ia eu trabalhar quando recebi uma carona de uma colega de trabalho, seu marido e um amigo deles. Acomodado no veículo, seguimos viagem. Como de costume, tentei me "aclimatizar" com o ambiente (adaptei este termo para afirmar quando chego em algum lugar estranho e observo as pessoas para definir quem são e o que pensam). Fiquei quieto e observei as pessoas conversando para saber qual seria o tom do assunto. Saber ouvir é tão importante quanto saber falar!

Descobri que o amigo era evangélico, assim como o casal, e que a carona interrompera uma conversa sobre dedicação aos cultos por parte de outros irmãos. O tal amigo indignara-se pelo fato de muitos frequentadores de sua denominação religiosa iam à igreja somente uma vez por semana! Para ele, igreja aberta é um convite ao culto. Ah, ele não conhece os wiccanos!


Hedonismo?

Viajando pelo Orkut, deparo-me com depoimentos onde as pessoas se queixam de falta de tempo para realizar rituais, mesmo que solitários, ou participar de grupos de estudo ou encontros, mesmo que esses eventos sejam mensais, semestrais ou anuais.

O que me faz pensar: será mesmo a falta de tempo a grande vilã pelo vácuo de constância nos cultos aos Deuses?

Quando dizemos que não temos tempo, afirmamos que algum aspecto de nossas vidas faz com que evitamos cultuar nossas Divindades como se deve. A questão aqui é saber se nosso estilo de vida é danoso ou não a nossa vida espiritual. E avaliar se o que fazemos é o que queremos para nós. E qual é o papel da Religião nisso tudo.

Sim, sabemos que a Wicca tem como base fundamental o livre-arbítrio, porém, ela é uma Religião como outra. Um culto não se mantém de pé sozinho, mas necessita de pessoas que o sustentem. E isso só acontece através do culto regular. Não são os cursos, os livros, blogs ou os sites que formam um pagão, mas a prática daquilo que sabe, assim como não é a CNH que diz se sou ou não um motorista, mas também o fato de dirigir um veículo com alguma regularidade, habilidade e responsabilidade.

Se após uma verificação sincera, você descobrir que não possui tempo pra o culto, é melhor observar seu modo de vida. Pois você leva uma rotina escrava ou distraída do culto.

E será preciso a tomada de posições.




Saúde, amizade, liberdade.


Sergio Thot