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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

VIVER É PRECISO?


"Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: 'Navegar é preciso; viver não é preciso'. Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo."

Fernando Pessoa

Tornar a vida grande... Sim, fazer algo em nossos dias que realmente valha a pena contar no futuro. Observando e ouvindo as pessoas na rua, nos ônibus e filas de mercado já me deparei com o absurdo da vida pequena. Só ouvi falar dos pequenos problemas, das mesquinhezas de uma existência menor. É a vida como um núcleo secundário de uma novela das oito, onde os pobres fazem micagens.

Não posso dizer que seja a idade, afinal eu não me acho (tão) velho, e também porque sempre tive esta visão de mundo. Aliás, que anda menos radical agora e talvez isso sim seja um sinal de senilidade. Mas há uma chama débil tremulando em algum lugar aqui dentro e é ela que me aquece no deserto do real. Ainda que isso me deixe mal vez ou outra.

Neste ponto até apoio as pessoas que, irracionalmente, destroem o planeta: não-pensar é incrivelmente mais fácil. Como os violinistas do Titanic, tocar até o navio afundar de vez. Há algo que se possa fazer contra o iceberg do status quo? Bem, há o trabalho de formiguinha, o dia-a-dia. Há o refletir e agir constantes.

Uma coisa que percebi nas grandes histórias de heróis é que eram as pessoas certas na hora certa. Ser herói é ter nas mãos a chave que muda a realidade, mas sem saber para quê aquele troço serve até o momento crucial. O herói como alguém finalmente desperto para a vida, atuante, que participará dela não como mero coadjuvante, mas como um de seus protagonistas, um dos Argonautas a cruzar o mundo conhecido e nele achar perigos e tesouros.


Talvez sucumbir no final até. Mas não é esse o destino de todos? Até lá, sejamos radiantes como o Sol.


2 comentários:

  1. Todos somos hérois de suas próprias vidas - nada de grandioso nem heróico, só sobreviver.
    Há os que são mais exigidos do que outros nessa tarefa, por isso mesmo se destacam.
    Felizes dos que dentro de si encontram um ideal, um ponto que sempre perseguem e na esperança de alcançarem.
    Passam mais felizes por essa existência, com um ideal desejado. Alcançado ou não, mas perseguido até o fim.
    No mais, para a maioria, resta procurar o sentido do "para e porque" estamos aqui.

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  2. Fato! Todos somos heróis de nossas próprias vidas. Mas mesmo nisso, mesmo nesta individualização existe algo que transborda, que afeta o outro porque estamos imersos na sociedade, queiramos ou não.

    E geralmente não queremos, rs! E já que estamos até o pescoço nisso, já que cada movimento faz onda, talvez só nos resta direciona-la.

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