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segunda-feira, 13 de abril de 2009

DO CONHECIMENTO





"Com um grito de medo, Ícaro percebeu que a estrutura de suas asas se desfazia. Procurou esconder-se sob as nuvens, mas o sol tornara-se tão imenso que desmanchava as próprias nuvens."

A. S. Franchini e Carmen Seganfredo,
As 100 Melhores Histórias da Mitologia



Conhecimento, em linhas gerais, é informação com propósito. Acúmulo de dados não basta para para designar aquele que os acumulou uma pessoa de conhecimento. Para tanto, ela tem que dar a essas informações um sentido, um uso.

Vivemos hoje mergulhados na informação: conversas, livros, jornais, revistas, rádio, outdoors, cartazes, autofalantes, Ipods, telefones fixos e celulares, tevê, fax, e-mail, Orkut, blogs, sites, MSN, Twitter... Mas tudo isso bate em uma barreira, que é nosso entendimento do mundo. Dou um exemplo simples.

Não é raro, quando ando de ônibus, ver gente jogando lixo pela janela. Desde criança ouço a famosa frase "lugar de lixo é no lixo". No entanto, centenas de pessoas simplesmente fazem do lugar onde estão um aterro sanitário particular. Ainda na questão do lixo, apesar das caçambas de material reciclável disponíveis, no condomínio onde moro os moradores simplesmente não se ocupam de separar e depositar nos recipientes. Simplesmente misturam com o lixo comum, que fica do lado.

Afinal, o que há?


Emoção

Talvez, e falo como leigo no assunto, a informação não seja tudo. Talvez seja preciso um tempero para ela, um sal para que algo se desperte dentro do indivíduo, de modo que a informação se una a ele e torne-se conhecimento. Esse sal pode ser a emoção.

A informação é só um conjunto de palavras & imagens desconexas, mas é nossa participação, quando atuamos como sujeito na história, que elas ganham sentido para nós. Como no caso dos que jogam lixo no chão, ou não separa material reciclável do lixo comum, temos pessoas que não estão ligadas afetivamente com a questão ambiental. Não se sentem parte deste mundo, apesar de nele viver.

Seu mundo é um tanto pequeno, sua percepção das coisas é estreita. Ela olha o mundo e não vê, não sabe onde está nem para onde vai. Apenas segue, sonâmbula. Não basta dizer "ah, as pessoas tem que ter conhecimento", ou "é preciso dar cultura ao povo". Não é esta a questão. O fato é que as pessoas tem que USAR as ferramentas que tem.

Pode-se ler para elas, mostrar-lhes vídeos, fazer palestras e o escambau, mas se elas não sentem, será em vão.

Mesmo entre nós acontece algo semelhante. Temos pessoas que só recolhem fragmentos de informação ao seu bel-prazer, sem qualquer conexão ou senso de realidade. Como esta troca de informações captada do Yahoo! Respostas. Se fossem praticantes, a resposta seria outra.


Na vida

Acredito ainda que este conceito se estende a outras situações. Mesmo quando alertados sobre o perigo iminente, nós pagamos pra ver. Isto é o risco. Aposto e ganho que as pessoas que não separam seu lixo estão ocupadas demais para prestar atenção a estes "detalhes pequenos".

É claro que o mundo existe por meio de quem faz, de quem se arrisca. E não dá para prestar atenção em tudo, ou ficar no canto, encolhido de medo. É preciso parar a beira do penhasco e voar. Mas o risco deve ser calculado, para saber até aonde nossas asas de cera resistem.

Acordar do sonho para que a realidade não nos atropele.



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