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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DAS ESTRELAS




"Então Diana dirigiu-se aos pais do Princípio, às mães, aos espíritos que existiam antes do primeiro espírito."

Da obra Aradia, de Charles Leland

Recentemente saí fora da Grande São Paulo e seu véu de fumaça e poeira. Distante uma centena de quilômetros, pude passar um tempo um pouco mais perto do silêncio e de um ar menos fumacento. Mas a surpresa veio à noite.
Ela prometia ser nublada mas não desanimei. Meu objetivo era ver o céu noturno e limpo, pois meu último encontro com a Via Láctea fora a mais de 15 anos atrás em São Tomé das Letras, Minas Gerais.

Na ocasião foi muito engraçado, rs!
Estávamos em grupo, andando numa trilha e saindo da cidade. Era inverno e fazia um frio de lascar, com o vento cortante no rosto. Tomava cuidado para não tropeçar nas pedras nem no companheiro da frente. Num lapso, por algum motivo, olhei para o céu. Você, criatura da cidade, não faz ideia assim como eu também não fazia ideia. Eu estava acostumado somente a relances, algumas constelações. No máximo um Cruzeiro do Sul.

Mas ali a sensação que tive foi de assombro pois um rio de estrelas cruzava o céu e pude penetrar em sua escuridão até o fundo e lá ver o meu reflexo só para constatar a minha pequenez diante daquele milagre.
Por ato contínuo meus joelhos dobraram. Acredita quando eu falo pois eu sempre narro este fato a quem quiser ouvir pois eu mesmo não acredito: meus joelhos dobraram.

E se bem me lembro continuei fitando o céu, assombrado, rolando para o lado da trilha. A pessoa que vinha atrás de mim, lanterna na mão, me ofuscou perguntado "o que foi?". Eu apontei e disse "o céu". Ele olhou e também caiu no chão!
E tantos anos depois eu buscava este reencontro, sentado na varanda da casa, temendo pelo contato com cobras e aranhas reais ou imaginárias, rs! E então as nuvens foram sopradas para longe.

O céu descortinou-se para mim. "Oi" eu disse. E ficamos lá, olhando um para o outro enquanto estrelas-cadentes cruzavam o firmamento rápidas e ávidas por pessoas que lhes fizessem pedidos. De volta à Cidade Grande eu ainda fito a escuridão opaca do pó e névoa na tentativa de ter um vislumbre das estrelas que nos observam e protegem.


Guardiães

Um escritor pagão conhecido, Raven Grimassi, escreve em sua obra "Os Mistérios Wiccanos" sobre a vião dos Antigos sobre as estrelas e o culto ao Guardiães, estrelas Reais. Charles Leland (Aradia - Gospel of the Witches) mostra a crença que os Guardiães são, Deuses antes dos Deuses ou simplesmente os Antigos.

É fato que as estrelas exercem sobre nós um grande fascínio e foram de grande importância em vários capítulos da história humana seja como calendário agrícola, seja como instrumento de navegação.

  • No calendário egipcio Sírius possuia posição de destaque pois sua aparição marcava aos pagãos a hora da cheia do rio Nilo.
  • Ou a Canopus, importante estrela para navegação no hemisfério Sul. Esta estrela é parte da antiga costelação Argo Navis. A Argo Navis fora uma expedição grega de heróis que cruzara o mundo conhecido em busca de aventuras. Canopus era seu condutor.
  • A primeira costela que reconheci no céu noturno me foi mostrada pelo meu pai: o Cruzeiro do Sul. Ela faz parte de minha infância e de uma rica gama de histórias contadas por ele sobre os seres que habitavam as florestas e mares do Sul da Bahia. A importância desta constelação para o imaginário popular e as navegações é surpreendente!

Então, se tiver a oportunidade de se afastar dos centros poluídos, aproveite para sair na escuridão e se maravilhar.

Saúde, amizade e liberdade


S. Thot.

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