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sábado, 22 de setembro de 2007

DO RITUAL PÚBLICO

Por S. Thot

Era uma tarde quente do início de março. O sol ardia sobre a pele e o ar, seco enquanto descia a rua Mãe dos Homens e cruzava a avenida Salgado Filho. Ao longe eu avistava árvores e ansiava por sua proteção. Meu rumo era o Bosque Maia, afim de preparar o encontro do dia 25, um domingo.

Cruzo o portão lateral e sinto a brisa fresca que traz cheiros de madeira e outros perfumes. Lavo o rosto, pescoço e braços no bebedouro do parque. Chego a administração e converso com os responsáveis, já velhos conhecidos. Tudo ok na documentação, faltando somente a assinatura do secretário de meio-ambiente. Há tempo hábil e não me preocupo.

Por curiosidade, olho a agenda de eventos do espaço Gilmar Lopes, local de nossos encontros há alguns anos, e constato que está quase vazia. Somente o Semente Sagrada usaria o espaço em março.

Ao sair, me encaminho até lá e subo os degraus de cimento, no mesmo lugar onde concentramos, onde posicionamos nosso altar. Observo as pessoas que descansam na pequena arquibancadas, com as árvores atrás e o céu nos protegendo. Então rápidas lembranças surgem.

Lembranças de rituais passados, de pessoas que sempre vejo e outros que desaparecem nas brumas do tempo. Lembranças de calores sufocantes ou ventos gélidos, de dias de chuva ou de céu limpo. Faz tantos anos... Lembrei de meus temores em expor aquilo que fazíamos entre quatro paredes ali, para o escrutínio público. Lembro do coração acelerado e do "seja o que a Deusa quiser", quando meus argumentos não surtiam efeito. Se fosse para dançar, que dancemos todos então. É curioso ver agora que somos parte da paisagem de tempos em tempos.

Penso nos pagãos que se reuniam no mesmo dia em outros locais do mundo. Penso nos que não podiam e não podem, por doença ou incapacidades de várias ordens (e oro por eles). Penso naqueles que o faziam à noite e em segredo, enquanto eu tenho apoio de minha cidade (e oro por eles). Penso naqueles que pegarão o bastão quando já não pudermos mais. Orarão por nós?

A barca solar ruma ao horizonte, levando consigo minhas orações. Que alcancem a todos.

"Sempre que um local tenha tido orações e desejos concentrados direcionados à ele, formasse um vértice elétrico que atrai para si uma força e que se torna por um tempo um corpo coerente que pode ser utilizado pelo ser humano.

É ao redor desses corpos de força que templos, locais de culto e, posteriormente, igrejas são erguidos; são cálices que recebem um derramamento cósmico focalizado em cada local específico."

Dion Fortune,
Aspectos do Ocultismo

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