Páginas

segunda-feira, 31 de março de 2008

DAS PRAGAS




Nem tudo é doce e claro sob o manto da Deusa, ou colhemos sempre bençãos. Às vezes somos tomados pela consciência de que dividimos o mundo com outras criaturas vivas, e que elas possuem um ritmo próprio. É um processo que envolve dor e perda.


A Ceifadora

No começo do dia os campos estão verdejantes, frutos e talos cheios de seiva brilhando ao sol. E de repente tudo é ameaçado pela praga. São súditos das divindades que chamamos de escuras, ceifadoras. São as que aparecem para receber o quinhão que a vida sempre cobra, mas cuja parte do contrato nós nem sempre lembramos que existe.

É curioso que muitas vezes nossas as mãos que arrancam do solo a mandioca para nosso sustento. Que nós somos para os outros os enviados da Ceifadora.


Fim do caminho

Tudo é cíclico, mas isto é um conceito, é razão. Os caminhos do coração são mais tortuosos e a incompreensão e impotência nos tomam quando achamos que fazemos tudo certo e o destino tem seus próprios planos. É preciso então encontrar nosso centro deste carrossel e de lá observar de outra maneira os acontecimentos e melhor avaliar o que fazer.

Sun Tzu, estrategista militar, conta que ficar parado também é um movimento, desde que se saiba o que se está fazendo. Nós lutamos contra a praga com todas as nossas forças, e elas surgem em mais e mais. Chega uma hora que é preciso reconhecer e jogar a toalha. Deixar que as lágrimas finalmente se vertam pela face queimada do sol enquanto os frutos do trabalho de tempos se vão.

Enquanto o mundo trabalha, nós guardamos forças para o recomeço. E é isto que se faz quando as forças são gigantescas em dado momento: você espera em lugar seguro para que elas se esgotem, pois tudo é cíclico.

E então, no momento oportuno, com energias renovadas, as ferramentas certas e um plano eficaz, retornamos à cena, belos e brilhantes.

Até lá, abracemos e fortaleçamos uns aos outros para melhor enfrentar o frio, medo e a fome.

Que Assim Seja.

quarta-feira, 26 de março de 2008

DA "COISIFICAÇÃO"



Quando uma madeireira entra em uma floresta, vê toras de madeira, custos de transporte, pessoal e lucros. E quando um pagão entra na floresta, o que ele vê?

A coisificação é o processo metal que visa tornar algo insípido, sem rosto ou forma com o intuito de extrair dele benefícios sem que com isso hajam sentimentos de remorso. Não raro as pessoas tentam nos tratar como degraus das escadas para seu próprio sucesso, não importando sexo, credo, etnia, idade, situação social ou econômica. A possibilidade de sermos usados, ou coisificados, é muito grande.

O Grupo Semente Sagrada passa por este processo atualmente, motivado por um de seus ex-membros. Nosso grupo deve a sua existência a criação, vontade e esforços coletivos. Mas esta pessoa, no intuito de tomar posse do grupo, registrou o logotipo na Biblioteca Nacional. Esse ex- membro acha que pode tomar conta das coisas entrando na justiça.

Este ex-membro nos coisificou e se tornou aquilo que mais afirmava detestar, tudo em nome da posse de algo que não pode ser contido, pois o Semente não é algo material, palpável, mensurável. O Semente Sagrada é sobretudo um sentimento que nos une, não um nome ou logotipo. Esta pessoa se perdeu, envenenou e dividiu pessoas, tentou criar um clone do Semente que não vingou, brigando com as pessoas que ele convenceu e agora está só com sua posse preciosa, seu documento oficial.

Isto lembra a história de nosso país, onde o colonizador português achou que era dono da terra só porque os índios não tinham escritura de Pindorama. Ou dos quilombolas atuais, que travam guerras jurídicas e de sangue para provar que moram aonde seus antepassados construíram suas casas.

Lamentamos por ele e outros como ele que não reconheçam a necessidade de compartilharmos as coisas e saber que nem tudo pode ser feito segundo a nossa vontade todo o tempo, pois não somos indivíduos, mas sócios nesta nave. E precisamos cooperar e respeitar e abrir mão para dividir.

Provavelmente este texto vai criar novas situações de conflito, algo que sempre prefiro evitar. Sempre imaginei que travaria batalhas com pessoas reconhecidamente danosas à sociedade, e este não é o caso.

Não quero fazer do Semente um prêmio, pois o grupo, repetindo, são as pessoas. Envolvi-me no ambientalismo por causa das pessoas,e não o contrário. As pessoas não são degraus. O Semente Sagrada não é uma coisa que se possa ter posse jurídica.

Ninguém pode comprar as estrelas no céu. Que presunção!

Mas sou seguidor de Thot, aquele que conta o tempo, e sei esperar. E sei que em breve todos nos sentaremos em uma grande mesa, a princípio constrangidos, mas os velhos laços se reatarão e os risos voltarão aos nossos rostos. Então comeremos e beberemos à saúde uns dos outros como sempre fizemos desde os tempos imemoriais, e faremos até que a última galáxia enfim se apague.

Afinal, a Roda Gira!

Que Assim Seja!

Nota: se deseja montar uma ONG, siga estes passos!

domingo, 23 de março de 2008

SOBRE NÓS, QUE NOS AMÁVAMOS TANTO...





Em 2005, quando a Paula me convidou para participar do grupo Semente Sagrada, cuja a idéia ainda estava fresca e nem este logo existia, animei-me. Sempre acreditei que nós não somos indivíduos, mas sócios de uma mesma realidade, que vivemos em uma sociedade. Motivado por este pensamento participei de grêmios, associações comunitárias, espaços culturais, sindicatos.
Nestes locais aprendi muito sobre as pessoas e suas formas de organização, e me ensinaram que há dois tipos de membros: os que pisam no barro e os que não pisam. "Pisar no barro" é uma expressão que indica se a pessoa em questão sai da sede, da sala de reuniões, do conforto de seu computador e de sua vida diária para realizar algo em nome do coletivo lá fora, no mundo real.


E agora, o esporte


Então aprendi a olhar as coisas de outra forma. Durante as assembléias estudantis, por exemplo, enquanto os alunos dividiam-se em grupos e gritavam palavras de ordem uns contra os outros como se fossem adversários (como se não tivessem um inimigo em comum), nos bastidores seus líderes já haviam acertado os acordos.
Se havia um fórum adequado para isto, por que a grande massa é retirada do processo? Logo cedo aprendi é possível usar em situações uma cortina de fumaça e escândalos encobrir nossos olhos e não nos deixar ver o real. No telejornalismo, quando há notícias pesadas, não raro entra na seqüência delas a chamada da sessão esportiva afim de desvirtuar o tema da mente, torna-la distante. Escândalo e esquecimento, lembrem-se desta fórmula.


Gente que faz


O gosto geral pelo escândalo faz a alegria de muita gente que deseja chamar a atenção primeiro e propor depois. Nossa longa história política é uma prova cabal disto. No entanto, as pessoas que pisam o barro não aparecem nas manchetes. Enquanto do sofá as pessoas brigam com o monitor de TV, quem faz continua fazendo com pouca ou nenhuma ajuda das pessoas que se dizem indignadas com o rumo das coisas. Atente para o número de queixas que se ouve todos os dias, seja no seu emprego, em sua casa, no ônibus. E algum dia de muita coragem, peça para o reclamante propor soluções.
A probabilidade de ouvir um "ah, isto não tem mais jeito" é muito boa. Há muitas organizações e pessoas que se oferecem para auxiliar a sociedade em seu possível (às vezes até no impossível) e que necessitam de ajuda, muita ajuda. Fazem o mínimo por só possuírem o mínimo para continuarem suas atividades. E somos uma nação de 180 milhões, onde boa parte não conta com o necessário para viver. Por que não se levantam, por que não despertam?


Quanto pior, melhor!


Esta sempre foi a pergunta que não queria calar. Na UGES, no MTST, no Espaço Cultural Florestan Fernades... Mesmo no Semente Sagrada nós nos perguntávamos isto. E a resposta é estupidamente simples: as pessoas em geral só lutam por ganhos rápidos, ou na resolução de problemas imediatos. Uma vez cessada a necessidade, retornam ao su estado de repouso.
Ora, então é só criar e administrar um problema para dominar as pessoas então! E lógico, possuir ou aparentar ter a solução. Daí é só ser o pastor das ovelhas! Uma vez que nos damos conta disto, há um dilema moral em questão: esclarecer ou dominar.


Medo


O domínio se faz pelo medo, pela ignorância, pela obediência cega, por meias palavras, pela ironia, pelo sarcasmo, pela voz de comando, pela exposição ao ridículo, pela autoexaltação, pelo grito, pela fome de poder, pela arrogancia, pela quebradeira. Nunca a educação usará destes expedientes pois o aprendizado se faz pela ação-reflexão-nova ação. O poder nos força a engolir, enquanto a educação nos convida a absorver nossa realidade.
O domínio, o poder-sobre usa do medo principalmente para manter-se no poder. Faz-nos ter medo do outro, do desconhecido e se mostra não como companheiro, mas um Grande Pai, detentor de todas as respostas e defensor dos fracos. Para tanto é preciso eleger alguém como Devastador, Destruidor, Mentiroso.


Fogueiras


Vocês lembram, não? Há algo em nós que estava lá, que ardeu nas fogueiras sem que ao menos tivéssemos a defesa necessária em um fórum adequado. E todos os que se pronunciavam à nosso favor estavam dominados, eram usados. E iam para a fogueira também.
O medo do outro já queimou muitos. E as chamas ainda ardem.


Grupo?


O que é um grupo? Não é seu registro em qualquer orgão, ou sua existência em um site, ou um prédio que o caracterizam. É como perguntar o que é uma família. Um grupo é o laço que os une. Este laço pode ser de interesses, ou de amores. No Semente, tínhamos os dois.
Depois do convite feito, passamos a trabalhar segundo nossas convicções e interesses. Mas como era de se esperar quando se convive muito tempo com poucas pessoas, nos gostamos uns dos outros (Ia escrever "aprendemos a gostar", mas isto não se aprende ou força. Nasce ou não).

Dividíamos o pão, o suco, o vinho, o espaço sagrado, o beijo e o abraço.
O Semente nascera como organização neopagã ambientalista, mas se tornara também um local de beber. Beber de algo que nos permitia exercer nossas atividades em nossa vida cotidiana. Assim como uma mãe não amamenta por ser um dever, nossos esforços coletivos e individuais não eram apenas uma questão ecológica. Pois se assim o fosse, não resistiríamos por muito tempo, dada a enormidade do projeto e da escassez de apoio. Seguíamos porque amávamos e amamos o que fazemos, e uns aos outros. O amor sempre foi nossa cereja do bolo.


Papel & realidade


Sempre acreditei, como pessoa sensata que acho que sou, que a realidade define nossos passos. Em dado momento de nossa caminhada dividimos algumas tarefas e estabelecemos algumas diretrizes, ação necessária para fazer do grupo uma entidade jurídica reconhecida.
Mas a realidade define nossos passos, e isto nunca concretizou-se por questões várias como recursos e principalmente, pessoas engajadas. Contatamos tantas pessoas, mas seu número flutuava bastante, seja nas reuniões, nos encontros anuais, nos rituais públicos.

Esta era nossa realidade.
Aos poucos, mesmo os membros mais antigos afastaram-se, pois a vida chamava para outras batalhas, e era preciso definir aonde concentrar forças. Havia o papel e a realidade. Havia a lei e o amor, e quem me conhece sabe que sempre fui um chato para isto, mas no Semente (e na vida em geral) obtive novas lições. Como reger pelo papel pessoas de quem eu gostava em um grupo tão reduzido?


Alguém tem que ficar


Como membro mais antigo, fiquei a cargo de manter viva a chama. A realidade define os passos...
Com a ajuda de dois membros mais novos, durante o ano de 2007, enquanto os outros lutavam suas batalhas e eu trabalhava (no trabalho, lutando contra a mentalidade de desperdício de insumos como querosene, óleo hidráulico e afins para evitar que parassem na rede pluvial, e recebendo respostas como "E daí, a firma não é sua)", estudava em duas escolas (inglês técnico e mecânica para aviação), "ralava" para passar na prova da ANAC (passei!!!!, e vem mais três por aí!!!), auxiliava meus amigos do Educafro nos finais de semana, administrava as atividades do Semente Sagrada da melhor maneira.

Os que se afastaram do Semente, quando suas atividades assim permitiam, participavam dos rituais abertos, mas muitos não vimos por meses. Mas não precisava vê-los para saber que nossos princípios regiam seu dia-a-dia como regem o meu.
Esperava que, à medida que a corda se afrouxasse em suas vidas, retomassem seus lugares ao mesmo tempo que através de meus textos, combinado o melhor de nós que a religiosidade e a defesa ambiental, sensibilizar e educar minimamente os membros virtuais mais novos desta comunidade. Meu foco sempre fora este, e o amor pelas pessoas e por aquilo que o grupo representa em suas vidas era meu motor. Nunca questionei, acho, a Bia e a Anne, mas creio ser este combustível de suas vidas também. Afinal, que poderes tenho eu sobre as pessoas?


A realidade define os passos...


Recentemente recebi um comunicado do Regis pedindo a comunidade de volta. Ficara feliz com o contato, pois eu não via falara sobre o Semente Sagrada desde sua partida, meses atrás.
Mas havia algo errado... Ele não fora amistoso comigo, foi quase uma ordem. Estranhei o fato, pois não era assim que nos tratávamos. Coloquei-o como mediador movido pelo instinto. Havia algo errado... Pretendia fazer como sempre fazemos: sentar para conversar, todos juntos, até porque também devo respostas às meninas, mais até do que a ele, uma vez que elas estão comigo desde então. Foi quando começaram as postagens.

Alegando "estática ou inércia" na comunidade, chegara de forma abrupta tanto aqui como em outras comunas. Só que lá suas palavras não foram tão bem acolhidas...
Não entendi bem o termo inércia, se era no mundo real ou no virtual, se era em nível individual ou coletivo... No virtual, obviamente, só se pode escrever... e apesar das minhas atividades minhas postagens são regulares. Aliás, por pudor até, evito colocar muita coisa que penso para não centralizar a palavra sobre mim e estimular outros a escreverem também. Lembre: no mundo virtual do Orkut só é possível escrever. E o Orkut aceita tudo.

Confesso que o número de pessoas participando das atividades mínimas do Semente é bastante reduzido comparado ao número de membros virtuais. Mas nada diferente de nossa realidade, não? Os membros mais antigos devem lembrar de noites varadas a recortar convites, preencher à mão centenas de cartas, colar e selar, e rodar a cidade para coloca-las à tempo no Correio. Se todas as pessoas contactadas viessem... Mas sempre ia algo de nós nelas, algo de profundo, e sei que enquanto durou esta forma de comunicação, que algo se alterou na mente dos que as receberam.


Como sei?


Além da luta pela mudança de mentalidade que empreendo onde trabalho, sei que Paula faz o mesmo em sua escola de educação infantil, que Cibele sensibiliza suas crianças não só pela música, mostrando-as uma nova forma de ver a realidade, mas também pela confecção de brinquedos a partir de sucata. Anne em sua casa realiza compostagem no plantio de hortaliças e Bia provoca mudanças no enxergar dos animais que chamamos de alimento. São pessoas profundamente envolvidas com a educação e ação, onde o Semente contribui com algo nestes anos.



É curioso


Tudo o que é preciso fazer e sentar e conversar. Mas há quase dois meses vejo pessoas repetindo "vamos fazer, vamos fazer", sendo que coisas já são feitas. Não do modo que queriam, é verdade. E nem do modo que pensei, tenho que admitir, mas a realidade determina os passos...
Não atendo a provocações. Quem me conhece sabe que, para eu fazer algo, basta pedir. No entanto, depois de 3 anos de vida virtual, meu primeiro ataque no Orkut veio de pessoas de meu círculo de amizades. Gente que, como a Libéria, mora a duas quadras de minha casa e mais de uma vez topei na rua enquanto ia ao mercado comprar café da manhã. Nosso Grupo sempre conversou, e nossas conversas são no olho-no-olho. Por que tudo se modificara?


Sarcasmo, ironia


Respeitando a história destas pessoas no Grupo, as vi dilapidando não só o respeito que o Semente ganhou nestes anos, como sua amizade com os demais membros da comunidade virtual e dos membros do grupo.
A satisfação de pertencer a algo puro se desfez. Agora éramos iguais a todos os outros. A chama se apagara e eu fiquei no escuro.

E no escuro estou até agora.

quinta-feira, 20 de março de 2008

DO PODER




Nos tempos atuais quando evocamos a palavra poder parece que dizemos um palavrão. Soa como algo ruim que queremos aplicar sobre outras pessoas. Mas seu sentido mais profundo não se refere a despotismo.


Poder tem relação com a capacidade de realização, de transformar uma coisa em outra. Poder é fazer. Mas fazer o quê? Fazer pra quê? Fazer pra quem?

O que fazer?
Junto com a palavra poder vem a reboque outra imagem na mente das pessoas. A da cidade de Brasília, nossa capital federal, com seus palácios e seu homens engravatados falando, falando, falando... Incrível como achamos que somente a voz deles possui a capacidade de realizar alguma coisa. Nas propagandas políticas sempre afirmam que fulano fez isto, que sicrana realizou aquilo.

Ora, aprofundando, quantos destes homens engravatados realmente trabalharam sol a sol na construção de uma ponte ou na limpeza de uma praça? Digo, com pás, vassouras, trenas, formões? O que estas pessoas realmente fizeram?

Do modo que falam, e alguns até acreditam assim, parece que somente a sua voz fez brotar do chão as construções como se fosse mágica, ignorando totalmente as centenas de pessoas co-adjuvantes que arrancaram a carne da Deusa o material para levantar estas edificações. Foi um trabalho em conjunto, feito em sociedade.


Se o colocássemos isolados, no canteiro virgem de obras estes homens do ar condicionado e disséssemos: FAÇA! O que ele realmente fariam?


Para que fazer?


Já se questionou o porquê de muitas coisas que existem por aí? Já prestou real atenção aos comerciais de tevê? Os de produtos alimentícios, por exemplo, vendem coisas com sabor artificial disto ou daquilo. Poxa, por que provar algo com sabor de morango se posso comprar o próprio fruto?


Os comerciais apelam para criar um desejo de ter prazer que não sabemos se queremos, e isto é um fato. E para sua realização devemos comprar, pois só assim teremos prazer. Mas a compra deveria atender primeiro as necessidades, vindo o prazer a reboque.

E mesmo quando obtemos o objeto de desejo, não a garantias da nossa satisfação. Nos comerciais o ator dirige por ruas vazias ao lado de uma bela mulher. E na vida real, o que temos?


Então fica outra pergunta: necessitamos o que queremos?

Às vezes sim, às vezes não. Mas como tudo se transforma de algo para algo, é interessante saber o porquê de certas criações para não abrirmos a Caixa de Pandora. Não dá para toda a população mundial consumir tudo aquilo que nos é mostrado na tevê. A Mãe Gaia não dá conta, gente!

Somos 6 bilhões de pessoas. 6 bi!!! É surreal achar que todo mundo pode ter iPod. Quando ficarem velhos, como descartar? E as baterias? Embalagens? Dá pra trocar todo ano? Quem promete resolver tudo isto num passe de mágica fala a verdade? Porque esta pessoa ou grupo fala assim?



Para quem fazer?

Vivemos em uma sociedade cuja a economia majoritária se baseia no capitalismo. Digo majoritária porque seria pretensão afirmar que todo mundo é capitalista. Seria como dizer que todo mundo é hétero, branco, cristão e corintiano.

Não, não somos todos capitalistas, mas boa parte ou o é, ou tenta entrar neste grupo econômico atraído pelas vantagens que ele oferece.


Quando fazemos algo, fazemos sobretudo em benefício próprio e isto não é crime. Este ato, no entanto, quando beneficia outra pessoa é algo legal. Quanto mais pessoas são beneficiadas, melhor ainda. E se este bem atinge um número maio de pessoas, durante um espaço de tempo grande, mesmo que o ato e ator iniciais tenham se extinguido, nossa, coisa é de inspiração divina!

O poder de nossa caminhada no mundo sempre deixa pegadas, a não ser que sejamos fantasmas. Cuide para que a sua passagem seja capaz de melhorar a sua vida e a do seu vizinho ao menos. Busque as reais intenções de suas ações, pesando prós e contras, indo além da satisfação dos desejos.

Somos parte da espécie mais poderosa da terra graças as ferramentas que criamos. E isto não é pouca coisa.

Afinal, quando só você goza, é estupro. E penso que Gaia se cansou disso a muito tempo.


Segue a sequência de um filme antigo que marcou a minha infância, na sessão Charles Chaplin, que passava aos domingos no canal do plim-plim, rs!


sábado, 8 de março de 2008

DA MULHER



O Dia Internacional da Mulher hoje é comemorado com flores e bombons, mas suas origens são menos nobres e alegres que as atuais.

Um dedinho de história
No dia 08 de março de 1857, 129 em uma fábrica de Nova Iorque foram mortas por um incêndio causado pela polícia durante um protesto por redução de carga horária e auxílio-maternidade, além de outras reivindicações.

Hoje, porém, pouco se comenta sobre estas coisas, salvo publicações feministas, de cunho socialista ou histórica.

Incesto, estupro e as mais variadas formas de violência cometidas contra o feminino (e porque não, machos-beta também), seja em nível divino ou humano, não encontram atualmente seu contraponto. Hoje o feminino assumiu o título de "cachorra" em muitas partes do país, salvo exceções. Tudo é comerciável sob o Capital, e se um corpo está no mercado, porque não comprar?

Estranho é que muitas aceitam o posto. Muitíssimo estranho é o silêncio da maioria. Muitisíssimo estranho é um homem tocar no assunto...

O Corpo da Terra
Não é exagerado dizer que aquilo que acontece ao corpo nosso também acontece ao corpo da Terra. Os mitos gregos, que ajudaram a moldar a consciência do mundo ocidental, nos dão pistas de como isto se dá através das histórias de Zeus, senhor do Universo.

Preocupado em satisfazer a si próprio e aos seus interesses, ele vê, vai e vence. Submissão aos seus desejos é a única alternativa. Sua tomada de poder segue um ciclo de violência começado por seus antepassados, do qual ele é mero seguidor.

Gaia, Demeter e Kore... avó, mãe e filha, são apenas mais uma peça no espólio de guerra. Hoje a história se repete em Danfur com os estupros sistemáticos, na Argentina com as famílias que buscam o corpo de seus parentes mortos pelo regime militar, no interior de nosso país nas lutas campesinas.


A Mulher Pagã

Sabem, sempre desejei que as mulheres pagãs tomassem a frente das iniciativas sociais em defesa de seu gênero. Afinal, muitas delas usam como travesseiro o livro Mulheres que Correm com os Lobos, da escritora Clarissa Pinkola Estés. E leio muito sobre a descoberta que muitas mulheres fizeram a partir desta obra e das rodas de conversa propostas por muitas delas em todo o mundo.

Meu desejo mais profundo é que estes círculos de poder se fortaleçam e que, quando chegar o momento, possam convidar homens interessados nas mulheres lupinas para que juntos possamos mudar a realidade do mundo. Acredito hoje que são as mulheres pagãs as mais aptas para realizar esta transformação, se a semente da mudança for bem cultivada em seu coração.


Perguntas pertinentes
A quantidade de mães solteiras cresce a olhos vistos. Como esta nova geração se desenvolverá?

As clínicas clandestinas abortivas operam a todo vapor. Legalizar? E em que moldes?

Mulheres da África e Oriente são vítimas de apedrejamentos e estupros em massa(!). Não é de nosso país, nem de nossa religião, logo não é de nossa conta?

Como ver a Terra como Mulher mas permitir que suas filhas sejam violadas desta maneira? Ninguém ouve os gritos de Korê?

E mulheres do meu Brasil, lembrem-se da máxima: antes só que mal acompanhada!


segunda-feira, 3 de março de 2008

DOS LOCAIS SAGRADOS



Lago do Bosque Maia, em Guarulhos

Na Itália, à beira de um antigo vulcão, existe uma cidade. Próximo a esta cidade um bosque, e neste bosque um lago. O nome da cidade, do bosque e do lago é um só:
Nemi.

Seriam uma cidade, um bosque e um lago comuns se não fosse a fonte de estórias e histórias. Reis-pescadores, cálices sagrados, heróis mascarados...

Pode parecer viagem, mas quando caminho pela trilha sinuosa em torno das árvores e deparo com o pequeno lago aqui no Bosque Maia aqui em minha cidade, e vejo o sol da tarde refletido em suas águas enquanto aguardo o povo para as celebrações, não sinto inveja dos italianos.

Sagrado é o lugar onde vivemos e comemoramos com os Deuses e amigos. Sim, é preciso dividir o espaço com crianças, apresentações artísticas, curiosos passantes e casais de namorados. Mas, enfim, este é o preço da vida moderna dos bruxos, rs!



Saúde, amizade, liberdade




Sergio Thot.