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sábado, 30 de abril de 2011

DA CIVILIZAÇÃO

Olá, como vão?

Quero dividir com vocês um medo antigo que tenho: o de zumbis. Também tenho medo de fantasmas orientais com aqueles cabelos negros e escorridos, mas isso é outra história. Minha questão com os zumbis é mais concreta, por incrível que pareça! E tomei total percepção dela quando assisti a produção americana Madrugada dos Mortos e, nestes últimos tempos a série da Fox, Walking Dead.

Madrugada dos Mortos é um filme que me dá pesadelos sempre que assisto. Neles, tenho a difícil tarefa de optar entre salvar os que estão próximos de mim ou atravessar a cidade infestada de zumbis para buscar outras pessoas queridas. O medo que sinto durante o sono é de me fazer suar sob o endredon.

É estranho ter medo disso agora depois de adulto. Vejo este tipo de filme desde moleque em obras com Re-animator, a Hora dos Mortos Vivos e outras do gênero, lá pelos anos 80, mas nunca tive pesadelos antes. Então porque isso agora? Bem, talvez seja menos pelos temores de zumbis povoando a Terra, e mais pelos seres humanos que restarem para sobreviver a esta nova realidade. Além das decisões que teria de tomar em situações como essas.


As artes sempre foram conhecidas por sintetizar em imagens e formas o pior e o melhor da Humanidade. Com o cinema, nossa 7ª, Arte não é diferente. Pode-se entender como zumbi o indivíduo que perdeu a noção de si e do outro, onde só importa a saciedade do mais primal dos instintos: comer. E o mais estranho é que ele nem é o personagem ruim da história, voltando aos filmes e séries que tratam do assunto, e talvez por conta disto mesmo. Se o zumbi mata é para sobreviver. O pior mesmo ainda está por vir.

Nestes filmes o conceito padrão do bonzinho e vilão é subvertido. Entre eles nasce o oportunismo diante das situações impostas pelo colapso das instituições. Hoje temos leis e as forças policiais para dar uma regulada a fim de que as coisas não se baguncem demais. Como seria se elas deixassem de existir? Não é preciso muito para esta civilidade se deteriorar e as pessoas se tratarem como animais. É assim no metrô ou trem em hora de rush.
Do blog Vida Ordinária

Dê um passo para trás quando estiver entre grandes ajuntamentos humanos e observe o rosto das pessoas. Imagine: com a queda das instituições por conta de uma pane energética ou de comunicações por exemplo, por quanto tempo as pessoas ficariam calmas? Qual seria nosso papel diante deste terrível mundo novo?

Talvez não precisemos ser zumbis comedores de carne fresca para derrubar a civilização. Basta uma SARS atingindo em cheio o globo para que as ruas virem praças de guerra. O que farão as pessoas quando a comida estragar na geladeira e a água faltar nas torneiras? Não sei se tenho mais medo dos mortos que de certos vivos. E não sou o único a pensar na possibilidade de um apocalipse zumbi, como mostra o fluxograma no Blog Sedentário (veja AQUI).

É nesse tipo de coisa que penso vez ou outra quando cai a noite.

Neste Samhain, quando o véu que separa este de outros mundos está mais tênue do que nunca e você receber seus Antepassados em sonhos e preces, reserve um momento para estes pensamentos.

Saúde, amizade, liberdade.




Post Scriptum


Tem outra modalidade de zumbi "bombando" por aí, que é o zumbi do crack. Certas ruas das grandes cidades, como São Paulo, são tomadas por hordas de pessoas que estão no limiar da vida devido o uso da droga.


SergioThot.






quarta-feira, 20 de abril de 2011

A VIDA É UM PROCESSO

Olá, como vão tod@s?

Quero dividir com vocês um pensamento que tomou forma nos últimos anos graças a Roda do Ano. Vou usar o Samhain, por exemplo. Institucionalizou-se há muito tempo sua data é o 1º de Maio no Hemisfério Sul, certo? Tudo bem que correntes mais tradicionais seguirão a Roda do Norte mas não é este o cerne da questão. Falo sobre colocar toda a carga simbólica da data em um único dia.

Acredito hoje que o Samhain, assim como outras datas, são um processo. Sabe, é como li uma vez no Livro dos Farrar, Oito Sabás para Bruxas, que o reino do Inverno começa no solstício de Verão. O Samhain para mim não começa no dia 1º de Maio, mas bem antes ainda!, durante os dias de Mabon. Pois a alegria da colheita se soma a tristeza da seca e da privação. O comércio entendeu bem isso pois mal se passa o Dia das Crianças (12 de Outubro) e as lojas já preparam as decorações natalinas!

O Samhain em particular nos ensina isso durante este espaço de tempo entre a Colheita e o Solstício através da morte e do apodrecimento daquilo que não nos serve. Estes restos repousarão e se decomporão enquanto nos preparamos para os Novos Tempos. Se sobrevivermos ao inverno da alma.


Escolhas

Sendo a vida é um processo, então nossas escolhas são pré-determinadas pelo que fizemos no passado, não é mesmo? Afinal, não acostumamos a comprar as crianças com doces ou ameaças? Como reclamar quando estes adultos forem comprados para os mais diversos fins a despeito de suas próprias convicções, se é que terão alguma? Esse aprendiz de adulto já está no processo de aceitar uma prenda para cada ato de obediência sem questionamento. Acertou, ganhou um biscoito, como os cães de Pavlov.

"As primeiras experiências com os cachorros eram simples. Segurava um pedaço de pão e mostrava ao cachorro antes de dá-lo para comer. Com o tempo o cachorro passou a salivar assim que via o pedaço de pão. A salivação era uma resposta quando a comida era colocada em sua boca, uma reação natural de reflexo do sistema digestivo do animal e não envolvia aprendizagem. Pavlov designou esse reflexo de reflexo inato ou não condicionado."

Como? Não sabe quem foi Ivan Pavlov? Acredite: ele sabe quem é você. Clique AQUI.

Então a possibilidade de uma pessoa resistir às pressões da vida está condicionada nas experiências que já teve e como reagiu a elas, externa e internamente. É neste processo que estamos mergulhados. A cada dia a vida nos expõe a situações iguais e ao mesmo tempo diferentes. sempre há um temperinho a mais para modificar algo aqui ou ali, mas na média é sempre a mesma pergunta: como você sobreviverá a mais este dia?

E na sua resposta estará a semente do futuro entre todos os futuros possíveis.

Nada será como antes. Pensem nisso.

Sergio Thot




Ps.: quero dividir com vocês algumas postagens interessantes feitas por outros blogueiros.



  • Existe em nós imensa dificuldade de aceitar os ciclos e isso se deve a falta de conexão com os processos naturais...A natureza é plenamente consciente do ciclo vida-morte-vida. Aquilo que morre é matéria para aquilo que nasce...Não há culpados, não há erros, há o continuo fluir dos caminhos.... Pérola encontrada no blog da ciberamiga Gislaine Carvalho, do blog Era uma Vez. Clique AQUI


sábado, 16 de abril de 2011

DESGOVERNO

Olá a tod@s.

Vim tratar de um tema recorrente em minhas postagens, principalmente nesta época do ano em que, simbolicamente, o reino do Senhor do Desgoverno toma força com a chegada do inverno. Vim falar do caos.

Caos é tudo aquilo que não estava previsto na nossa vida por achar que o plano que estabelecemos depende só de nós. Bem, não depende. Somos parte desta teia de forças naturais que, sem aviso, muda nossa vida. Muitas vezes para sempre.

Um colega de trabalho acidentou-se feio estes dias. Não vi, apesar de ter sido próximo de onde estava. Mas pude perceber a gravidade do problema através do choro das pessoas presentes. Imaginem mecânicos, gente naturalmente dura e agressiva, com lágrimas e desespero nos olhos diante da imagem do amigo ensangüentado?

Talvez toda a nossa vida seja caótica e pertence ao espírito humano encontrar a ordem das coisas. Então inventamos a Religião e as Ciências para tentar colocar tudo em mandamentos ou tabelas periódicas. Mas coisas deste naipe acontecem e somos lembrados de que material somos feitos.


A Vida é Risco

Existe aqui um problema. O caos em si não é ruim, pois por este caminho encontramos situações e pessoas que jamais entrariam em nossas vidas se seguíssemos pela estrada segura. É o atalho pela floresta que nos conduz rapidamente para a casa da vovó e para a boca do lobo.

O caos, a dor, a morte se servem para alguma coisa é para isto: ensinar aos sobreviventes que a experiência humana deve ser vivida em sua plenitude. Que possamos atravessar juntos mais este inverno e que a primavera nos encontre fortes.

Que possamos rir do inverno anterior enquanto atravessamos este. Que nossas reservas dos bons dias sejam suficientes para atravessar os dias ruins que se seguirão. Pois sempre existem dias bons e ruins já que a vida é cíclica.

Mas não tenham medo.

Saúde, amizade, liberdade.

Sergio Thot

sexta-feira, 8 de abril de 2011

GOSTO AMARGO

Olá a tod@s.

Não pensava que sentiria o mesmo gosto na boca novamente, mas o fato é que a vida é cíclica, não? As coisas sempre voltam e voltam. Falo sobre a manhã desta quinta, 7, onde um homem entrou numa escola para matar crianças e jovens aparentemente a esmo. A última vez que senti tal gosto foi em 11 de setembro de 2001. Talvez muitos dos que estão a ler lembrem de onde estavam e o que faziam exatamente naquele dia. Como no dia do massacre do Realengo, era uma manhã clara de sol aqui em casa e eu me preparava para trabalhar. Minha esposa liga a tevê e descobre a tragédia.

A primeira coisa que pensei quando vi as reportagens é que tal ato vil fora cometido por amor a uma das alunas. Tem-se matado muito por amor nesses dias aí, haja visto um caso local que ganhou as manchetes do Brasil, o caso Mércia. Como todos que tomaram conhecimento do massacre do Realengo, esperávamos por respostas. Mas até então fomos trabalhar, o Brasil e eu, sem qualquer explicação e com este gosto ruim na boca.


A carta

Faz poucos minutos que li o conteúdo da suposta carta onde o assassino explicaria suas motivações para atirar em crianças e não vi nenhuma. Apesar de falarem que seus alvos eram aleatórios, disparar contra um número quase absoluto de meninas revela para mim um traço de misoginia (explicação AQUI).Ou a proporção de meninos na escola é minúscula. Eis um trecho:

“Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão". Leia o conteúdo completo AQUI.

Incrível como as pessoas classificam o sexo como algo mais impuro que o assassinato de crianças ou de adultos.Que mente teria sido esta?

A suposta carta não esclarece nada. Ficaram mais perguntas que respostas. O blog Arauto da Consciência dá nome aos bois: crime de ódio misógino (veja AQUI). De fato, tudo indica que é.


E agora?

Agora é o vazio para quem fica, porque quem se vai já resolveu esta questão. Para quem fica resta viver dia a dia com a pergunta que não tem resposta: porque nós? Não se sabe. A figura humana tenta achar respostas mas o fato que muito do que nos acontece não tem explicação.

Ouvi nas reportagens muito "Graças a Deus meu filho se salvou", como se o Divino escolhesse quem vive e quem morre imerso numa poça de sangue. Mas a escolha é sempre nossa. Espero que todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o massacre do Realengo façam mais que vestir branco e pedir paz em passeata. A paz agora é inútil. Já vivemos em paz por muito tempo.

Uma paz falsa, uma paz armada, uma paz de ranger os dentes, uma paz que olha para trás a cada cinco segundos para nos certificar que não somos seguidos. Desta paz estou saturado.

Agora é tempo de turbulência. Tempo de agitação. Tempo de descobrir como as pessoas conseguem armas. Tempo de sacudir o mundo destes negociadores da morte e dizer-lhes: a guerra chegou à sua porta. Também temos que levar a guerra à porta dos que votam em tiriricas e bolsonaros. Dos que falam "isso não é meu problema" ou "cada um no seu quadrado". Seremos pentelhos. Seremos inconvenientes. Seremos chatos. Muito pai choroso hoje olhava a violência pela tela da tevê assim como um boi olha o mundo pela cerca antes de seu filho tombar morto. Se vive no mundo é seu problema. Sempre é. Porque a morte sempre chega e leva.

Levaremos a guerra à porta destas pessoas e tiraremos a paz deles, também. Pois esta paz bovina, esta paz de abatedouro que leva um por por um, um dia pega a gente.

"Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára", já dizia o Poeta.

Fiquem em guerra.