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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

DA CURA






Nada morre, tudo se transforma. O Espírito vaga, vindo ora cá, ora acolá, e ocupo qualquer forma que deseje. De animais, passa a corpos humanos, e de corpos para animais, mas jamais perece.


Pitágoras, Metamorfose XV.

Vez ou outra nós pagãos recebemos pedidos para confecção de rituais curativos, afim de dar cabo de doenças que atingem o corpo físico das pessoas. São netos, filhos, maridos, mães, irmãs, namoradas, amigos desejosos de ver seus entes queridos restabelecidos. E isto quando a magia pedida não se dirige ao próprio solicitante.

Muito escreve-se em livros wiccanos, em comunidades e "sites" sobre rituais e práticas de cura usando técnicas originárias desde o distante oriente e centro-europeu aos povos nativos das Américas e África: homeopatia, cromoterapia, aromaterapia, pedras quentes, acupuntura, massagens, bençãos, passes e afins. Mesmo aqueles que pouco ou nada crêem submetem-se as mãos diversas práticas afim de retomar a saúde quando todas os tratamentos tradicionais se esgotaram.


E é muito estranho falar de tratamento tradicional para métodos de cura que só têm poucas centenas de anos de existência! Durante milênios o tradional era a consulta ao mago da aldeia, à parteira e mesmo os ferreiros e outros mestres de ofícios. Os medicamentos eram menos sintéticos e a cura vinha quase que diretamente da Natureza. Aliás, falando nisto, convido vocês a passarem pelo blog Cura pela Natureza, que trata especificamente deste assunto.



Preparando o Caminho

Como religiosos, deve-se salientar que as práticas rituais de cura dentro de uma estrutura religiosa visa, principalmente, a cura interna, espiritual. Em essência, lidamos com o intangível, com aquilo que não é material e não pode ser tocado pelo bisturi ou alopatia. As doenças em seu aspecto físico são melhor curáveis, deste modo, com a medicina tradicional.

Para ilustrar, é senso comum dizer que é mais fácil e eficaz levantar uma caneta da mesa simplesmente pegando-a que juntar em torno dela dezenas de sensitivos para faze-la levitar.

Há muito a ciência alopata tem salvo vidas das doenças que hoje são de simples cura ou prevenção, como gripes ou paralisia infantil, mas que a pouco mais de cem anos ceifavam vidas independentemente de sua posição social ou dinheiro no bolso. Não há imposição de mãos que sare melhor uma perna quebrada do que o gesso, convenhamos.

Lógico, temos os milagres: impossíveis de provar, porém há centenas de relatos que ultrapassam fronteiras religiosas não podem estar errados. Mas a quantidade destes homens e mulheres santas é insuficiente para o atendimento efetivo da população humana.

Para tudo existe um limite, e nossa ciência que quase dobrou nossa expectativa de vida, unida é certo a alimentação balanceada, exercícios físico e uma boa dose de felicidade periódica não pode nos livrar das mãos da Ceifadora.

Então, não há esperança? Estamos à mercê da morte?


Esperança

Doenças psicossomáticas, de hábitos alimentares deficientes, de vidas sedentárias modernas, vícios vários em geral respondem por boa parte dos casos que chegam aos hospitais. Isto sem contar a violência em suas mais diversas formas e origens.

Mas não raro vemos ou lemos sobre líderes religiosos que, baseados em suas interpretações de textos sagrados, transmitem a idéia de o corpo (humano, animal, da Terra) é sujo, naturalmente pervertido, falho, e passível de abandono. Para os escolhidos, resta uma vida incorpórea num paraíso celeste ou terreno. Este, todavia, pasteurizado.

Quem cai na malha deste pensamento ruma assim ao sentido oposto: ao invés do auto-conhecimento, o abandono. A doença deixa de ser o aviso que algo em nosso estilo de vida está errado para tornar-se um flagelo divino, um ato vingativo.


A Roda Gira

A Wicca, através da obediência, percepção e consciência da Roda do Ano, propõe a seus membros não só a correta avaliação de seus potenciais e deficiências, vícios e necessidades, mas também sua abstenção, cura ou tratamento. Quando nos identificamos com a Divindade que morre e retorna, renovada, algo em nós "desce e retorna" também.

A Roda do Ano também nos ensina o conceito da infinitude das coisas: não a do indivíduo, mas da Vida em parcela que ele contém, e que se transmite ao outro nas mais diversas formas: numa palavra, num gesto, numa criação material, artística, conceitual, em um filho uma árvore ou livro (familiar isso, não?).

A Roda nos diz que viver não é respirar, comer, defecar, morrer, procriar apenas, mas que em maior ou menor escala estamos aqui para algo que é maior que nós. E que há um tempo para realização, um tempo para descanso e um tempo para o retorno.


Pausa

A doença nos fornece uma pausa, ainda que forçada, para esta reflexão: o que fiz até agora de minha vida? E, se sobreviver a ela, o que farei de extraordinário?

Em muitos casos a cura não depende só dos Deuses, dos remédios ou médicos. A peça principal é o doente, e dele parte a firme decisão de viver ( e para quê) ou morrer (e porquê).

Então, qual a sua decisão?

Toda vez que leio o texto acima, a música do Lulu Santos ecoa em minha cabeça! Veja se ela se encaixa!



Sergio Thot


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