quarta-feira, 29 de julho de 2009
DO TEMPLO
"Em todos os lugares em que vemos o corpo da Deusa como uma forma de paisagem natural, precisamos do ponto de visão adequado."
O Corpo da Deusa, de Raquel Pollack
Sou wiccano. E como tal respeito o costume de não possuir um templo físico e fixo para a realização de meus rituais, apesar de usar os cômodos de minha casa para cultos domésticos, e o Bosque Maia, um bosque em nossa cidade, para rituais públicos.
O fato de não possuir um templo para encontros em grupo transforma cada sabá em um evento verdadeiramente complexo e com algumas restrições. Ao usar espaço público estamos limitados às regras colocadas pelos administradores.
Mas aprecio o grau de liberdade que gozamos. Afinal, findo o ritual não temos que nos responsabilizar por um espaço que ficaria ocioso a maior parte do tempo. É só levantar acampamento e partir.
Fora que é extremamente coerente que uma religião tão ligada a terra e ao mundo natural realize seus rituais cercada por ela! Lembro de um ritual realizado na Mata Atlântica, com o cheiro da floresta, o murmurar de um riacho próximo, canto de cigarras, o vento nos galhos. Lembro da intensidade, da força que nos envolvia.
Percebi ali que não precisava de elementos simbólicos para representar aquilo que saltava ao nossos olhos. Será então que a receita mora na simplicidade?
Segurança & Privacidade
Conversando com a amiga Ludy sobre este assunto, ela me apontou uma solução interessante...
"Poderia ser somente as paredes e a porta.. Sem teto, sem pisos.. Mesmo por que acho que preservaria mais a privacidade dos rituais ali realizados... Sem precisar tirar nada e ter que guardar ou ficar mudando de lugar a cada ritual que venha a ser feito...
Poxa... e não é que é uma ideia original, essa? Vejam só que ela contempla tanto os que preferem um ritual mais reservado, longe de olhares curiosos ou coisa pior, e mantém o contato com os elementos como o sol, o vento, o calor ou frio, o dia ou a noite. Ainda é possível acender pequenas fogueiras, já que não há teto para restringir fumaça! Pode-se pensar em uma cobertura de vinhas, para nos proteger do sol mais forte no Meio de Verão
São bons pensamentos para se degustar, não?
Saúde, amizade, liberdade!
sábado, 25 de julho de 2009
DO ORGULHO
Moro em um bairro periférico da cidade. E nesta situação, andando pelas ruas e observando com atenção eu percebi, olhando para dentro das igrejas, que existe uma forma de culto que eu acho muito estranha. No comecinho da noite, quando volto do trabalho, vejo as pessoas de joelhos dobrados, com as cabeças encostadas nas cadeiras. Independente da nomenclatura, é algo comum. Eu vi e me arrepiei.
Como wiccano, esta cena me é muito estranha, realmente. Certa vez uma sacerdotisa me disse: a Deusa se orgulha quando trabalho, mas se alegra quando danço. Então essas duas informações se combinaram na minha cabeça e percebi que estava arrepiado. Eu jamais seguiria uma divindade cuja exigência fosse a minha submissão.
Então fui tomado por um sentimento de gratidão enorme pelo Deus e pela Deusa em suas infinitas formas. E de orgulho também, por que não? Eles não regateiam pela minha devoção, não me fazem exigências impossíveis ou me ameaçam. O Casal Divino me abençoa a cada manhã e diz: você é responsável pelos seus atos. Seja adulto e faça boas escolhas.
Escolhas
Conversando com pagãos pessoalmente ou via net, pouca gente se dá conta das exigências do sacerdócio. De que há uma comunidade a ser atendida, ritos a serem cumpridos. Muitos buscam na iniciação fast-food poderes sobre-humanos. Mas não há poder, só dever. Foi assim com outros antes de mim, e é assim comigo. E deste modo eu tento seguir.
Nem sempre eu chego lá, é verdade. Mas esta mudança simples de foco, da infantilidade espiritual para a tomada das rédeas de meu destino para servir à comunidade não coloca nos Divinos Ombros toda a carga do que faço. Logo, minha caminha sobre a terra é minha escolha. Viver assim, pensando bem, exige muita força e a cada dia o mundo me pergunta se aceito a responsabilidade. Enquanto for pagão, a resposta será sempre "sim"!
E sem precisar me sentir mal por ser simplesmente humano.
terça-feira, 14 de julho de 2009
DA ALMA
"(...)Andou por vários dias até alcançar uma gruta, no interior da qual descortinou-se uma fenda que conduzia ao reino de Plutão. Munida somente de sua coragem, Psiquê penetrou nos escuros labirintos da morada dos mortos."
Cupido e Psiquê, retirado da obra As 100 melhores Histórias da Mitologia, de Franchini e Seganfredo
Alma, ou psy·khé em grego, é uma palavra de infinitas significações. Uma delas nos sussurra que é graças a alma, por exemplo, que ficamos agitados, vivos... ou animados!
Quando temos alma, estamos vivos no pleno sentido da palavra, absorvendo e exalando ar, segundo após segundo. A respiração que sempre foi um dos indicadores que nós não passamos para o Outro Lado. Segundo o mito dos povos do Oriente Médio, a vida nos foi dada pelo sopro.
A simbologia que mais gosto é a da borboleta. Creio que existem poucos seres que retratam a metamorfose de maneira tão bela e clara. Primeiramente vemos um ser disforme, às vezes venenoso, cuja a vida é comer e defecar. O tempo passa e ele fica maior e mais voraz, mas nos acostumamos a tê-lo ali. É parte da paisagem.
Certo dia nos damos conta de que ele não só parou de comer como também não se movimenta mais. E que em torno de seu corpo uma fina camada de seda se forma. Se fora fácil esquecer de um ser que se movimentava e comia tudo em seu caminho, imagina então agora que ele sumiu, submergia em si mesmo? Passada uma leve curiosidade inicial, deixamos aquele casulo de lado e tocamos a vida.
Ah, mas é tudo ilusão. Se formos bons observadores veremos, em um dia quente e bonito de sol, que aquela coisinha de seda que estava no canto da janela se mexeu. E mais: Há algo que lá dentro luta para estirar suas asas à luz da manhã. E então elas saem de seus casulos aos milhares, seja para um passeio em seu quintal ou para atravessar um continente. E tudo para achar outras almas, assim como fez Psiquê.
Gosto de pensar que, periodicamente, somos esses seres, que nascem e renascem de tempos em tempos. Seres que romperam com atos inúteis, ciclos viciosos, pensamentos nocivos e acorrentadores, e se cederam ao novo e ao belo, finalmente. Para o mundo elas são jovens, recém-nascidas do casulo. Mas só a Deusa sabe o quanto elas caminharam dentro de si para ganhar asas!
E só a partir disso, quando finalmente emergem plenos em sua vitalidade e leves, é que vão em busca do Amor.
Pensem nisso.
Cupido e Psiquê, retirado da obra As 100 melhores Histórias da Mitologia, de Franchini e Seganfredo
Alma, ou psy·khé em grego, é uma palavra de infinitas significações. Uma delas nos sussurra que é graças a alma, por exemplo, que ficamos agitados, vivos... ou animados!
Quando temos alma, estamos vivos no pleno sentido da palavra, absorvendo e exalando ar, segundo após segundo. A respiração que sempre foi um dos indicadores que nós não passamos para o Outro Lado. Segundo o mito dos povos do Oriente Médio, a vida nos foi dada pelo sopro.
A simbologia que mais gosto é a da borboleta. Creio que existem poucos seres que retratam a metamorfose de maneira tão bela e clara. Primeiramente vemos um ser disforme, às vezes venenoso, cuja a vida é comer e defecar. O tempo passa e ele fica maior e mais voraz, mas nos acostumamos a tê-lo ali. É parte da paisagem.
Certo dia nos damos conta de que ele não só parou de comer como também não se movimenta mais. E que em torno de seu corpo uma fina camada de seda se forma. Se fora fácil esquecer de um ser que se movimentava e comia tudo em seu caminho, imagina então agora que ele sumiu, submergia em si mesmo? Passada uma leve curiosidade inicial, deixamos aquele casulo de lado e tocamos a vida.
Ah, mas é tudo ilusão. Se formos bons observadores veremos, em um dia quente e bonito de sol, que aquela coisinha de seda que estava no canto da janela se mexeu. E mais: Há algo que lá dentro luta para estirar suas asas à luz da manhã. E então elas saem de seus casulos aos milhares, seja para um passeio em seu quintal ou para atravessar um continente. E tudo para achar outras almas, assim como fez Psiquê.
Gosto de pensar que, periodicamente, somos esses seres, que nascem e renascem de tempos em tempos. Seres que romperam com atos inúteis, ciclos viciosos, pensamentos nocivos e acorrentadores, e se cederam ao novo e ao belo, finalmente. Para o mundo elas são jovens, recém-nascidas do casulo. Mas só a Deusa sabe o quanto elas caminharam dentro de si para ganhar asas!
E só a partir disso, quando finalmente emergem plenos em sua vitalidade e leves, é que vão em busca do Amor.
Pensem nisso.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
DO CICLO
"Toda viagem é a partir da Mãe, para a Mãe, dentro da Mãe."
Nor Hall, autor de The Moon and the Virgin
Foi na sexta série que estes fatos aconteceram. Estudava no E. E. P. G. "Glauber Rocha" à tarde, em uma sala cuja a janela se voltava para o oeste. Relógio de pulso não era coisa para todo mundo ter naquela época, e celular... bem... era 1987 e a gente nem sonhava com essas coisas.
Mas a necessidade é a Mãe das invenções e naqueles dias a nossa necessidade era descobrir quanto tempo restava para a hora do recreio. Então alguém veio com uma idéia simples: quando o sinal tocasse alguém riscava a parede onde uma sombra em particular se projetava (olha o vandalismo!). No dia seguinte, era só seguir esse referencial que saberíamos quanto tempo faltava.
O lance ficou tão bom que usamos o sistema aperfeiçoado para marcar as trocas de professores e hora da saída, usando novas marcações (gente, não façam isso na escola, hein?). Criamos nosso próprio relógio solar. Mas tudo que é bom dura pouco, diz o ditado. Com o tempo percebemos que as marcações perdiam sua capacidade de marcar as horas com exatidão. Então descobrimos na prática e sem querer os efeitos dos movimentos de rotação e translação da Terra, e como eles criam os efeitos que chamamos de Dia e Noite, Solstícios e Equinócios.
Percepção e Consciência
A percepção dos ciclos em nossa vida é algo revelador. A vida deixa de ser uma linha reta e se torna um conjunto de espirais que se entrelaçam. Há ciclos curtos como um dia de trabalho, ou longos como uma amizade de décadas. Então a vida foge da somatória de dias amorfos e é pontuada por etapas a serem alcançadas e vencidas. Nos conta a ciberamiga Layla, no blog Correndo com os Lobos:
"Não ouso lamentar por nada. Apenas me entrego ao ciclo fundamental de vida-morte-vida que rege o mundo. Caem as folhas secas, e encravam-se em meu peito, decompondo-se em matéria úmida que há de fertilizar minha carne."
A percepção dos ciclos ainda evita que caiamos no mesmo buraco uma segunda vez. A história humana é recheada de problemas pelos quais não deveríamos passar novamente. Temos muitos exemplos de guerras e catástrofes ecológicas para aprender com nossos erros e aperfeiçoar o futuro. Em nível pessoal o mesmo ocorre: se um certo tipo de pessoa não serve para se ter relacionamento, é obvio que tal padrão deva ser quebrado para seu próprio bem.
Assim diz a canção...
"São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida"
Conhecer passado para determinar o futuro.
Felicidades.
Sergio Thot.
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