"Tomai a minha causa, grous, já que nenhuma voz, além da vossa respondeu ao meu grito."
Íbicus ensaguentado, clamando por justiça
O Livro de Ouro da Mitologia, de Thomas Bulfinch
Olá a tod@s, como vão?
Quero abrir meu coração a vocês diante das notícias referentes aos ambientalistas mortos no Pará [1], que defendem a floresta com o próprio sangue. Mas especificamente sobre o porquê de coisas como estas acontecerem em uma nação que tem a pachorra de querer sediar eventos mundiais importantes como a Copa e as Olimpíadas, mas que não consegue controlar seu próprio território. Pessoas como José e Maria não fazem a defesa da floresta porque é cool ser ambientalista. Defendem sobretudo seu sustento imediato, porque suas vidas dependem disso.
Senhoras e senhores, existe uma lista de pessoas marcadas para morrer[2]. Podem imaginar isso? Eu não posso. Houve uma reportagem de um grande canal de televisão alertando para a existência de tal lista. Milhões de pessoas viram, no entanto as forças constituídas não deram a menor bola. Era preciso que houvessem corpos. Os corpos existem. E agora?
Para entender porque foram morto é preciso entender o que é extrativismo.
José e Maria
José e Maria viviam a mais de 20 anos em uma área verde preservada na cidade paraense de Nova Ipixuna. Com outras famílias viviam da coleta de frutos da castanheira-do-pará e óleos vegetais. Ou seja, não era interessante a derrubada da floresta, mas seu manejo. No Brasil existem as chamadas reservas extrativistas, que tem a finalidade de prover recursos de subsistência às suas populações e ao mesmo tempo, mantém a floresta através do uso sustentável[3].
A questão é que a própria castanheira, assim como outras espécies da região, possuem um preço quando cortadas e vendidas para o mercado interno e/ou externo. Como árvores deste porte levam décadas para atingir a idade adulta, derruba-las é danoso em muitos aspectos, pois é deixar famílias ao deus-dará. A derrubada da floresta implica em abrir grandes extensões de área que são ocupadas para o plantio de monoculturas do agronegócio, como a soja, visando a fabricação de ração para o gado europeu e a pecuária nacional.
O lucro, como a história do capitalismo prova, não pode ser detido em nome do assim chamado "mato". Mato é para queimar. As pessoas também, se entram na frente. Existe uma lista de pessoas marcadas por estes verdadeiros Comensais da Morte.
A queda da floresta também envolve a desertificação da floresta, com a ocorrência de secas no Amazonas somadas a outras questões climáticas complexas[4]. Pode imaginar o Rio Amazonas sofrendo com a seca? Por isso temos esta luta de titãs entre o agronegócio e os ambientalistas regada a sangue. Durante o governo anterior o palco da luta mudou para os ministérios, vocês lembram? Os quebra-paus civilizados entre Marina Silva e Dilma Rousseff e suas pastas do Meio Ambiente e Desenvolvimento?[5]
E mais uma vez temos morte na mata. Foi quando lembrei de Íbicus.
Íbicus
Poeta grego, seguia sozinho pela estrada rumo a Cidade dede Corinto, onde jogos e apresentações o aguardavam. No meio do caminho fora surpreendido por ladrões que o feriram de morte. Era um poeta e não um guerreiro. Ensanguentado, clamou por justiça mas exceto os bandidos que gozaram dele, nenhum ser humano ouviu suas preces.
Caído e só, lágrimas escorreram das faces. Quem lhe daria um enterro digno antes que as feras da floresta reclamassem seu corpo frio? Sua alma não teria paz e vagaria entre os mundo. Enquanto a vida se esvaia dele e os mal-feitores contavam seu butim, um grupo de pássaros chamados grous cruzou o céus. Eles responderam ao chamado! Já não estava mais sozinho e assim o poeta Íbicus morreu, olhando para o céu. Leia sobre a história de Íbicus no Google Books clicando AQUI.
Clamor às Erínias
Neste momento, enquanto eu escrevo ou enquanto você lê, outras pessoas sangram por acreditarem em algo que é maior que elas mesmas. Seja no asfalto, ou num chão de folhas ou nas areias de uma terra distante. Que as mãos frias das Erínias alcancem seus algozes e que não tenham paz até que justiça seja feita.
Que Assim Seja. Que Assim se Faça!
Sergio Thot.
Creio que nos acostumamos ao discurso do "Vamos salvar o planeta". Isso é balela. O planeta estava aqui antes de nós e permanecerá depois de nós. O que vamos salvar é nossa pele.
ResponderExcluirÉ disso que a ecologia se trata: de salvar a própria pele.