Páginas

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

DAS DIVINDADES ARISTOCRÁTICAS




Este novo foco a que me refiro baseia-se no entendimento que tenho sobre a palavra pagão: do latim
paganus (camponês, agricultor), estes Deuses são aqueles ligados à colheita, vegetais, alimento. Por extensão, também os associo aos deuses da caça e pesca, lugares selvagens, corpos celestes e ancestrais.

Em um mundo regido pelos ciclos naturais, onde a humanidade vivia com aquilo que retira da terra, Deuses mais aristocráticos e dotados de atributos mais “sofisticados” não inspiram grande devoção.



Mão na Enxada


Posso citar como exemplo Amun-Rá egípcio, cultuado nas grandes cidades pelos faraós e sacerdotes, mas que não se sobrepõe a Osíris (o rio Nilo) e Isis (seu vale inundável e fértil).

Entre os gregos temos Zeus, Hera, Áries, Hades. Apesar de poderosos, todos se renderam a Demeter em ocasião do rapto de sua filha Kore/Perséfone. Os Mistérios Eleusinos sobrevivem até hoje, segundo me consta, em agradecimento a Demeter e Perséfone, senhoras da agricultura.




É Carnaval!


Na Roma Antiga temos a Lupercália, culto ao Deus Lobo Lupercus, guardião da cidade. Fortemente ligado à fertilidade e proteção dos rebanhos, seus sacerdotes vestidos em peles de lobo açoitavam com cintas mulheres dispostas a engravidar.

Como quanto maior a área atingida maior a possibilidade de fertilidade é de se esperar que tais cultos terminassem em uma grande festa de pessoas seminuas. A data em que se comemorava a Lupercália era 02 de Fevereiro, data curiosamente próxima do nosso carnaval.

Como de hábito, afim de submeter o povo à nova religião, o cristianismo transformou o evento numa comemoração mais comportada: o Dia dos Namorados, comemorado em 14 de Fevereiro em alguns países do mundo.

Vocês conseguem ver um membro de alguma alta casta social dançando seminu pelas ruas de uma cidade? Confesso que seria interessante.




Falando em Carnaval...


Luís da Camara Cascudo, escritor brazuca, narra na obra "Antologia do Folclore Brasileiro" os acontecimento de uma "Festa de Baco em Pernambuco", comemorada depois da festa da Nossa Senhora dos Prazeres. Atenção ao Hino báquico:

"Bebamos, companheiros.
Bebamos, companheiros.
O suco da uva.
O vinho verdadeiro."

Lógico que, após tentativas das autoridades para dar um fim pacífico à festa não surtiram efeito, as forças públicas do governo, com uma "numerosa força de infantaria e cavalaria" deram um ponto final ao assunto. Afinal, somos um país cristão onde festas deste naipe não são bem vistas.

Nosso próprio carnaval, antes da pasteurização das escolas de samba e realizado em avenidas artificiais, foi vítima de perseguições mil numa época que droga pesada era lança-perfume. Deixou de ser festa popular no pleno sentido da palavra.





Coisa de Pobre


Deuses pagãos, no sentido estrito da palavra, são cultuados pelas pessoas que "ralam" no sol e na chuva. Seus cultos são melhor realizados nos campos do que em palácios cobertos de ouro. Seus sacerdotes possuem as mãos calejadas e os pés com o barro da terra que dão sustento a eles e a nação.

Um templo pagão é mais uma imagem de um campo coberto pelas espigas de milho brilhando à luz do sol do que a do Partenon esteticamente perfeito.
Pense nisso!
Sergio Thot.

Ps.: Essa coisa de mato, de casinha com varanda pede Zé Geraldo, hein minha meiga senhorita?


Sergio Thot










3 comentários:

  1. Eu creio que as pessoas mais pobres prestam mais atenção as coisas, por estarem em maior contato com essas metamorfoses. E na epoca antiga, eles estavam a merce dessas mudanças, o que gerava neles essa coisa do culto, de agradar para nao sofrer as consequencias.
    Ja hoje em dia é diferente, voce tem como se proteger dessas mudanças, o que o faz ter fé por amor, e nao por medo.
    Post interessante. Nunca tinha pensado por esse lado!! =]

    ResponderExcluir
  2. A questão vai até mais fundo, Nimbus.

    Os sacerdotes do Deus Ares, por exemplo, eram centuriões (soldados).

    Vivendo longe da polis, os pagãos não incomodavam-se com as e questões do Estado. E vice-versa.

    A gente, em geral, observa melhor a realidade em que vive.

    ResponderExcluir
  3. E pensando mais profundamente ainda: nos tempos de guerra são os pagãos os primeiros a sofrerem, tanto nas mãos dos governantes quanto nas mãos dos soldados inimigos.

    Quem trabalha não tem tempo nem interesse em guerra.

    ResponderExcluir

Cultivaram esta Semente: