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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DO SOL





"Após ter completado sua volta celeste, Hélio, ao anoitecer, recolhia-se em seu castelo de ouro, onde adormecia, para no dia seguinte mais uma vez cruzar o céu."


Trecho do livro O Oráculos dos Astros, de Marcia Frazão

O Sol, que cruza nosso céu todos os dias, fez desta terra uma espécie de "celeiro do mundo" no imaginário das nações.

Há, Sol e Brasil tem tudo a ver! Rs! Na década de noventa lembro de uma discussão muito interessante sobre veículos movidos a base de biocombustíveis, ou como a maioria das pessoas conhecem, o carro à álcool. Acontece que nosso país tem terra&sol suficientes para abastecer uma grande frota de veículos mundiais em um tempo onde discutimos como e aonde conseguiremos mais petróleo para abastece-los. Acontece é que isto tem um custo muito alto e não falo só em dinheiro.

Ao viajar para o interior do estado de SP vi de perto carretas enormes cheias de cana recém-cortadas, e campos a perder de vista em um lugar onde a pouco mais de 400 as florestas dominavam. Nas minúsculas áreas de reserva restantes a fauna e flora penam para sobreviver. Nossa fatia da Mata se encontra na Serra da Cantareira, ao norte da cidade e passa por estas dificuldades.

Certa vez realizamos um ritual na área limítrofe entre a cidade e a mata e me dei conta do quanto avançamos lenta e inexoravelmente por ela. Mesmo nos pontos onde começa a se fechar há sinais da passagem humana: lixo, muito lixo. Bairros como Vila União, que não existiam a 20 anos atrás, hoje possuem ruas estreitas e tortuosas com casas que buscam se fixar nos morros íngremes. Nesses meses de chuva eu penso o quanto estas residências correm perigo devido a terra solta, muitas construídas sem apoio de arquitetos ou engenheiros.

Ser a terra abençoada pelo sol deveria trazer as suas populações mais benefícios que problemas.


Câncer de pele

Outra discussão antiga envolvendo o sol é o buraco da camada de ozônio e a degradação da atmosfera pela ação industrial. O simples ato de sair na rua atualmente deve ser cercado de medidas para evitar o câncer de pele com o uso de protetores solares.

Quando criança tomar banho de sol era sempre um prazer, brincado de bola em rua de terra, esconde-esconde, pião e bolinha de gude. Importante também na absorção da vitamina D pelo nosso corpo, em meu imaginário não consigo me ver morando em uma região próxima aos pólos onde os dias são mais escuros e frios. Sou um adorador confesso do Sol. Atualmente, entre outros perigos, reais ou imaginários, que as ruas nos oferecem agora temos que listar o Sol.


Fonte de energia

Outra benção de nosso país que envolve o Sol é a quantidade de rios devido as chuvas abundantes. A energia que usamos hoje provem de hidrelétricas espalhadas pelo território nacional. Relativamente barata e limpa se compararmos com as de origem nuclear ou da queima de fósseis, só acontece devido a grande quantidade de energia envolvida na vaporização de oceanos, sua transformação em nuvens, chuva e rios que abastecem o sistema. Mas é preciso levar em conta o impacto que tais construções geram em seu entorno, como a represa das Três Gargantas, na China.

Uma fonte de energia direta e ainda inexplorada é a geração de energia elétrica através de células fotossensíveis. Primeiramente encontrado em aparelhos simples como calculadoras, a energia solar ocupa cada vez mais espaço nas mentes das pessoas. Empresas especializadas já oferecem serviços para instalação de painéis solares particulares a um preço razoável dado o custo x benefício, já que a energia excedente pode ser "vendida" à empresa distribuidora de energia. Como? É simples.

Toda a energia consumida em sua casa é medida pelo aparelho instalado pela empresa distribuidora, o famoso "relógio". Com os painéis solares solares instalados, a energia não consumida tem que ir para algum lugar, começando assim a "empurrar" os elétrons de sua casa para o sistema. O relógio então retrocede marcando menos energia consumida. E, até onde sei, isso não é ilegal.


O Sol, em seu passeio pelo céu no entanto, ignora todas estas questões.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DAS ESTRELAS




"Então Diana dirigiu-se aos pais do Princípio, às mães, aos espíritos que existiam antes do primeiro espírito."

Da obra Aradia, de Charles Leland

Recentemente saí fora da Grande São Paulo e seu véu de fumaça e poeira. Distante uma centena de quilômetros, pude passar um tempo um pouco mais perto do silêncio e de um ar menos fumacento. Mas a surpresa veio à noite.
Ela prometia ser nublada mas não desanimei. Meu objetivo era ver o céu noturno e limpo, pois meu último encontro com a Via Láctea fora a mais de 15 anos atrás em São Tomé das Letras, Minas Gerais.

Na ocasião foi muito engraçado, rs!
Estávamos em grupo, andando numa trilha e saindo da cidade. Era inverno e fazia um frio de lascar, com o vento cortante no rosto. Tomava cuidado para não tropeçar nas pedras nem no companheiro da frente. Num lapso, por algum motivo, olhei para o céu. Você, criatura da cidade, não faz ideia assim como eu também não fazia ideia. Eu estava acostumado somente a relances, algumas constelações. No máximo um Cruzeiro do Sul.

Mas ali a sensação que tive foi de assombro pois um rio de estrelas cruzava o céu e pude penetrar em sua escuridão até o fundo e lá ver o meu reflexo só para constatar a minha pequenez diante daquele milagre.
Por ato contínuo meus joelhos dobraram. Acredita quando eu falo pois eu sempre narro este fato a quem quiser ouvir pois eu mesmo não acredito: meus joelhos dobraram.

E se bem me lembro continuei fitando o céu, assombrado, rolando para o lado da trilha. A pessoa que vinha atrás de mim, lanterna na mão, me ofuscou perguntado "o que foi?". Eu apontei e disse "o céu". Ele olhou e também caiu no chão!
E tantos anos depois eu buscava este reencontro, sentado na varanda da casa, temendo pelo contato com cobras e aranhas reais ou imaginárias, rs! E então as nuvens foram sopradas para longe.

O céu descortinou-se para mim. "Oi" eu disse. E ficamos lá, olhando um para o outro enquanto estrelas-cadentes cruzavam o firmamento rápidas e ávidas por pessoas que lhes fizessem pedidos. De volta à Cidade Grande eu ainda fito a escuridão opaca do pó e névoa na tentativa de ter um vislumbre das estrelas que nos observam e protegem.


Guardiães

Um escritor pagão conhecido, Raven Grimassi, escreve em sua obra "Os Mistérios Wiccanos" sobre a vião dos Antigos sobre as estrelas e o culto ao Guardiães, estrelas Reais. Charles Leland (Aradia - Gospel of the Witches) mostra a crença que os Guardiães são, Deuses antes dos Deuses ou simplesmente os Antigos.

É fato que as estrelas exercem sobre nós um grande fascínio e foram de grande importância em vários capítulos da história humana seja como calendário agrícola, seja como instrumento de navegação.

  • No calendário egipcio Sírius possuia posição de destaque pois sua aparição marcava aos pagãos a hora da cheia do rio Nilo.
  • Ou a Canopus, importante estrela para navegação no hemisfério Sul. Esta estrela é parte da antiga costelação Argo Navis. A Argo Navis fora uma expedição grega de heróis que cruzara o mundo conhecido em busca de aventuras. Canopus era seu condutor.
  • A primeira costela que reconheci no céu noturno me foi mostrada pelo meu pai: o Cruzeiro do Sul. Ela faz parte de minha infância e de uma rica gama de histórias contadas por ele sobre os seres que habitavam as florestas e mares do Sul da Bahia. A importância desta constelação para o imaginário popular e as navegações é surpreendente!

Então, se tiver a oportunidade de se afastar dos centros poluídos, aproveite para sair na escuridão e se maravilhar.

Saúde, amizade e liberdade


S. Thot.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

DA ESCOLHA




Esta postagem tem inspiração no Blog Casa Claridade, da amiga dálem-mar Hazel. Ela, sabedora de que vivemos em uma sociedade de conflito, desembainhou suas espadas e foi a luta.



Vivemos em um ambiente de conflito. A paz que experimentamos entre quatro paredes é uma negação a realidade que nos rodeia. Chega uma hora que simplesmente temos que atravessar a porta e sair. E, ao sair, temos que fazer escolhas e encontrar o Outro.

Apesar de precisarmos ser socius não raro temos relações distantes, oportunistas ou parasitas em relação ao Outro. Esse Outro pode ser um animal, uma pessoa ou um recurso da Terra.


Diante deste fato simples e de sua percepção é evidente que há muito tempo estamos em uma guerra. A diferença é que alguns percebem e outros não. E os que percebem só o fazem quando uma granada explode ao seu lado.


Omissão

Vivendo portanto em uma sociedade de conflito dizer simplesmente "ah, isto não é comigo" não resolve muito as coisas. Esta frase coloca nas mãos da Fortuna o curso de sua vida, e aí tudo se acontece neste jogo de dados que é o mundo lá fora. "Isto não é comigo" não é uma resposta válida. Vivemos em uma sociedade em conflito. Nesta situação todos tem posições. Sem exceção.

Na sua rua, quando a praça acumula lixo jogado pelos moradores e passantes, cria-se ali um vórtice de energia negativa ruim. Começam a aparecer insetos e animais maiores como transmissores de doenças. Mais lixo se acumula e, diante do vácuo social e destas presenças, estes locais viram pontos de desova de veículos ou mesmo corpos humanos. A natureza detesta espaços vazios e isto é uma regra. Se a sociedade não ocupa os espaços, ALGUÉM o fará.



A mesma coisa acontece na sua vida. Se você não escolhe o que fazer da sua, acredita, alguém fará a escolha por você. E aí, meu amigo e minha amiga, o resultado é uma loteria.


Gentileza ou Força?

Quem me conhece sabe que sou sempre pela diplomacia, pelo consenso, pelo acordo. Mas há horas em que a diplomacia, o consenso, o acordo não são opções. Sabemos que há situações onde ações enérgicas são necessárias pois o estado de emergência chegou. Nossa luta deve ser, em primeiro momento, para que estado de emergência não chegue, para que a degradação em todas as relações pare e, se der, até recue.


Cada ação mínima, como a Gentileza, é uma ação válida. Mas seja rápido, antes que a Gentileza tenha que ser substituída pela Força. E aí, quando a hora da Força chegar, posições serão cobradas com mais vigor.


Saúde, amizade, liberdade.


S. Thot


Post scriptum



Olá! Gostaria que lessem outras experiências com relação à questão da Escolha:

  • "Todo mundo tem,  e todo mundo joga coisas lá, no subconsciente: O pavor de leões ou baratas, o horror ao conflito, à agressão, à expressão desse lado e ao mal entendido.  O ódio de quando alguém invade seu espaço. O desejo de dar uma bela voadora...uns shouryukens xD..." Termine de ler este divertido e instigante texto em Bruxaria Pagã, clicando AQUI, da ciberamiga [(SÄM)].

domingo, 8 de novembro de 2009

AGORA É SOBRE GENTE LESA



Gente Lesa foi uma série de curtíssima duração sobre uma família classe média carioca vivendo em torno da responsabilidade social. Passava no canal pago GNT e lamento não ter durado.

As sacadas da trama eram muito boas, como vocês podem ver AQUI e AQUI. Só depois da postagem sobre o Gentileza é que entendi o duplo sentido do nome do programa. Isto é cultura pop! Mas o que me leva a escrever tem a ver com a série em si em com as reflexões que ela me deu sobre a questão ambiental.

Basicamente a série diz: sustentabilidade não é fácil. Um dos bordões do programa era "pobre recicla por necessidade". E não é verdade? O exército de catadores de papelão nas ruas que o digam! Apesar do serviço importantíssimo que realizam, são vistos como páreas pois lidam com materiais que tornamos e chamamos de lixo. Mas limpo e seco ele vira somente uma embalagem vazia!

Acho que já até já falei aqui mas não custa nada recordar. Afinal, temos que abrir mão de pequenos confortos, sonhos e prazeres para ao menos diminuir esta corrida louca rumo ao abismo. vejo no local onde moro que, apesar de toda a campanha que é feita sobre reciclar e tal, apesar dos tambores com as cores e palavras "papel","plástico" e "vidro e metal" escritas em tamanho gigante, há quem não se incomode e mistura o reciclável com orgânico e transforma tudo em lixo!

É muito mais confortável, admito, consumir e jogar fora. Só que isso está se tornando insustentável. É essencial diferenciar o que é conforto e o que é necessidade, e esta linha não é clara para alguns, como a série Gente Lesa e meu dia-a-dia mostram.

E para você? O que é conforto e o que é necessidade?