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terça-feira, 1 de janeiro de 2008

DO CALENDÁRIO


Este é o primeiro dia do ano-novo, um dois mil e oito novinho para fazermos o que quiser. Mas (e sempre tem um mas...), em qual calendário?

Porque temos os calendários judeu, muçulmano, chinês, juliano, gregoriano, asteca... Tem para todos os gostos. Ah, e temos também o nosso, que combina elementos solares e lunares.

Mas, e aí? De onde vem o calendário?

Origens
A medida que o ser humano emergia para o ser consciente, sua percepção o fez se intrigar com os fenômenos naturais a sua volta. Os seres nasciam e se degradavam, modificavam-se diante de nós. No alto, discos brilhantes apareciam e sumiam.
E estes eventos podiam ser acessados em sua memória, mesmo que sua presença física tenha passado.

Este acesso permitiu aos nossos antepassados descobrirem que certas coisas eram aleatórias e outras não. E o que não é aleatório possuía um ciclo, uma freqüência. Se antes ele vivia o tempo presente, agora ele poderia prever, com alguma certeza, eventos futuros. Tudo que tem um ciclo pode ser medido.

Parece pouco saber a que horas o sol nasce, mas se você pensou assim não descobriu ainda a essência da Wicca, que é maravilhar-se com as supostas pequenas coisas. Há 100.000, 200.000 anos atrás a descoberta do Pensamento e da Memória foi fundamental para que tenhamos o conforto do qual desfrutamos hoje.

A percepção do ciclo pode ter começado pequena, no cotidiano, com o mais óbvio, mais evidente ciclo conhecido que é o nascer do sol. Quantas luas cheias são necessárias para se ver nascer uma criança ou um bezerro. Depois disso passamos para pássaros e insetos que cantam em certos momentos do dia ou mudanças de vento. Nossa percepção então vai em um crescendo, reconhecendo ciclos maiores como menstruação, florescimento dos vegetais, cheias de rios, idas e vindas de bandos e manadas.

Ao mesmo tempo, pequenos ajuntamentos familiares crescem para aldeias e vilas, e toma-se conhecimento de outras localidades mais distantes. Troca-se produtos e idéias. As viagens são mais longas, os plantios e rebanhos são maiores e complexos. É preciso pensar em longo prazo e criar uma ferramenta capaz de identificar e medir este ciclo.
Se antes nossas tarefas eram medidas ao passo dos dias, com a complexidade de nossas tarefas é preciso pensar em intervalos cada vez maiores. É necessário também que esta ferramenta seja acessível, facilmente reconhecido e de maneira universal. Nasce o conceito do calendário.

Irmão Sol, Irmã Lua
Os principais calendários foram os solares e lunares, cuja combinação nem sempre exata é usada até hoje. Presume-se que o primeiro a ser usado fora o lunar, pois seu ciclo mais curto e a ausência de ferramentas para sua medição o torna mais prático. Seu período é de um mês lunar (a palavra mês tem sua origem primordial na palavra lua). Uma característica básica dos calendários lunares é o fato do dia seguinte iniciar-se ao por-do-sol, como o hebraico.

Mas a base econômica das populações era a agricultura, que exigia períodos maiores de tempo e conhecimento das épocas de plantio e colheita através da marcação das estações. Provavelmente por estes e outros motivos o calendário solar foi criado.

Isto pediu um nível intelectual mais avançado, pois a fase da Lua é facilmente reconhecível para o observador. A medição e observação solar, porém, pedia instrumentos e conhecimentos mais abstratos.

A verdade está lá fora
Se você, caro leitor, amiga leitora, observar bem o nascer e por do sol durante o ano perceberá que, apesar dele nascer no leste e se por no oeste, isto não acontece sempre nos mesmos pontos o ano inteiro. O sol faz um movimento aparente no horizonte neste período. No nosso hemisfério, este movimento o faz movimentar-se para o sul. Quando ele chega o mais próximo possível do sul, diminuindo assim a incidência de raios solares sobre nosso hemisfério, o tempo esfria e temos o Solstício de Inverno.

O problema é que é difícil e não recomendável olhar para o sol para o sol para medir este posicionamento. Mas veja só que sacada! O movimento da luz é imitada pela sombra. Então uma das possíveis primeiras ferramentas para medir as estações (e, posteriormente, as horas) foram pedras ou toras de madeira estrategicamente colocadas no solo para que, quando a sombra de uma passasse sobre a outra, marcasse o solstício.

Supõe-se ainda que os portadores destes conhecimentos fossem vistos com reverência que hoje chamaríamos de religiosa. Com a divinização destes astros, seus conhecedores acabaram realmente ganhando status de sacerdotes, de ligação entre o divino misterioso e o camponês.


O Tempo e o Vento
Os antigos pagãos tinham na medição do tempo um cuidado especial. Afinal, como caipiras, dependiam da terra, da agricultura, para sobreviver. Não raro encontramos observatórios solares, verdadeiros relógios, que medem os solstícios e equinócios. Há hora para plantar, hora para colher, ora para descansar.

observatórios famosos (megálitos), dólmens, menhires, círculos de pedras (Stonehenge), e outros. São construções encontrados na China, Bretanha, Ibéria, Germania e no Amapá.


O Divino, povo e o tempo
Como viu-se, além de funções práticas a marcação do tempo possui um significado mais profundo. O cálculo do tempo influi na vida das pessoas no campo religioso também. Eis uma lista de alguns calendários e os povos que os usavam:
*Hebraico - baseado no ciclo lunar, onde o mês se inicia na lua Nova; para os judeus, o mundo foi criado em 3760 a.C.
*Chinês - um dos mais antigos registrados, serviu de base para os povos circunvizinhos, sendo lunissolar; o ano chinês possui 354 dias.
*Maia - muito complexo, pois mede não só dias (vinte), meses (dezoito) e anos, mas também eras; baseado nele é previsto o início de uma nova Era em 21 de dezembro de 2012.
*Juliano e Gregoriano - seu uso está ligado hoje às áreas de influência das religiões ortodoxas (juliano) ou católicas (gregoriano), sendo este último o de uso corrente no país; a defasagem entre eles é de 13 dias.
*Islâmico - puramente lunar, tem onze dias a menos que o gregoriano; inicia-se com a fuga de Maomé para Medina.


Calendário wiccano
Nosso calendário solar divide-se em oito períodos chamados sabás. O intervalo entre cada sabá é de aproximadamente 40 dias. Existem os sabás menores, baseados em datas astronômicas, solstícios e equinócios e no calendário de comemorações pagãs européias.

Tradicionalmente nosso ano começa em Samhain, 31 de outubro no calendário gregoriano. Este é um período de limpeza interna e externa, uma preparação para o ano que se inicia. Atentem que não falamos na data como a fronteira, mas ápice de algo que já se processa. Afinal, o Litha, o reino do sol, guarda em si o início do inverno. E o inverso é certo no Yule, que carrega a promessa do verão.
O calendário lunar é composto de 13 meses, marcados pela Lua Cheia. Como era de se esperar, o calendário solar possui a primazia. Mas a importância da Lua Cheia é expressa na Carta da Deusa, um dos principais textos da Wicca:
"Sempre que vós tiverdes quaisquer necessidades, uma vez ao mês, e melhor seria quando a lua estiver cheia, então vós deveis vos reunir em algum local secreto e adorar o meu espírito, eu que sou a Rainha de todas as bruxarias."

Vivendo as datas
Observar as datas dos sabás e esbás, os rituais da Lua Cheia, nos fornecem as chaves dos Mistérios. Porque por mais que leiamos a percepção do que é realmente a Religião só se dá aí, no rito. Não é aqui que você encontrará o Divino, mas na vida.

Viva o tempo presente.


E cavalgue o Luar!



Sergio Thot

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