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sábado, 24 de novembro de 2007

DO CAMINHO SOLITÁRIO




Estar sozinho quando não se quer é mesmo um porre, não? Em muitos aspectos da nossa vida comum também nos sentimos sós quando o que mais precisamos é uma compainha na caminhada. Sabemos que carregamos conosco o divino, mas o contato humano, com suas contradições e complexidades nos é essencial, pois é isto (justamente isto!) que nos faz modificar.

Muitos optam pela solidão voluntária pois acham que trabalhar em grupos ou associações lhes mata a liberdade. Doce ilusão. Não há liberdade na solidão, pois somos todos interdependentes. Somos animais sociais, somos homo socius.

Negar o encontro com o outro por medo ou tentativa vã de libertar-se é amarrar a consciência à estagnação. "Crescemos" a cada vez que resolvemos nossas crises. Não é na crise que se cresce, mas na sua resolução.


O trem passou e você perdeu?

É, a solidão pesou, não? Nada como a vida em grupo, em coven para nos dar valiosos ensinamentos. Não adianta esse papo de pagão solitário. Como aprender sozinho?

São duas as opções:
1) Contar com o próximo trem, que passará sabe-se lá quando os Deuses planejaram
2) Você ser a maquinista desta locomotiva

Se sente em seu coração o chamado, percebe que ele lhe empurra para a solução deste problema tal qual um alarme em sua cabeça.


Mas e o Caminho Solitário?

Ah, é fácil para uma galerinha se dizer solitária mas aproveitar dos benefícios de todo o conhecimento bruxístico acumulado! Bebem da fonte e cospem nela com desdém quando fazem isto. O VERDADEIRO caminho solitário envolve obter conhecimentos do Divino Interior, sem qualquer resposta os estímulos de fora!

O tarô ilustra excelentemente isso:a jornada alma é levada a sair do seu estágio letárgico e jogar-se no mundo (mito do herói). Neste momento, somos heróis de nossa história e nos dependuramos na árvore em busca da Iluminação, da luz que vem de dentro. E como nos contos que nos inspiram, você será conduzida a fazer coisas extraordinárias que, ao menos neste momento, ninguém entenderá.

Não espere que as pessoas lhe encontrem, é meu conselho. Encontre-as!!! Como? Seu coração sabe! Escute-o!

Vai doer? Provavelmente. Dará resultado? Dependerá de sua resistência, planejamento e dos aliados que possui. Mas é melhor isso que a imobilidade. Imobilidade cria pântanos: sejamos rios caudalosos.

Meus abraços e Sorte na sua Busca!


DO RETORNO

Sinto em conversas com cristãos de meu trabalho um certo "largar de mão" no que se refere ao tomar participação em nossa realidade. Eles olham para o mundo e falam de doenças, violência e corrupção, colocam tudo em um saco e escrevem "fatalismo". Ou seja: é irremediável, entregaram a Deus.

Creio que parte deste pensamento vem do fato de crerem em uma existência pós-morte no paraíso longe desta dimensão, ou na terra depois do expurgo, ou algo similar.

Vez após vez
Como uma boa parte de mim retornará para a existência após minha morte, quero herdar de mim mesmo um lugar, no mínimo, igual ao que deixei. Vida após vida, algo de mim que fora pedra, rio, árvore, tiranossauro rex, peixe, mosca, minhoca, estrela retorna e passa a ser parte de outros seres.

Não posso dar certeza de que algo de minha consciência sobreviverá após o término desta individualidade. Mas sou religioso, então há horas em que ter fé basta.

Pode ter aí uma dose de conservacionismo conforme citado acima, mas quem não busca para si algum conforto nesta vida? Aceito a fome, o frio e a doença como partes de minha caminhada na Terra, mas também aceito o fato que lutarei contra estas situações para manter-me vivo.

No fundo é disso que trata a Wicca: como toda religião, busca uma explicação satisfatória para aquilo que acontece quando fechamos pela última vez os olhos. Talvez agora, porque a base dela é formada por muitos jovens, esta questão não esteja na pauta do dia, mas a medida que seus praticantes envelhecem, as perguntas mudam de "feitiços de amor" para coisas mais viscerais, profundas.

Não há um céu que nos espera. E nosso destino está atado à Gaia, queiramos ou não.

Então será a hora de nossa última caminhada, a sós, pelo caminho que Perséfone nos abre.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

DAS CHUVAS


A semana passada foi de frio e chuva aqui em Guarulhos. Tremi de frio às portas do Solstício de Verão.

E agradeci a cada gota que caia, ainda que seja ácida. Ainda que não possa mais bebe-la do seio da nuvem assim como fazia meu avô. Do seio!


Agradeço pela grama e pela árvore alta. Ainda que hajam poucas árvores, e a grama seja proibida. Proibida!

Agradeci em nomes dos que umedeciam o ar dos quartos com toalhas estendidas, em nome das flores secas nas praças e pombas sedentas. Ainda que seja poucas as flores e doentes as pombas. Pombas!


Agradeci em nome da represa de terra rachada e pelo agricultor ansioso. Ainda que o nível caia ano a ano, e que o transgênico coloque um código de acesso em cada semente. Semente!

Agradeci em nome do rio. Rio domesticado, cercado de concreto, mas ainda vivo. Que ruge, que ruge (pois há um dragão em cada leito)! Concreto!


Agradeço ao Divino pelas bençãos dos céus. Ainda que sejam sob luta. Luta!


Que o equilíbrio perdure. Que dure enquanto canta o trovão. Que cantemos!

Que Assim Seja!



Sabem o que rima com chuva?

Cordel do Fogo Encantado!


terça-feira, 20 de novembro de 2007

DO SACRIFÍCIO







Sacrifício: Sm. 1. ato ou efeito de sacrificar (-se). 2. Privação de coisa apreciada. 3. Renúncia em favor de outrem.



A medida que o Ano Pagão caminha para seu final, nos aproximamos do Início do Outono. Há algo de agridoce nesta data, pois ao mesmo tempo que celebramos os primeiros frutos, seremos parte do cortejo que acompanhará o às portas do Início do Inverno, onde Divino iniciará seu inexorável caminho rumo ao Submundo.

Mas, o que é o sacrifício para nós, wiccanos?


O Sacrifício no Neolítico

No período histórico conhecido como neolítico a humanidade conheceu um florescimento social e cultural jamais visto até então. Com a fixação do homem à terra através da agricultura e posterior surgimento de aldeamentos, foi possível viver de maneira mais segura e, porque não dizer, mais filosófica.

Instrumentos que antes eram meramente utilitários agora ganhavam elementos decorativos. Surgem evidências de brinquedos e passatempos, arte e preocupação com os mortos. Com os excedentes de produção nascem as trocas, dinheiro e comércio. As idéias também viajam, logicamente.

Neste ambiente os arqueólogos encontram em locais diferentes como Çatal Hüyük, Malta e Creta indícios de uma cultura voltada ao culto à Deusa. Nestes ambientes e períodos, no auge de suas culturas, não é encontrada qualquer forma de sacrifício ritual, seja na forma de instrumentos, corpos ou pinturas. Supõe-se que ondas invasões/colonizações indo-européias posteriores (pro-gregos, proto-celtas, proto-germânicos, entre outros) trouxeram o culto solar a estas culturas. E, no seio do Culto Solar regido pelo Deus Pai, encontramos o sacrifício ritual.


Mesoamérica


Uma bem documentada experiência de sacrifícios humanos a fim de apaziguar a Divindade encontra-se nas escavações de cidades das Américas Central e do Sul. Os astecas, antes da chegada dos conquistadores europeus, segundo estudos, sacrificavam prisioneiros de guerra para alimentar seus Deuses. Costume similar foi achado em sítios nas terras maias.

Faça-se notar que elite e sacrifício sempre caminham juntas, pois eram as mandatárias de tais atos. O povo é que penava, seja nas guerras, seja no medo deles mesmo viram vítimas sacrificiais.

Na mesma época das Conquistas, as fogueiras da Inquisição já lambiam a Europa, e suas labaredas chegaram na América. Estes homens santos até meados de 1800 permitiram a destruição dos corpos a fim de lhe salvar as almas. E pensar que o europeu considerava os nativos da Ásia e América, selvagens...


Vontade divina

Estes bem-intencionados homens esquecem os barbarismos narrados em seu próprio livro sagrado, afim de aplacar a vontade de Jeová por sangue. Sem citar todos os confrontos que levaram o Povo Escolhido a tomar as terras das nações vizinhas, podemos citar a tentativa de infanticídio que Abraão cometeria sobre Isaac, seu único e precioso filho, sob ordem divina. Chamam isso de prova de fé.


Maturidade

Cada povo possui seu tempo para madurar as suas relações internas, e seu relacionamentos com o divino não escapa disto. Quanto mais violentas, verticais, hierárquicas forem as sociedades, mais brutais e opressoras são suas relações com o Divino, tendo geralmente a figura do Pai como primazia.

Sob esta pressão o povo comum recorre geralmente a uma intercessora, alguém que possa mediar as relações dentro do círculo divino. No cristianismo do século I, este papel coube a Maria, que também serviu, é preciso dizer, para substituir o culto a Ísis.

Em 1989, durante os protestos da Praça da Paz Celestial por liberdade, nascia em meio ao povo a Deusa da Democracia, que olhava para o gigantesco poster de Mao Tse Tung, patriarca desta revolução que, dias depois, massacraria seu próprio indefeso povo com tanques e armas pesadas.


Um toque feminino

Pode-se supor que as figuras femininas nas religiões possuem papel passivo, mas isto é um engano. A morte e o confronto também As acompanhavam, mas de modo diferente.

Raramente lhes são oferecidas criaturas sangrentas para sacrifício ou mutilação, e mais raramente ainda, humanas. As Valkírias, guiadas por Freya cavalgam as nuvens em busca de soldados mortos nos campos de batalhas, enquanto a Deusa Morrígan velava pelos celtas.


Cibele

À Deusa Cibele, da Frígia (atual Turquia), os sacerdotes dedicavam não só seu tempo. Conta-nos os historiadores que mutilações eram feitas em seu nome. Que os sacerdotes de seu templo cortavam seus órgãos sexuais par dedicarem-se à Deusa.

Pagãs transsexuais modernas terminam por aceitar Cibele em seus cultos pois identificaram-se com este aspecto da Deusa. Rachel Pollack, em seu livro "O Corpo da Deusa" conta-nos que na Índia, os hijra, sacerdotes da Deusa Bahuchara, são supostamente emasculados nos tempos atuais, baseado em testemunho da ativista americana pelos direitos dos transsexuais, Anne Ogborn.


Bode Expiatório

O termo bode expiatório é de origem judaica, onde um bode era solto pelo sacerdote no deserto, e que este levava os pecados da comunidade com ele.

Muitos autores, como os Farrar, afirmam que uma alternativa à morte sacrificial do rei era a colocação de um criminoso em seu lugar.
Tenho a sensação que a pena de morte faz do condenado uma espécie de bode expiatório, uma válvula de escape das frustrações das pessoas.

Conversando com as pessoas sobre isto, todas as razões que me apontaram giravam em torno de um único sentimento: vingança, e prazer na morte.

A pena de morte não edifica (obviamente) o condenado e nem a sociedade que a apóia. É somente um ato vingativo. E, falando no campo religioso, o Divino não busca a vingança ao executar a Justiça.

É necessário então que a pena de Maat pese não só o coração de quem se condena, mas de quem também o condena.



Oh, que bela guerra!

Acontecem neste momento, enquanto eu escrevo e você me lê, alguma forma de conflito armado no planeta. Neste momento homens mulheres e crianças matam e morrem por algum motivo. Apesar de acreditar na autodefesa dos povos contra as investidas de aventureiros, preferiria que a Terra não fosse arrasada por bombas, forrada por minas terrestres e encharcada pelo sangue humano.

Mas, apesar disso, o culto a guerra predomina pelos mais variados motivos, mas nenhum deles faz menção ao fato de que nações são arrasadas por gerações. Seja por orgulho nacional, aquisição de recursos naturais, defesa de uma terceira nação, a propaganda da guerra mostra homens e máquinas disparando armas. Mas não há nestas mesmas propagandas o efeito que estas mesmas armas causam aonde cairão.

Mas, se em um certo momento, perguntarmos a estes apoiadores da guerra se aceitam o sacrifício humano, eles dirão horrorizados "Nãããããããããããõoooooooo!" Curioso, não?


Sangue


Verter sangue e não morrer sempre foi uma qualidade feminina. Quando uma pessoa se fere atualmente não teme pela vida, pois temos a comodidade dos hospitais à nossa disposição nas áreas mais urbanizadas. Porém,imagine o que era para um caçador ou guerreiro a perda de sangue, longe de casa e de maiores cuidados, e sem os conhecimentos necessários para deter o fluxo ou limpar a ferida?

Supõe-se que uma das causas da natural associação da mulher ao Divino seja a capacidade de não só gerar filhos (em um tempo que tal "mecânica" era desconhecida e o papel masculino nisto, ignorado), mas também de poder sangrar em seu ciclo menstrual. Se muitas mulheres permaneciam juntas, os seus ciclos se ajustavam, e estes ainda por cima, coincidiam com as fases da Lua!

Sangue menstrual era misturado à leite e mel e espalhado nos campos a fim de devolver à Terra sua fertilidade perdida.


Alternativas

Os wiccanos hoje são totalmente contrários aos sacrifícios animal e humano (obviamente). Muitos ainda abrangem este conceito à alimentação e vestuário, não consumindo qualquer produto de origem animal. Também são simpatizantes ou atuantes em diversos orgãos de direitos humanos.

Se querem sacrificar algo, o fazem através de seu tempo e esforço, não fazendo uso de vítimas vivas. Quando querem fazer um sacrifício ou pacto de sangue, vão a um hospital e fazem uma doação em favor da Humanidade(rs).

Este é uma forma verdadeira e moderna de sacro ofício.

Viu? Simples!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

DA CURA






Nada morre, tudo se transforma. O Espírito vaga, vindo ora cá, ora acolá, e ocupo qualquer forma que deseje. De animais, passa a corpos humanos, e de corpos para animais, mas jamais perece.


Pitágoras, Metamorfose XV.

Vez ou outra nós pagãos recebemos pedidos para confecção de rituais curativos, afim de dar cabo de doenças que atingem o corpo físico das pessoas. São netos, filhos, maridos, mães, irmãs, namoradas, amigos desejosos de ver seus entes queridos restabelecidos. E isto quando a magia pedida não se dirige ao próprio solicitante.

Muito escreve-se em livros wiccanos, em comunidades e "sites" sobre rituais e práticas de cura usando técnicas originárias desde o distante oriente e centro-europeu aos povos nativos das Américas e África: homeopatia, cromoterapia, aromaterapia, pedras quentes, acupuntura, massagens, bençãos, passes e afins. Mesmo aqueles que pouco ou nada crêem submetem-se as mãos diversas práticas afim de retomar a saúde quando todas os tratamentos tradicionais se esgotaram.


E é muito estranho falar de tratamento tradicional para métodos de cura que só têm poucas centenas de anos de existência! Durante milênios o tradional era a consulta ao mago da aldeia, à parteira e mesmo os ferreiros e outros mestres de ofícios. Os medicamentos eram menos sintéticos e a cura vinha quase que diretamente da Natureza. Aliás, falando nisto, convido vocês a passarem pelo blog Cura pela Natureza, que trata especificamente deste assunto.



Preparando o Caminho

Como religiosos, deve-se salientar que as práticas rituais de cura dentro de uma estrutura religiosa visa, principalmente, a cura interna, espiritual. Em essência, lidamos com o intangível, com aquilo que não é material e não pode ser tocado pelo bisturi ou alopatia. As doenças em seu aspecto físico são melhor curáveis, deste modo, com a medicina tradicional.

Para ilustrar, é senso comum dizer que é mais fácil e eficaz levantar uma caneta da mesa simplesmente pegando-a que juntar em torno dela dezenas de sensitivos para faze-la levitar.

Há muito a ciência alopata tem salvo vidas das doenças que hoje são de simples cura ou prevenção, como gripes ou paralisia infantil, mas que a pouco mais de cem anos ceifavam vidas independentemente de sua posição social ou dinheiro no bolso. Não há imposição de mãos que sare melhor uma perna quebrada do que o gesso, convenhamos.

Lógico, temos os milagres: impossíveis de provar, porém há centenas de relatos que ultrapassam fronteiras religiosas não podem estar errados. Mas a quantidade destes homens e mulheres santas é insuficiente para o atendimento efetivo da população humana.

Para tudo existe um limite, e nossa ciência que quase dobrou nossa expectativa de vida, unida é certo a alimentação balanceada, exercícios físico e uma boa dose de felicidade periódica não pode nos livrar das mãos da Ceifadora.

Então, não há esperança? Estamos à mercê da morte?


Esperança

Doenças psicossomáticas, de hábitos alimentares deficientes, de vidas sedentárias modernas, vícios vários em geral respondem por boa parte dos casos que chegam aos hospitais. Isto sem contar a violência em suas mais diversas formas e origens.

Mas não raro vemos ou lemos sobre líderes religiosos que, baseados em suas interpretações de textos sagrados, transmitem a idéia de o corpo (humano, animal, da Terra) é sujo, naturalmente pervertido, falho, e passível de abandono. Para os escolhidos, resta uma vida incorpórea num paraíso celeste ou terreno. Este, todavia, pasteurizado.

Quem cai na malha deste pensamento ruma assim ao sentido oposto: ao invés do auto-conhecimento, o abandono. A doença deixa de ser o aviso que algo em nosso estilo de vida está errado para tornar-se um flagelo divino, um ato vingativo.


A Roda Gira

A Wicca, através da obediência, percepção e consciência da Roda do Ano, propõe a seus membros não só a correta avaliação de seus potenciais e deficiências, vícios e necessidades, mas também sua abstenção, cura ou tratamento. Quando nos identificamos com a Divindade que morre e retorna, renovada, algo em nós "desce e retorna" também.

A Roda do Ano também nos ensina o conceito da infinitude das coisas: não a do indivíduo, mas da Vida em parcela que ele contém, e que se transmite ao outro nas mais diversas formas: numa palavra, num gesto, numa criação material, artística, conceitual, em um filho uma árvore ou livro (familiar isso, não?).

A Roda nos diz que viver não é respirar, comer, defecar, morrer, procriar apenas, mas que em maior ou menor escala estamos aqui para algo que é maior que nós. E que há um tempo para realização, um tempo para descanso e um tempo para o retorno.


Pausa

A doença nos fornece uma pausa, ainda que forçada, para esta reflexão: o que fiz até agora de minha vida? E, se sobreviver a ela, o que farei de extraordinário?

Em muitos casos a cura não depende só dos Deuses, dos remédios ou médicos. A peça principal é o doente, e dele parte a firme decisão de viver ( e para quê) ou morrer (e porquê).

Então, qual a sua decisão?

Toda vez que leio o texto acima, a música do Lulu Santos ecoa em minha cabeça! Veja se ela se encaixa!



Sergio Thot


quarta-feira, 7 de novembro de 2007

DO CORPO DE GAIA



Perceber é tornar consciência do mundo através dos cinco (ou seis) sentidos. Não é só: também significa raciocinar sobre o que se sente. E estar vivo é reagir diante do que se sente.

Estar vivo é respirar? É pensar? É comunicar? É sentir? É tudo isso? Será mais?


Hipótese Gaia

A Hipótese Gaia, de James Loverlock e Lyn Margolis pressupõe que a Terra é uma entidade viva e que reage a nossas atividades. Mas como pode um bloco de ferro e silício como nosso planeta seria vivo? Responde-se esta pergunta com outra: como criaturas de base química carbono como nós podem ser vivas? Para os seres que vivem dentro de e sobre nós, somos criaturas vivas?

Em seu livro "Gaia: A New Look at Life on Earth", Loverlock e equipe usam como parâmetro uma característica encontrada tanto no planeta quanto nos seres vivos.

Mesmo diante de mudanças externas causadas como por exemplo variação na quantidade de energia solar durante milhares de anos, a atmosfera se “esforça” para manter suas condições básicas. Dispensa dizer que tais condições servem de suporte a vida na superfície da biosfera.


Fragilidade

A vida é por princípio frágil e valiosa. Se usarmos estes valores para definir o que é vivo e inerte, nosso espectro se reduz consideravelmente. Larvas, ervas daninhas, insetos, animais pequenos e grandes, e mesmo homens perdem sua característica vital... quando nos é conveniente.

Mesmo a racional ciência está impregnada dos valores culturais, morais, éticos e financeiros de seus pesquisadores e sociedades.
Principalmente quando o alvo da pesquisa não oferece respostas fáceis.

Sem dúvida a Hipótese Gaia é sustentada por pessoas simpáticas a idéia, mesmo que seus dados ainda sejam inconclusivos.
Talvez sejam guiadas por uma forma particular de percepção, afirmando que a vida e consciência podem se manifestar de varias formas.

Se confirmada, pode iniciar uma mudança na forma em que olhamos os seres: não só como indivíduos, mas membros, passageiros de um gigantesco corpo chamado Gaia, que por sua vez faz parte de uma imensa família chama Sistema Solar, que por sua vez...

Se confirmada, pode iniciar uma mudança na forma em que olhamos os seres: não só como indivíduos, mas membros, passageiros de um gigantesco corpo chamado Gaia, que por sua vez faz parte de uma imensa família chama Sistema Solar, que por sua vez, faz parte de uma imensa família chamada Via Lactea, que por sua vez...


O Inverso Também é Verdadeiro!

E se as cidades são os ajuntamentos dos neurônios desta Grande Consciência chamada Gaia? Seríamos cada um de nós seus "neurônios"? E, se sim, que tipo de sinapses conduzimos em nosso dia-a-dia até o fim da existência?

Rs, são pensamentos assim que embalam minhas sextas-feiras...

E Viva a Grande Mãe!


Segue uma canção-homenagem, interpretada por Caetano, e que me remete aos velhos programas da Tevê Cultura... Quem tem mais de 30 anos vai lembrar!!!


domingo, 4 de novembro de 2007

DO SEXO




Sempre estranhei que as comunidades wiccanas do Orkut, em uma religião onde o feminino tem primazia, comentem tão pouco sobre a condição da mulher no cotidiano, seja aqui ou no mundo.


Incesto, estupro e as mais variadas formas de violência cometidas contra o feminino (e porque não, machos-beta também), seja em nível divino ou humano, não encontram aqui seu contraponto.

Por outro lado nós pagãos vivemos nos "desculpando" por encarar a sexualidade de modo mais livre. Se dizemos que certos grupos se vestem de céu em seus rituais é o horror dos horrores. O que é estranho pois, as mais populares músicas de nosso país, mulheres são "cachorras".

Estranho é que muitas aceitam o posto. Muitíssimo estranho é o silêncio da maioria. Muitisíssimo estranho é um homem tocar no assunto...


Perguntas pertinentes

A quantidade de mães solteiras cresce a olhos vistos. Como esta nova geração se desenvolverá?

As clínicas clandestinas abortivas operam a todo vapor. Legalizar? E em que moldes?

Mulheres da África e Oriente são vítimas de apedrejamentos e estupros em massa(!). Não é de nosso país, nem de nossa religião, logo não é de nossa conta?

Como ver a Terra como Mulher mas permitir que suas filhas sejam violadas desta maneira? Ninguém ouve os gritos de Korê?


Beltane

Para os que rodam pelo Sul vivemos o Beltane, e com ele todas as associações sexuais possíveis. Mais lembremos que o sexo, de um modo geral, é visto ou com reservas ou com escárnio.

É este um bom momento para uma discussão profunda sobre isso.

Ou será que são tudo flores?

Kali, olhai por nós!



quinta-feira, 1 de novembro de 2007

DOS "PINK WICCAS" E QUEJANDOS




Por S. Thot


Nos últimos anos tem-se observado o número crescente de pessoas interessadas em religiões pagãs. Na esteira deste interesse, diversos autores criaram publicações, sites, blogs, comunidades e msn's.

Os seguidores mais antigos, anteriores a este boom de informação, sentem-se ameaçados e traídos, pois suaram para conseguir conhecimento, autorespeito e respeito de outros do próprio grupo e de outras comunidades religiosas. Hoje, qualquer um tem acesso a textos antes herméticos, misteriosos.

O Oculto sairia da sombra.



Água com açucar

Não por nada, muito deste conhecimento atual parece diluído, açucarado. Ora para tornar o texto mais palatável, ora para vender melhor sua imagem ou seu produto, sendo difícil determinar o limite entre as duas idéias. Se é que há limites.

A outra face da moeda mostra um público pouco afeito a crítica, a pesquisa e a filosofia, condições básicas para a formação de um caráter religioso forte. Se usarmos o Orkut como base para este argumento, a verdade fica clara: ortografia e gramática de muitos que postam é sofrível. E as perguntas, superbásicas. Sinal que o que leram não passa de placebo. Se pagaram pela informação (e hoje, quase tudo é cobrado), jogaram dinheiro fora.

É como um tsunami: poderoso, mas temporário. O que ficará quando a onda passar?


Para Bellum

Depois da onda, vem o refluxo. Membros mais antigos mostram seu rancor nas "páginas" da internet, ora com argumentos, ora com ferraduras. Ou uma combinação das duas, a gosto do freguês. Na onda deles, tiradores de sarro e farristas aproveitam o clima de vale-tudo e tiram uma casquinha. Estamos todos no fogo-cruzado.

Qualquer pessoa que tenha algo a dizer sobre os pagãos não precisará gastar neurônios escrevendo: basta dar copiar + colar em algumas comunidades ou blogs, repetindo assim a mesma informação ao infinito. Isto me deixa contrariado.

Quando entrei, sabia o que queria: dedicar-me ao sacerdócio. Estudei e estudo para isto, não só livros dedicados ao paganismo, mas outras disciplinas também. Então ser arrastado nesta onda me causa muito mal-estar.


Inimigo meu


Só que há o outro lado. O processo a que são submetidas as pessoas tachadas de Pink Wiccas é semelhante aos usados a milênios por outras religiões, seitas e grupos diversos: o outro é o mal, o outro veio nos destruir, etc.

No Cristianismo, religião majoritária em nosso país, dão o nome de Anticristo a esta pessoa e seus seguidores. Independente de suas razões teológicas, este termo tem sido usado há séculos para destruir moral ou fisicamente diversos grupos "opositores", independente da religião ou grupo social.

Um processo semelhante estaria acontecendo entre nós. Um opositor para ser usado como imagem torta: "Veja como somos bons, puros e inteligentes, ao contrário do outro, que é feio, mal e ignorante".


De que cor você é?

Ainda não encontrei uma definição "acadêmica" para o significado da palavra Pink Wicca, o que torna a perseguição a este "grupo" mais temerosa, porque qualquer um pode ser "pink", assim como no passado qualquer um podia ser preso e/ou morto por ser bruxo, judeu ou cristão, dependendo do grupo no poder e das intenções.

Mas também não creio que os que assumem a carapuça rosa sejam inocentes, pois não acredito em vítimas. Existe sim uma generosa massa de pessoas que posa de pagão por vários motivos, menos pelos adequados: exercer o sacerdócio. Quando a chapa esquenta, são os primeiros a pular fora, deixando os que erram no intuito de acertar, com a batata nas mãos.


Conhecer é preciso


Mas também não é para devorar a Biblioteca Nacional. Não se engane: pode-se ler um livro, dez ou cem, não importa. Você adquirirá conhecimento e isto é louvável, mas não suficiente. Postura (e não pose) também será levada em conta. Ação vale mais que palavras ou um fake. Participar da vida de sua comunidade é importante. Não esta aqui, mas a de verdade: sua rua, seu bairro, sua família, sua cidade. Se deles você não tiver o respeito, ainda que não concordem com suas idéias, não adianta.

Abandone-os. Que sejam felizes, que se enforquem com a corda da liberdade.

Lembre-se, sua comunidade é aonde estão seus sapatos.

E se for para você ser "Pink", ser o inimigo de alguém só para este promover e fortalecer seu grupo, que você pelo menos, seja um bom, inteligente e poderoso adversário.

Isto me lembra um som do Chico, chamado Geni...