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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

DO SER




"Eu sou a Deusa de tudo o que vive"


Trecho d'A Carga da Deusa, de Doreen Valient

O que é Ser? Como é que eu sei que eu existo? Existir é ter participação no mundo físico, no mundo concreto, mas o Ser vai além disso. O Ser mora no campo das idéias, do abstrato. Ser é ter, mas também Ser é Fazer.

A não-percepção disso configura um obstáculo que atravessamos e que, quando alcançado,  possibilita sermos os filhos maduros da Criação.


No Passado

Segundo a obra Mitos Primais, da escritora Barbara C. Sproul, a tomada da consciência é um processo doloroso, tanto física quanto intelectualmente e isso fica evidente após o estudo das mais variadas nuances culturais humanas. Em boa parte delas existe a descrição de uma gênese impecável feita por um Deus/ Deusa/ Deuses em geral bons, onde a primeira fase da raça humana vive uma pré-existência pura e perfeita. Mas algo realiza uma perturbação na ordem em determinado momento e um herói (ou vilão, dependendo de quem olha) provoca a ira Divina.


Prometeu é punido por Zeus a ter seu fígado devorado por um pássaro devido ao roubo que perpetrou quando se apossou do fogo dos raios divinos para traze-lo aos seres humanos.

Um mito muito conhecido nosso diz que o nascimento da consciência humana se deu quando o primeiro homem comeu do Fruto do Conhecimento e tornou-se mortal, ou tomou consciência de que podia morrer, algo que não se pode dizer que a maioria dos animais tenham.

Ou mito do Deus P'an Ku, venerado no sul da China, cujo o corpo sacrificado é usado para construir o universo e marca o fim da Era de Ouro da humanidade. Tudo que é morto torna-se pai, já disse alguém.

Parece que sempre que despertamos para a realidade perdemos algo. Perdemos de fato a inocência. Mas o sacrifício feito nos capacita a Ter e a Fazer coisas.


Ter


Pela primeira vez, quando despertamos do caos para a realidade, temos a possibilidade de ver o Outro, o Restante. Recuamos. E este passo para trás nos possibilita vê-lo por inteiro, nomea-lo e, ao lhe dar um nome eu acabo possuindo-o. Este sentimento de posse também se volta para nós e a primeira coisa que agarramos é a nossa lembrança, a nossa história. Possuir uma história significa que vivemos há algum tempo e a cada dia temos maior posse sobre nós mesmos.

Ter história nos confere humanidade. Quando alguém tenta nos destruir fisicamente o faz primeiramente em sua própria cabeça negando-nos nossa humanidade, nossa história. Somos coisificados, rotulados, perdemos nosso nome próprio. Então eu não sou mais o Sergio, mas sou negro, bruxo, são-paulino. E, dependendo da situação, estes rótulos bastam para que outra pessoa encontre nisso uma desculpa para me aniquilar.

Ter história garante a mim mesmo que eu existo. E, ao garantir isso, eu sei que a minha vida vale, entre outras coisas, ser defendida.


Fazer

Se o Ter corresponde ao campo do abstrato, Fazer me coloca no concreto pois eu transformo o mundo ao meu redor, o mesmo mundo que compartilho com outras pessoas. Pois eu não posso viver exclusivamente no campo virtual, mas preciso partir para o real a fim de que aquilo que eu imaginei realmente exista.

Parece óbvio isso que eu escrevi mas não o é para muita gente, principalmente nesta geração internética. No mundo pasteurizado da Web, onde não há pó, lama ou arestas cortantes, é fácil achar conforto mental. Basta navegar pela rede.

Mas o termo navegar é emprestado de uma situação real onde se ia de um ponto ao outro a fim de obter um ganho específico. Ficar ao sabor do vento não é algo recomendável quando se está em mar aberto e se tem família em terra para sustentar. Fora que o ambiente é altamente instável. Se bruxo, por exemplo.



Muitos bruxos hoje querem ficar apenas no virtual, escondidos. Mas a obtenção de conhecimento da Religião não advém só de sites e blogs, mas também da experiência no mundo real, no convívio com as pessoas e de como tudo isso nos afeta, nos toca.

Se eu não faço eu não sou. É impossível ser motorista sem dirigir regularmente, ou ser padeiro sem fazer pão, ou ser pedreiro sem construir casas. É a partir da ação sobre o mundo real que o ser que tem história se completa.


Finitude

Há um elemento que acompanha a tomada de consciência do Ser: mesmo desperto ele está sujeito as leis naturais. E é aí em que a percepção do Eu é um fardo, pois saber que existo implica em saber que um dia eu não existirei mais. O que gera angústia e o desejo profundo em retornar ao estado de não-Ser.

Afinal, para quê saber que estou vivo para descobrir logo em seguida que vou morrer? E é aí que entram todas as religiões: para oferecer à Humanidade um caminho que vá no sentido contrário ao do desespero.

Uma vez reencontrada a paz através da aceitação das regras naturais, estamos preparados para viver nossa vida de maneira completa, tendo e realizando história. Até que enfim chegue o nosso momento de mergulhar novamente no Útero da Terra.


Saúde, amizade, Liberdade

S. Thot

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

RELEITURAS


Olá a tod@s! Ocorreu na semana anterior a XIII Festa do Livro na USP e fomos eu, a Patroa e uma amiga da família. Não precisa dizer que foi excelente ver tantas obras obras de destaque por preços acessíveis. Acessíveis mesmo! Ano que vem irei melhor preparado, rs!


Recebi de presente um livro que cobiça fazia uns 20 anos, mas que nunca tive a oportunidade de comprar: O Poder do Mito, de Joseph Campbell.


Aprendi a admirar a obra deste autor desde que vi pedaços de entrevistas feitas com ele para o jornalista Bill Moyers, anos atrás, com o mesmo título. Assistia fragmentos do documentário porque os episódios passavam no mesmo horário da novela e era uma briga em casa para tirar da Globo e por na TV Cultura enquanto rolava o comercial. O mundo gira, né? 


Lá na Festa, entre camisetas customizadas do Che e filmes europeus, era vendida o DVD completo do documentário. Que não comprei para não ficar tentado a ver antes de ler. Rs! Mas como ainda estou a saborear os quatro volumes da Máscara de Deus, pelo visto só vou tirar o livro da embalagem em meados de 2012, rs!


Quem não leu/assistiu, eu recomendo!


Até mais!


Sergio Thot


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

PENSAMENTO & MEMÓRIA

Olá à tod@s.


Munin e Hugin falando das novidades!
Quero falar hoje deste mensageiro moderno, promotor de revoluções em todos os campos, que é a comunicação virtual. Através dela, tal e qual Odin, sabemos das coisas que se passam ao redor do globo, bastando apenas fazer a pergunta certa. Cada um de nós possui seu próprio Munin e Hugin! Vejam por exemplo a Primavera Árabe, que derruba governos e desestabiliza ditaduras como fortes ventos do deserto fazem com tudo aquilo que está solto ou podre. Esses mesmos ventos levam sua força ao interior da Europa e da Ásia. Quiçá cheguem aqui também! Em Campinas os vereadores votaram por aumentar o próprio salário em 126%!

Sempre tive necessidade de registrar pensamentos. Tenho desde 1997 os Livros da Tribo. Um olhar leigo os chamariam de simples agendas, mas seu conteúdo repleto de poesia e inconformismo leva valores libertários aos seus seletos colecionadores. Salvo algumas edições, ou um dos mais antigos deles, acredito.





Pensamento & Memória


O registro das coisas que penso e fiz me permite olhar para o passado, olhar para mim e dizer "aceitei aqui, mas errei ali". Logo, quando escrevo hoje, lá ou mesmo aqui, mando uma carta para o futuro, para o Sergio que virá, e sabe-se quem mais depois de mim que lerá as coisas que se passam em meu coração.

A invenção da escrita determina o grau de avanço de uma sociedade. Afinal, de onde você acha que surgiu o termo pré-história? Costumamos associar essas civilizações aos povos das cavernas, mas na verdade é o período da existência humana em que a linguagem não é organizada e documentada. Não que a tradição oral não tenha valor, mas sim que sem a gravação na pedra, no couro, no papiro, no barro, no papel, CD-ROM, HD ou outro meio que venha a surgir, não passaremos nossos acertos e erros para as gerações futuras e, mais importante ainda, para nós mesmos. Pensem, por exemplo, nas perdas inestimáveis proporcionadas pela Destruição da Biblioteca de Alexandria, o farol do Mundo Antigo.

Atual Biblioteca de Alexandria


Ou como a Europa caiu na Idade das Trevas, vulgo Idade Média, após o fim do Império Romano e de todo o conhecimento acumulado pelos povos do Mediterrâneo. Os gregos e romanos sabiam a importância, por exemplo, da água na saúde das cidades e suas populações. Tanto que possuíam até uma Deusa dedicada a limpeza: Hígiapara os romanos, e de onde deriva a palavra higiene. Este valor simples se perdeu em poucos séculos (em parte graças ao obscurantismo dos religiosos da época que insistiam em negar todo o conhecimento vindo do Paganismo, mesmo os de cunho prático) e as cidades medievais se tornaram o centro de todo o tipo de doença.




Soltem os Corvos!


Dentro de uma desses meus Livros da Tribo, semanas atrás, encontrei uma foto tirada a 10 anos atrás. Sem maiores pretensões a postei no Facebook, o que gerou uma onda de saudades que certamente estava contida em vários corações de meus amigos e reencontros pipocaram aqui e ali, para falar de passado, presente e futuro. De certa forma esta foto voou nas asas destes corvos sagrados cibernéticos internet à fora e gosto de pensar assim. Gosto de pensar em Odin como um dos patronos da comunicação universal.


Amad@s, soltem também seus corvos e ouçam as vozes do Mundo!


É isso!


Saúde, amizade, liberdade.


Sergio Thot




Ps.: para ilustrar com som o valor de seu pensamento, uma divertida animação sobre as ideias do Eterno Raul e sua linha de Metrô 743, rs!





segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

QUANDO TUDO DÁ ERRADO

Olá à tod@s!


Boa parte de meus escritos aqui partem de um pressuposto simples: de que tudo dará certo no final, bastando apenas seguir o plano. Tento assim levar algo de positivos aos que me leem. Mas também já afirmei nestas linhas que somos apenas um ponto nesta imensa trama da vida. Que somos sujeitos à forças maiores que nós e que em geral é mais inteligente e menos desgastante aprender sobre os ciclos destas forças para melhore tirar proveito. Foi este conhecimento que nos fez deixar de coletar raízes selvagens nos campos para semeá-los de acordo com os ciclos das estações.


Mas há tempos em que o tecido da realidade se rasga. E aí é a fome, discórdia, ameaça, luta, racionamento, desconfiança! E o endurecimento do coração frente a novas muralhas que é preciso atravessar de peito fechado e olhos voltados para a sobrevivência pura e simples. Os sonhos são abandonados ao campo precocemente estéril, no mesmo campo onde espadas são desembainhadas.


Pois é. Nem tudo dá certo na vida, por melhores que sejam nossas intenções, apesar de todo planejamento e esforço desprendidos, todo o suor e lágrimas. Às vezes não dá certo mesmo porque o momento de semear era anterior ou não daquela Lua Cheia. As pessoas que vivem da terra o sabem muito bem, certamente melhor que eu, que mesmo com todas as previsões possíveis basta uma praga, uma doença, granizo, água de mais ou de menos, qualquer coisa fora do contexto, para que tudo desande. Observatórios onde sacerdotes-astrônomos seguiam o curso das estrelas são tão velhos quanto a agricultura em grande escala.


Esses homens sabiam que determinadas posições daqueles pontos de luz no céu indicavam a vinda das chuvas, assim como os pescadores conhecem as marés. Os sacerdotes egípcios sabiam ler as palavras de Sírus no céu e sabiam o fluxo do Nilo. Os gregos também dominavam esta nobre arte.


Sírius era conhecida no antigo Egito como Spodet (do grego: Sothis), e está registrada nos registros astronômicos mais antigos. Durante o Médio Império, os egípcios tomaram como base de seu calendário o nascer helíaco de Sírus, ou seja, o dia em que ele torna-se visível pouco antes do nascer do Sol e estando suficientemente afastado do brilho dele. Este evento ocorria antes da inundação anual do rio Nilo e do solstício de verão, após estar ausente do céu por setenta dias. O hieróglifo para Sothis é uma estrela e um triângulo. Sothis era relacionada com a deusa Ísis, enquanto o período de setenta dias com a passagem de Ísis e Osíris pelo tuat, o submundo egípcio. Ver mais AQUI.


Nós também, mesmo não mais plantando e colhendo diretamente os frutos da terra, ainda semeamos e colhemos nossos sonhos e realizações e estes devem ser guardados das pragas que nos rodeiam: ódio, inveja, intolerância, discriminações de todos os tipos.


E mesmo que nosso campo dos sonhos seja devastado e tudo aquilo que alimenta o espírito tenha sido destruído, não se rendam. Só tenham mais cuidado.


Saúde, amizade, liberdade




Sergio Thot.


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O "GRANDE" DISCURSO

Olá à tod@s Peço que assistam com cuidado o vídeo abaixo. Entenda o porquê da controvérsia envolvendo este deputado federal pelo Partido "Progressista" lendo AQUI. Observem o ódio embutido, escondido atrás do terno e da gravata do "cidadão de bem". São sempre "gente de bem", né? Sempre pregando pela família e os valores morais.


Curioso. O estopim da ditadura no Brasil começou com uma Marcha pela Família (Leia + AQUI). Gente marchando sempre me dá medo. Ninguém dança. Todos marcham.


Percebe-se que não existe qualquer argumentação nos gritos emitidos por este ser. Ele apenas vocifera e tenta ganhar no grito, assim como um dia ele ganhou já discussão com arma na mão. Segue o perfil do ser AQUI. Só há ódio em seu "discurso", e desinformação. Triste é que ele foi eleito diversas vezes e ajuda eleger outros que possuem o mesmo perfil, com votos de milhares de "bolsonarinhos" espalhados por este país, talvez os mesmos eleitores que votaram no Tiririca. 


O perfil deste ser é o mesmo de outros perseguidores em todas as épocas. Hoje estão na tribuna democrática porque lhes é muito conveniente, mas em outros tempos, habitam os porões, masmorras e florestas de todas as terras e todas as épocas, onde somente sua vociferação era ouvida, acusatória. E qualquer um que esboçasse a mínima defesa a favor da vítima ou do processo era com ela sacrificada.


A democracia representativa brasileira, que não é das melhores mas é nossa, gozada por aqueles que hoje tem 25 anos ou menos, não foi gratuita. Foi vencida na luta contra seres deste naipe que, durante várias gerações, tem tentado ditar suas ordens através da violência ou de fato, ou de palavras. 


"A acusada era conhecida por tomar banho"
Recado aos que acreditam na educação, no diálogo e nos direitos civis: existem muitos "bolsonarinhos" por aí. São quase invisíveis, aparecendo apenas em atos esporádicos de violência física ou verbal. Esses dão mais medo. Se o Bolsonaro é a voz, os bolsonarinhos são os braços.


Fala-se que Hitler matou tantos judeus. Na verdade milhares de alemães mais ou menos anônimos fizeram isso. São destes tentáculos que tenho medo.


Não é jogando ovos em um politico que serão vencidos. O político é um representante de um pensamento coletivo, uma hidra com tantas cabeças que, para ser vencida deve-se conquistar corações e mentes em todas as frentes, em cada vez que a ignorância se manifesta: na fila do mercado, no ônibus, na rua, no cinema, em casa.


É trabalho de formiguinha! Comecemos já!


Sergio Thot!




sexta-feira, 11 de novembro de 2011

FÉ CEGA, ATHAME AMOLADO

Olá, como vão?

Quero dividir com vocês os pensamentos surgidos de um evento triste ocorrido esta semana com a Consorte. Voltando do trabalho, num dia quente de Beltane, em pé no ônibus, um cidadão se oferece para segurar-lhe a bolsa. O que não sabia é que minutos atrás ela havia se tornado mais um alvo numa cidade de vítimas. Quando entrou no ônibus e guardou seu aparelho em um compartimento da bolsa, a ação foi marcada pelo meliante, o mesmo que se ofereceu para segurar a bolsa e cobrila distcretamente com uma revista enquanto sorrateiramente abria o bolsinho lateral.

A questão não é o valor do aparelho, que era baratinho, mas a audácia, cara de pau, e a sensação de vácuo que fica nessas horas. Pois fica. Depois vem o ódio e a desconfiança.


Invasores

Quando pequeno fui ensinado a desconfiar das pessoas. Ao atingir a adolescência resolvi matar isso em mim e me jogar mais no mundo. Não que não tema, mas isso faz com que me relacione facilmente com os outros sem desconfiar que qualquer desconhecido seja um marginal em potencial. Adquiri com o tempo e experiência uma certa fé na humanidade, por saber que as pessoas são... apenas pessoas. Que existem os essencialmente bons, os essencialmente maus, mas que ambos os grupos são formados por um número pequeno de indivíduos. O restante, como você e eu, é bom o mau conforme a oportunidade, como diria Erich Fromm.

Quando esta oportunidade não existe, o crime e a violência são desnecessárias, conforme nos aponta Rachel Pollack em seu livro O Corpo da Deusa (que não canso de citar, rs!) quando fala das antigas sociedades aparentemente pacíficas.

Deidade encontrada em Çatal Hüyük
"A cidade neolítica de escavada próximo à Çatal Hüyük, em Anatólia, na Turquia (em geral chamada simplesmente de Çatal Hüyük), é uma das cidades mais antigas do mundo, datando de 7250-6150 a.C. O arqueólogo James Mellaart encontrou 800 anos de habitação contínua. Nem uma vez o registro arqueológico mostra sinais de um saque ou de um massacre. Nenhum em 800 anos".

Uma corrente de historiados e arqueólogos, como Marija Gimbutas, acredita que uma sociedade femeo-centrada tenha existido na região que conhecemos hoje como Oriente Médio, estendendo-se até a Europa Oriental, e que era essencialmente pacífica e agrícola, sendo submetida por povos indo-europeus vindo do leste. Esta ideia é chamada de Hipótese Kurgan.


"Gimbutas acreditava que as expansões da cultura Kurgan foram uma série de invasões essencialmente militares e hostis, onde uma nova cultura guerreira se impôs sobre as culturas pacíficas e matriarcais da "Europa Antiga", substituindo-as por uma sociedade guerreira patriarcal, um processo visível no surgimento de povoações fortificadas e nos túmulos de líderes guerreiros."

Então temos o caipira cuidando de sua terra e plantação tendo que, do dia para a noite, defende-la do ataque de grupos empenhados em consumir o suor de seu rosto. Devemos lembrar que uma parte considerável da história humana baseia-se no resultado direto do campo, numa vida em que as reservas alimentares não duravam muito. Saber quando plantar e quando colher era questão de vida ou morte para populações inteiras. Saiba mais sobre os invasores indo-europeus AQUI.


A Ocasião Faz o Ladrão

Voltando ao assunto, acreditamos que o meliante era apenas uma pessoa comum que viu a oportunidade e aproveitou, por conta de uma baixa de seus conceitos éticos e morais e da oportunidade que se apresentou, tentadora. Temos momentos assim, acredito, onde o pior de nós aflora mas que não aquilo que somos essencialmente.


Ou então este pensamento é meu lado Pollyana falando, rs!

Crendo nisto, vivo a vida de modo a não criar tais oportunidades para que as ações ruins não nasçam na mente e coração das pessoas, e penso que todos devamos fazer o mesmo, seja em nível individual ou social. E que também devemos nos preparar psico e fisicamente para situações onde se exige que entremos em conflito com o outro na busca de nossa segurança e de quem queremos bem.

Estas são coisas a se pensar com profundidade na realidade em que vivemos.

Saúde, amizade, liberdade.


Sergio Thot.


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A CAMA DE PROCUSTO

Olá, como vão vocês?


Os que tem a idade de 20 anos ou um pouco mais talvez não lembrem do período em que o Brasil e muitos países da América Latina recebiam visitas das comissões do FMI, vindas para sugerir (impor) restrições ao modo com que conduzíamos a política econômica, para o desespero da oposição da época. Greves, manifestações de quebra-quebra nas ruas, braço de ferro no Parlamento. Aquela situação me lembrava um evento vivido nas brumas do tempo pelo povo grego nas mãos de Procusto, o gigante.




A Cama de Procusto


Procusto era um cara legal, que só tinha o problema de matar as pessoas por diversão sádica. Aproveitando-se de sua força, ele obrigava viajantes incautos que passavam em suas terras a visitarem sua casa e deitarem na cama que ele preparava especialmente para a ocasião. Até aí nada de mais, só que se sobrasse alguma parte do corpo do visitante para fora, ele cortava. E se, ao contrário disso, o corpo do viajante fosse pequeno e sobrasse espaço neste literal leito de morte, ele esticava-lhe os membros até arranca-los. Era dura a vida em Elêusis. Leia + AQUI.


Se correr o bicho pega?
A crise na Europa protagonizada pela atual Grécia e as regras impostas pela União Europeia e FMI me lembaram esse episódio. Parece que o povo grego está deitado na cama de Procusto, onde as contas nunca fecham. Desejo sorte e discernimento na terra de Homero. Leia + AQUI.


E a nós também, porque não!? Nossas vidas também são cheias destas situações insólitas onde se correr o bicho pega. Em troca de alguma segurança e conforto nos submetemos a provas que chegam no limite de nossas forças, muitas vezes por motivos que escapam da razão lógica, onde vamos colher alguma coisas, mas a nossa produção é endereçada mais para os outros do que para nós mesmos.


Se correr o bicho pega? Então se ficarmos a gente luta, combinado?

Saúde, amizade, liberdade!

Sergio Thot



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ALÉM DAS GOSTOSURAS & TRAVESSURAS

Olá, como vão tod@s?


No próximo final de semana acontece uma festa não-oficial aqui no condomínio: o Halloween. Dizem que o início dos festejos começou com as escolas de inglês que, acertadamente, trazem não só a língua da Terra da Rainha para cá, mas também seus costumes e cultura na medida do possível, o que inclui os festejos e datas comemorativas. Como o Brasil, dizem, adora uma festa, não demorou para a data transbordar para as ruas, para o ódio dos observadores de Sacis do SoSaci.


Aliás, vai ter festa em São Luís do Paraitinga e a 9º Festa do Saci:


"São Luiz do Paraitinga convive nesta semana com as atividades festivas da ‘9ª Festa do Saci e seus Amigos’, que teve início no dia 25 e segue até dia 30 de outubro. O dia 31 de outubro é conhecido no Brasil como o ‘Dia Nacional do Saci’, uma forma de preservar as raízes do folclore nacional, contra a invasão de festas estrangeiras tipo ‘Halloween’." Leia a matéria AQUI.


Pena que é uma festa do "contra". Tantos anos para promover a figura do Saci, desde Monteiro Lobato, Câmara Cascudo e outros, e só o fizeram hoje para servir de contra-ponto ao Halloween...




Beltane ou Samhain?


Apesar de ser Beltane para mim e para muitos outros que rodam pelo Sul, fica difícil não deixar-me envolver com o clima, principalmente com as crianças batendo na porta pedindo doces, rs! Sendo assim, lá vou eu comprar algumas guloseimas para as festas das próximas noites!


E vocês? Como lidarão com os parentes e amigos comentando sobre o Dia das Bruxas?


Para os Brux@s de meu Brasil e países lusófonos, feliz Beltane ou Samhain. E para s pessoas comuns, não abusem nos doces, hein? Rs!


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

POSSE DOS CORPOS



Olá à tod@s

Sabem, não existe contrato no mundo que possa validar, ao meu ver, a posse de pessoas ou grupos sobre outras pessoas, grupos ou terras. Porque tanto o ser humano quanto a Nave-Gaia pertencem a todos, a ninguém e a si mesmos! Este é um pensamento complexo, não?

A ideia nasceu anos atrás, através dos desdobramentos e ligações que tive com com outras ideias. Foi no final do anos 90, após conhecer o pensamento libertário e as lutas campesinas do MST. O primeiro pede a liberdade do ser humano e o segundo a liberdade da terra.



Não Sou de Ninguém


Clique na foto! De Sebastião Salgado.

Libertar o ser humano é antes de mais nada aceita-lo em sua plenitude e não segmenta-lo segundo o próprio gosto. Porque fazemos isso continuamente. Nos coisificamos a nós e ao próximo. A coisificação vem através dos títulos que damos ou recebemos: corintiano, bicha, negro, solteiro, homem, mulher, trabalhador, peão, assaltante, paraíba, baiano, galinha, puta, corno, estudante, comunista, honesto, alto, manco, magrelo, gordo, casado, idiota, caxias, banguela...

O fato é que meu corpo, minha identidade, meus sentimentos, minha inteligência, minha força de transformação do mundo são meus. Meus até o dia em que Hades finalmente chegar e me levar. Mas será a mim e somente a mim que ele levará no meu leito de morte.

Sou em mim meu próprio mundo. E você também! Você é seu próprio universo e há coisas que só fazem sentido aí dentro! Juntos apenas dividimos, compartilhamos um tempo e espaço. As relações humanas são apenas convites para almoçar, jantar, ir ao cinema, dividir o trabalho. Mas são 6 bilhões de realidades diferentes.

Impossível falar de mim sem falar de como me relaciono com o outro. Se você não sabe quem é e seu próprio valor no mundo, corre o risco de ser coisificado.


O Seu Corpo é Valioso

Quando classificamos alguém buscamos reduzi-lo a alguma coisa para que este possa caber em nosso bolso e assim possui-lo. Deste modo tiramos das pessoas a identidade, assim como os senhores de escravos das Américas faziam com os seres humanos por eles comprados na África para o trabalho. Conforme a descrição do livro "A História Concisa do Brasil", de Boris Fausto:

"O critério discriminatório se referia essencialmente a pessoa. mais profundo do que ele, existia um corte separando pessoas de não-pessoas, ou seja, gente livre de escravos, considerados juridicamente como coisa." Pg. 31

Ou seja: para o Estado da época, com a benção da Igreja católica, a pessoa negra era uma coisa. Foram precisos 300 anos para se provar que uma pessoa negra fosse considerada humana. Lhe pergunto: deve uma pessoa esperar a decisão da Justiça ou dos autoproclamados representantes de Deus para se posicionar como figura humana e adquirir a posse de sua individualidade?.

Ainda hoje o pensamento cristão majoritário, com a omissão do Estado, tenta possuir o corpo das pessoas e negar-lhes direitos civis básicos, baseados em critérios duvidosos, por conta da orientação afetiva das pessoas. Em suma: a Igreja decide a quem devemos amar e como. Isso abre brechas para todo o tipo de barbaridades:


  • Pai teve orelha parcialmente arrancada por abraçar filho: o fato se deu na cidade de São João da Boa Vista. Um pai andava abraçado a seu filho e um grupo os espancou achando que fossem gays. Leia AQUI. Lembra aquela história recente de um índio que foi queimado vivo porque achavam que fosse mendigo.


Além da Muralha, os Bárbaros

Ontem e hoje os muros são construídos para delimitar os espaços das pessoas, justificado ou não. Como fez a minha vizinha que ergueu uma fileira de blocos sobre nosso muro comum sem meu consentimento. Para dar o acabamento final na obra ela teve que vir até a minha casa e explicar que a construção não se baseava em qualquer forma de desconfiança da parte deles. Mentira descarada, obviamente. Mas deixei passar. É sempre o medo que levanta muros.

Numa escala maior, os impérios sempre se valeram destas construções para deter o corpo do outro. Veja o exemplo da Muralha de Adriano, imperador romano que construiu um muro gigantesco afim de colocar do outro lado os bárbaros do norte da Bretanha (leia AQUI).  É como varrer a areia da praia. Posso citar outras?

Nossa última vergonha humanitária é o muro que Israel constrói para aprisionar os palestinos da Cisjordânia (veja AQUI). Creio que será uma das maiores penitenciárias do planeta e entra no rol dos Muros da Vergonha. Tudo isso por causa da terra.


A Posse da Terra

As lutas pelo campo que me foram narradas pela militância do MST me deram a seguinte perspectiva: de quanta terra preciso para viver? Pois existem empresas e/ou pessoas que possuem uma fome terrível por espaço e são donas de regiões maiores que minha cidade. O nome disso é latifúndio. A prática de dominar as grandes extensões pela força - das armas ou das moedas - é antiga. Os reis achavam que o país onde estava seu castelo é uma espécie de quintal, sendo as pessoas meros joguetes. Quem já não leu nos contos de fadas: "Filho, um dia tudo isto será seu"?

Existem também os muros invisíveis, as fronteiras desenhadas em mapas-mundi. Todo estudante do ensino básico se acostumou a ver aquela colcha de retalhos colorida e achando tudo normal. Mas em muitos casos as fronteiras separam territórios sem respeitar os traços culturais de cada região.

As guerras mundiais retalharam continentes inteiros ao bel-prazer das nações americana e europeias, como prova o Congresso de Berlim. Qualquer mapa-mundi atual lembra uma colcha de retalhos. Mas o pagão, o camponês que da terra vive não se importa com estas coisas, desejando apenas sossego para plantar e colher, sem ter que se mudar diante do avanço das tropas, sejam elas amigas ou inimigas.



Fronteiras só no mapa-mundi!
Do Alto Somos Todos Iguais


A Mãe-Terra não tem fronteiras quando vista do espaço. Mas inventamos tantas maneiras de construir muros e tantas desculpas para mante-los. E no final é sempre o medo que prevalece, pois temos sempre que por a cara para fora.

A conclusão a qual cheguei é que não podemos libertar o corpo da Terra se não podemos libertar o corpo das pessoas. Que não é possível libertar o corpo do outro sem também libertar a si mesmo. E não podemos libertar as pessoas sem libertar a Terra também! Pois não adianta trancarmos em nossos mini-feudos ou em grandes latifúndios. Somos homo socius e uma hora temos que por a cabeça fora do buraco.

Se puder pedir algo a vocês, caros leitores, é o seguinte: libertem os corpos! O seu, o meu, o da Terra. Pois a posse é uma ilusão e só cria tensão entre as pessoas porque sempre haverá um senhor e um escravo. Não confunda posse com amor. Isso é um erro trágico.


Ame seu corpo e passe a amar o corpo do outro também em toda a sua plenitude.

Saúde, amizade, liberdade!

S. Thot


sábado, 15 de outubro de 2011

GATOS SÃO SAGRADOS!

Brigitte, apenas existindo

Olá, como vão?


Com a aproximação do Dia das Bruxas quero resgatar esse antigo companheiro de casa e de fogueira que é o gato. Ele, mais do que qualquer outro bicho, sofreu com as chamas inquisitórias europeias simplesmente por ser aquilo que ele é. Principalmente os gatos pretos.


Tive um gato preto. Preta, para ser mais exato. A chamei de Nix, deusa noturna do Egito. Era filha de Nina, uma gata da amiga Cibele. Isso foi lá pelos anos de 2000. Desde então vários passaram pela nossa casa, muitos nascidos, outros adotados.


Atualemente temos Brigite e Ágata, duas pestinhas que adoram cavar o jardim, subir na mesa, deitar no colo enquanto vejo tevê ou teclo aqui com vocês.


Ágatha, a gata


E Por Que são Sagrados?


Além da ligação involuntária com as mulheres da Idade Média, podia citar a adoração que os egipcios tinham (e tem!) pelo bichano através da  Deusa Bastet (e sua versão menos humorada, Sekhmet). Além dos japoneses com seu gato de boa sorte, o Maneki Neko que atrai sorte e dinheiro, mas cujo o original, dizem, salvou a vida de um guerreiro. Ou o culto ao jaguar das Américas:


"A onça faz parte da mitologia de diversas culturas indígenas americanas, incluindo a dos maias, astecas e guarani. Na mitologia maia, apesar de ter sido cotada como um animal sagrado, era caçada em cerimônias de iniciação dos homens como guerreiros."
Fonte: Wikipedia.


Para o Padre Marcelo Rossi, dizem alguns sites por aí, são animais "traiçoeiros" (Leia AQUI). Opinião típica de que nunca teve gatos pois, se os tivesse saberia que nada que temos realmente os interessa para que nasça a traição.


Mas para mim são divinos porque simplesmente deitam em meu colo, me olham com tédio e cochilam.


Saúde, amizade, liberdade.




Sergio Thot


Post Scriptum:


Vocês conhecem o Maru? Deixe-me apresentar...

sábado, 8 de outubro de 2011

HUMOR PAGÃO

Copilado pela ciberamiga Cássia Filetti e postado no Orkut faz alguns anos, é uma boa maneira de espantar as nuvens negras do mau humor e quebrar qualquer pensamento mais soberbo sobre nós mesmos. Quando ficamos muito soberbos, quando damos muita atenção ao que dizemos, acabamos nos achando maiores e melhores do realmente somos e, em geral, maiores e melhores que os outros também.


Vamos rir juntos? Com a palavra, Cassia Filetti:




Você sabe que é um pagão quando...


1) Você é visto conversando com gatos.


2) Eles entendem o que você diz;


3) Eles respondem.


4)Quando perguntam se você acredita em Deus, você responde : "Qual deles?"


5) Você sabe o quer dizer Athame.


6) Você tem um armário cheinho de especiarias e não cozinha.


7) Você sabe que olíbano e frankincenso são a mesma coisa.


8) Toda vez que chega um livro sobre celtas, o proprietário da livraria reserva um para você.


9) Você sabe que há exceções às leis da física...você as causa.


10) A primeira coisa que seus convidados dizem a chegarem em sua casa é : "Oh que belo... belos altares...você tem aqui".


11)No Samhain você grita para as pessoas na rua: "Feliz Ano Novo!".


12) Você têm amigos que dizem que são elfos...vc acredita neles.


13) Você comete pecadossssssss no plural.


14) Logo após sua morte seu primeiro pensamento é: "De novoooooo..."


15)Gaia não é só um personagem do Capitão Planeta.


16) Você acha que as Brumas de Avalon são um texto sagrado.


17) Você sabe que existe um modo correto e um incorreto de traçar um pentáculo. Você sabe porque e pode ensinar isso.


18) Você passou um ano e meio procurando um familiar,


19) Você fala com as árvores.


20) Elas respondem.


21) Você sabe que fadas e dragões existem. Você já falou com eles.


22) Pintar você mesmo de azul, ficar nu, arrepiar os cabelos dançando e passar a noite em volta de uma fogueira significam um programa legal de fim de semana.


23) Você conhece o simbolismo de um Mastro de Beltane.


24) Você já terminou um telefonema com Blessed Be!


25) Seus filhos saem por ai explicando que os Deuses amam a diversidade


26) Você está lendo esta lista.


27) Você entende o que está nesta lista!


28) Você tem coisas a acrescentar nela!




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Saúde, amizade, liberdade!


Sergio Thot

terça-feira, 4 de outubro de 2011

SERMOS OS MELHORES

Olá, estão tod@s bem?


Passado o Dia do Orgulho Pagão deste ano e a Caminhada Religiosa de Copacabana [leia AQUI], fiquei pensando sobre como deve a vida dos pagãos no dia a dia.


Por exemplo, em uma comunidade do Orkut sobre Wicca e Bruxaria, a poucos dias dos eventos acima citados, nasce um tópico de "como para esconder a Wicca dos pais" [leia AQUI]. Temos orgulho mas também temos medo ainda.


Menos por conta de uma perseguição por parte do Estado ou da Igreja, uma vez que a Constituição garante o livre exercício religioso dentro de certos parâmetros [leia AQUI]. Não, este medo tem outra fonte. Uma das maneiras mais eficazes de conseguir que alguém faça o que queremos, quando não é por ameaça direta à vida ou por tortura física é através de restrições às condições de vida.


Voltando ao fórum do Orkut, se o lerem perceberão que a voz colocada ali é a de pessoas que moram e dependem econômica ou psicologicamente da família. Esta dependência faz com que sigamos regras que não elaboramos e sobre as quais não se pode opinar. A minha liberdade religiosa esta firmemente atada a minha independência econômica.


Pagãos como Starhawk, Kerr Cuhulain e Rachel Pollack aliaram sua prática religiosa à campanhas antidifamatórias a respeito de minorias sociais as quais as religiosas estão inclusas. Só recentemente a Grécia liberou o culto pagão. Religiões como a Wicca só tomaram fôlego na Inglaterra depois que deixaram de ser ilegais. Mesmo em um país como é o nosso atualmente, com garantias de liberdade religiosa, a vigilância sobre esta questão deve ser constante pois liberdade não é algo que se ganha, mas que se conquista e se mantém.




No Cotidiano


Em meu cotidiano não faço questão de tornar minha fé pública. Quem sabe sobre mim nesta questão é porque viu a minha estante com livros, ou é amigo suficiente para fazer as perguntas certas e ter de mim as respostas certas. Aprendi na vida que não se fala de tudo para todo mundo.


Quando tornamos pública nossa opção religiosa nos tornamos foco das atenções por conta da diferenciação que causamos (e que não era notada até aquele momento). Trabalhamos, estudamos, pegamos os mesmos ônibus todos os dias mas, por conta de um pentagrama para fora da camisa ou um livro que cai e alguém apanha a percepção que o Outro tem sobre nós se modifica e, quiçá, se amplia.


Mas essa focalização sobre nós pode ter efeitos nefastos. No livro Autobiografia de uma Feiticeira, de Lois Bourne, há uma poesia que ilustra bem o que falo:


Compadeci-me da dor no homem ou na besta,
E só seu bem busquei,
Usei minhas ervas e artes de cura,
Para ajuda-los se pudesse


Compadeci-me das pequenas coisas indefesas,
E, desde que sozinha vivia,
A lebre órfã, o gato sem morada,
Em meu lar de pedra aconchegaram-se.


Apesar de todos verem a minha vida frugal,
E ninguém de rica poder julgar-me,
Alguns juraram que venderia minha alma por ouro,
E, por ser feiticeira, amaldiçoaram-me.


E quando chegou a plantação fracassada,
A criança que não prosperou,
Eles me expulsaram aos gritos e pancadas,
Para ser enforcada ou em vida queimada


De Muriel Rolf


Por conta destas coisas precisamos ser os melhores naquilo que fazemos e sermos o mais independentes possível. Os melhores pais, mães, filhos, irmãos, jogadores, funcionários, estudantes, amigos, amantes... E puxar a humanidade representada pelo nosso próximo para este mesmo estado de graça.


Pois querendo ou não, quando nosso pentagrama fica visível sobre a roupa, está iniciado o julgamento.


Saúde, amizade, liberdade.




Sergio Thot
Orkut
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