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quarta-feira, 16 de junho de 2010

NOITES FRIAS




Nesta parte do país o frio tem congelado meus ossos, seja dia seja noite. Uma brisa vinda do sul me envolve em seus braços como aquela mulher nos sonhos de Akira Kurosawa. O Samhain passou e o Solstício se aproxima. As noites caem tão rápido...


E paro um pouco na correria do dia e encaro o poente atrás da Serra da Cantareira. O céu é de um azul profundo e as poucas nuvens são douradas como leite com canela e chocolate. Hmmm, como eu desejo uma xícara fumegante de leite com chocolate! Vênus surge como de costume, brilhante, no pousar da noite.

Então tudo fica mais lento à minha volta, desimportante. Penso nos que se foram e nos que vieram. Penso nos jovens que já não são tão jovens e no hálito da Morte que senti tantas vezes. Me pergunto: quando será minha vez?

Trágico? Não diria. É uma certeza. Abrindo meu e-mail profissional leio notas de falecimento de funcionários das outras bases. De gente tão jovem, 23, 27, 30 anos... solteiros, casados, com ou sem filhos... É um fato da vida. O trem que chega é o mesmo trem da partida.


Oceano de Vida

A Deusa nos colhe do Oceano da Vida nestes receptáculos frágeis que chamamos de corpo. Quando nosso corpo finalmente se desmancha, tal&qual um copo de papel, a água volta ao Oceano, se misturando. E a Deusa faz outro destes copinhos frágeis, se abaixa e recolhe outro pouco de nós. E voltamos novamente. Parte aqui, parte ali... mas sempre voltamos. Não para pagar pecados ou algo assim, não creio nisto. A gente volta para duas coisas...


1) Para aprender e transmitir conhecimento.

2) Para nos divertimos durante o processo.

É minha esperança

Mas estamos no Inverno e está tudo seco e morto em nós. Aparentemente.

Resistamos juntos como fazem as brasas na fogueira.

Saúde, amizade, liberdade.


Sergio Thot


2 comentários:

  1. Tema quase triste, não fosse pela frase final - renovou a "chama".
    Enquanto não chega a hora, aproveitemos a festa - em qualquer estação.

    "Sou aroeira, madeira dura de se cortar, que mesmo depois de morta, ainda brota só prá desafiar!"

    Abraços.

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  2. Ah, são esses dias escuros, de ventos frios e rasgantes. Trazem os sussurros no ar, de tempos e pessoas que passaram.

    Mas é quando a noite se torna mais longa e escura é que temos a certeza que o dia não tarda a raiar. Até lá, nos abracemos enquanto o véu da Deusa cobre de branco as manhãs nevoentas.

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