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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

FÉ CEGA, ATHAME AMOLADO

Olá, como vão?

Quero dividir com vocês os pensamentos surgidos de um evento triste ocorrido esta semana com a Consorte. Voltando do trabalho, num dia quente de Beltane, em pé no ônibus, um cidadão se oferece para segurar-lhe a bolsa. O que não sabia é que minutos atrás ela havia se tornado mais um alvo numa cidade de vítimas. Quando entrou no ônibus e guardou seu aparelho em um compartimento da bolsa, a ação foi marcada pelo meliante, o mesmo que se ofereceu para segurar a bolsa e cobrila distcretamente com uma revista enquanto sorrateiramente abria o bolsinho lateral.

A questão não é o valor do aparelho, que era baratinho, mas a audácia, cara de pau, e a sensação de vácuo que fica nessas horas. Pois fica. Depois vem o ódio e a desconfiança.


Invasores

Quando pequeno fui ensinado a desconfiar das pessoas. Ao atingir a adolescência resolvi matar isso em mim e me jogar mais no mundo. Não que não tema, mas isso faz com que me relacione facilmente com os outros sem desconfiar que qualquer desconhecido seja um marginal em potencial. Adquiri com o tempo e experiência uma certa fé na humanidade, por saber que as pessoas são... apenas pessoas. Que existem os essencialmente bons, os essencialmente maus, mas que ambos os grupos são formados por um número pequeno de indivíduos. O restante, como você e eu, é bom o mau conforme a oportunidade, como diria Erich Fromm.

Quando esta oportunidade não existe, o crime e a violência são desnecessárias, conforme nos aponta Rachel Pollack em seu livro O Corpo da Deusa (que não canso de citar, rs!) quando fala das antigas sociedades aparentemente pacíficas.

Deidade encontrada em Çatal Hüyük
"A cidade neolítica de escavada próximo à Çatal Hüyük, em Anatólia, na Turquia (em geral chamada simplesmente de Çatal Hüyük), é uma das cidades mais antigas do mundo, datando de 7250-6150 a.C. O arqueólogo James Mellaart encontrou 800 anos de habitação contínua. Nem uma vez o registro arqueológico mostra sinais de um saque ou de um massacre. Nenhum em 800 anos".

Uma corrente de historiados e arqueólogos, como Marija Gimbutas, acredita que uma sociedade femeo-centrada tenha existido na região que conhecemos hoje como Oriente Médio, estendendo-se até a Europa Oriental, e que era essencialmente pacífica e agrícola, sendo submetida por povos indo-europeus vindo do leste. Esta ideia é chamada de Hipótese Kurgan.


"Gimbutas acreditava que as expansões da cultura Kurgan foram uma série de invasões essencialmente militares e hostis, onde uma nova cultura guerreira se impôs sobre as culturas pacíficas e matriarcais da "Europa Antiga", substituindo-as por uma sociedade guerreira patriarcal, um processo visível no surgimento de povoações fortificadas e nos túmulos de líderes guerreiros."

Então temos o caipira cuidando de sua terra e plantação tendo que, do dia para a noite, defende-la do ataque de grupos empenhados em consumir o suor de seu rosto. Devemos lembrar que uma parte considerável da história humana baseia-se no resultado direto do campo, numa vida em que as reservas alimentares não duravam muito. Saber quando plantar e quando colher era questão de vida ou morte para populações inteiras. Saiba mais sobre os invasores indo-europeus AQUI.


A Ocasião Faz o Ladrão

Voltando ao assunto, acreditamos que o meliante era apenas uma pessoa comum que viu a oportunidade e aproveitou, por conta de uma baixa de seus conceitos éticos e morais e da oportunidade que se apresentou, tentadora. Temos momentos assim, acredito, onde o pior de nós aflora mas que não aquilo que somos essencialmente.


Ou então este pensamento é meu lado Pollyana falando, rs!

Crendo nisto, vivo a vida de modo a não criar tais oportunidades para que as ações ruins não nasçam na mente e coração das pessoas, e penso que todos devamos fazer o mesmo, seja em nível individual ou social. E que também devemos nos preparar psico e fisicamente para situações onde se exige que entremos em conflito com o outro na busca de nossa segurança e de quem queremos bem.

Estas são coisas a se pensar com profundidade na realidade em que vivemos.

Saúde, amizade, liberdade.


Sergio Thot.


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