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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

DA TRANSFORMAÇÃO





Existe na Física um conceito chamado entropia, usado na termodinâmica para explicar, por exemplo, porque os cubos de gelo derretem em sua coca-cola. Ou na eletroquímica, para explicar como a oxidação deixa o suco de laranja amargo com o tempo. A termodinâmica nos mostra o porquê tudo se deteriorar.



E para garantir nossa sobrevivência e/ou conforto, sempre lutamos com a tendência natural das coisas se desagregarem, enferrujarem, caírem, morrerem. É o trabalho dos mecânicos, faxineiros, jardineiros e da manutenção em geral. É um esforço contínuo manter este mundo funcionando.

Mas tudo caminha para o caos, guarde estas palavras.


O nascimento da Humanidade

Quando a consciência humana despontou no horizonte do mundo natural, questões urgentes precisavam ser resolvidas: como obter caça, pesca, frutos, abrigo, calor., segurança, cura Somos
socius por natureza e por imposição das circunstâncias, então percebemos que se trabalhamos juntos os resultados são melhores.

A tomada desta consciência de que juntos é melhor nos leva a criar coisas, nomeá-las e transmiti-las para outros de nós. Começamos assim a transformar o horizonte natural e modela-lo à nossa imagem e semelhança.

Com a combinação de conhecimento acumulado de tantas pessoas por mais tempo, mais habilidades, mão-de-obra e material natural, erguemos do solo e de tudo que está sobre ele todos os itens que precisamos para sobreviver e depois viver com algum conforto.

 E a inovação não para: os materiais ficam mais refinados; a linguagem verbal e não-verbal fica complexa e a transmissão deste conhecimento por via oral e sua manutenção na memória não mais suporta a carga de conteúdo acumulado. É preciso gravar na pedra, no barro, no papiro, no pale no disco rígido. Tudo isto culmina em ferramentas melhores e mais complexas, em vidas mais complexas e relações mais complexas. 10.000 anos depois temos nossa sociedade pós-pós-moderna.

Mas esquecemos de onde viemos, de onde tudo vem. Achamos que o mundo sempre existiu, que o ovo vem da geladeira e o leite do supermercado. A conexão com a terra foi perdida. A percepção da transformação foi perdida.

Não sem um custo para a Natureza.


Filhos de Sísifo

Eu seria muito ingrato se mal-dizesse todas as conquistas que a raça humana obteve e que permite uma vida de certos confortos a uma boa parcela da população, eu incluso. Mas também seria um inconsequente que este mesmo conforto, mesmo não chegando a toda a humanidade, ainda sim mina as reservas que a Mãe possui.

Depois de tanto tempo só sugando agora este ritmo ao qual esta parcela de privilegiados possui (nos quais incluo eu e você, que tem água tratada e encanada em casa), é preciso:

*garantir que os que não têm tenham acesso ao básico-do-básico. Se não por questões éticas, ao menos para evitar a guerra por água e energia.

*garantir a sobrevivência das áreas do planeta que ainda continuam silvestres, afim de garantir nossa própria pele.

Como podem ver, é um trabalho digno do próprio Sísifo! Não sou um fatalista e vejo no personagem mais do que seu final, vitimado pelo colérico Zeus. Astuto, não deixou que sua condição mortal interferisse em sua vida e usou da inteligência e astúcia para vencer as dificuldades. Sigamos seu exemplo!


Parteiros de Deus


Costumo assistir a muitos documentários no Discovery e em todos eu vejo o milagre da criação humana. Trabalhando na área de manutenção pesada aprendi a admirar o trabalho de outros profissionais deste e de outros países. Em todas as áreas. E vejo neles Hermes, Osiris, Hefestos, Dionisos, Ícaros... todos lutando contra a tendência natural que nos leva a estabilidade passiva.


Todos eles erguem da carne da Deusa um Deus-menino, cuja maturidade se concretiza na obra pronta, acabada. E que encontra seu fim como tudo nesta terra. E só agora aprendemos instintivamente que de carcaça de um Deus-morto pode surgir um Hórus, um Osíris renascido, assim como o sol que nasce toda a manhã ainda é o mesmo sol que se pôs na noite anterior.

Tudo tende ao Caos. A Ceifadora sempre pede seu preço, mas dos escombros e do Caos sempre fizemos o Novo. E sempre faremos enquanto a terra nos sustentar. Que o sacerdócio não se prenda somente ao círculo mágico, mas que este se estenda ao horizonte que é circular também. Que um Deus nasça todo dia dos frutos de nosso suor e que sejamos nós, além de seus sacerdotes e sacerdotisas, também parteiros.

Que Assim Seja!


S. Thot

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