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sábado, 11 de outubro de 2008

DA CASA VIVA







"Se a Terra é nossa Mãe, então uma caverna torna-se uma imagem do seu útero e um lugar para se entrar em Seu corpo real."
Rachel Pollack


Seu corpo, sua casa

Ah, falar sobre nossa primeira casa é falar sobre o nosso corpo. Concordo que é objeto de especulação a existência de alma ou não, e não vou tratar disto aqui. Mas hão de concordar
que existe algo além da máquina humana, que existe um Eu que a opera, que dirige seus passos.

Eu SEI que não sou somente carne e ossos e sangue. Que existe algo além disto, que mora aqui dentro. Eu VIVO neste corpo e através dele interajo com o mundo exterior, sendo não só minha casa como meu veículo de transporte e locomoção, entre outros atributos.


Bem, sendo minha primeira casa, só levo para dentro dela quem eu quero, certo? Como pagão, creio também que minha casa também é meu templo, morada do Divino, o que só aumenta a respon
sabilidade do que entra e sai dela. Física, mental e emocionalmente falando, é preciso ser assim para manter a saúde em todos os aspectos.

Como você trata esta primeira camada de residência?


Ya-bada-badoo!!!


A citação no início deste texto, da autora e sacerdotisa pagã Rachel Pollack, me faz pensar sobre as primeiras moradias.

A nossa segunda camada de residência é a nossa casa propriamente dita, seja ela de pedra, concreto ou madeira. Como somos animais sem pelos e demasiado sensíveis a variações de temperatura ter uma proteção contra frio e chuva que vá além das roupas e fundamental.

Mas ainda não dispúnhamos das ferramentas para construir esses bens duráveis, ou nem sempre ficávamos muito tempo em um lugar para justificar tal construção. O que fazer?


Cavernas Modernas

Já pensou naquilo que sua casa é? Nunca a imaginou como uma caverna de alta tecnologia, artificial mas ainda sim com todos os elementos básicos de uma gruta, principalmente no Brasil, que usamos material vindo das profundezas da terra na confecção do cimento e concreto?
No princípio contávamos somente com as formações naturais, que não são lá muito comuns.

O que fazer então quando não se tem uma caverna natural à mão? Constrói-se uma! De argila, couro ou gelo.

Cavávamos o solo e erguemos do corpo da Mãe nossas primeiras edificações, Filhas de sua própria carne.
Lógico que são apenas especulações, pois vestígios destas primeiras habitações são virtualmente impossíveis de descobrir, uma vez que as casas dissolviam-se com as atividades climáticas. Da Mãe veio, para a Mãe retorna.

Mas o Brasil moderno conserva ainda construções que herdaram esta forma de engenharia habitacional. Para quem mora na capital paulista, visite o Museu de Arte Sacra, na Zona Norte de Sampa. P
arte da igreja foi erguida com barro e madeira e foi conservada para visitação.

Nossas casas hoje carecem desta harmonização com o meio porque esta entropia não é vantajosa para nós que desejamos uma vida mais estável. Reconstruir partes da casa feitas em barro não são tarefas que possam ser feitas em curtos espaços de tempo, uma vez que tempo é o que menos temos. Nossas casas modernas são pouco ecológicas seja na sua construção ou manutenção.

Logo, nossa segurança e conforto dependem do sacrifício do Corpo da Deusa em nosso favor. Respeitemos isto.



Casa na Árvore ou a Árvore como Casa?

Tendo o processo evolucionário proposto por Darwin como base e através de estudos de fósseis além de outras evidências, é possível dizer que nas regiões tropicais os primeiros hominídeos viveram boa parte de sua existência em árvores até 3-4 milhões de anos.

Longe dos perigos do solo, a única questão a ser resolvida durante a noite é se manterem juntos e equilibrados nas copas das árvores. Hmmm... será que vem daí aqueles pesadelos de quedas infinitas? Uma defesa inconsciente do nosso corpo para que não caiamos na boca do predador enquanto dormimos?

Atualmente quando a madeira da árvore não é usada como matéria-prima na construção de casas, lhes servem de suporte como as tradicionais casas-da-árvore. São as casas ditas alternativas que sempre geram olhares diferenciados de admiração e espanto.

E esta segunda camada de residencia, a morada de seu corpo, como é tratada?


Sua casa mora aonde?


Como boa parte da população de nosso país mora na zona urbana, é provável sua casa esteja situada dentro de uma cidade. A cidade é a casa de sua casa, já percebeu isso? Se sim, já parou para prestar atenção nela? Suas ruas, árvores e praças, comércio, pessoas, vizinhos, animais? Nos sons da manhã e da noite? Nos cheiros que ele deixa no ar? E no modo como ela pulsa em diferentes horas do dia? Onde fica seu coração? Onde as decisões são tomadas? Onde as pessoas estudam ou trabalham? Como o lixo é recolhido e eliminado? E o esgoto?

Depois que os celulares popularizaram as câmeras, ficou mais fácil o registro das coisas. Então meu exercício atualmente é fotografar as ruas próximas de casa. E acho incrível como a câmera muda a perspectiva de algo que faz parte de meu cotidiano há tanto tempo. A fotografia nos força a olhar o objeto de outro ângulo. O próprio fotógrafo, na busca do inusitado, tenta achar esta novidade.

Experimente redescobrir seu bairro, e verá as surpresas que encontrará.
Então o corpo que é o bairro saltará aos olhos!!!


Minha cidade é meu País

Preste atenção: como queremos afirmar que alguém participa da vida social e política da nação, dizemos que esta pessoa é cidadã. Ora, é um termo para morador das cidades. E de fato: a célula mais definível de um agrupação cultural e político é a cidade. Para um migrante, o voltar a terra natal não é o estado de origem, mas sua cidade, onde ele é algo mais que um número. As cidades são as células deste corpo chamado Nação.

Volta então o sentimento de lar, família, de pertencer a algum lugar. É aonde crescem nossos filhos e estão enterrados nossos ancestrais. É inevitável: o que acontece em sua cidade, acontece com você. E o que acontece contigo ocorre em seu país. A sua história e a História estão coligadas.

A cidade não precisa ser um lugar de anônimos apressados e sem vida. A existência de praças e parque nas regiões centrais garantem que sua população possa parar e aproveitar a experiência que é viver em coletivo.


Novas Visões sobre o Corpo-Cidade

Uma forma de repensar o espaço das cidades, por exemplo, está na fazenda urbana, uma idéia antiga que toma corpo graças a crescente população x espaço para plantio. Eis uma forma de repensar o lugar onde se vive.
Defenda então a cidade. Participe de sua vida, sinta sua respiração, seus movimentos. Seja uno com ela. Pois é neste templo gigantesco em que mora o Divino.

Outra, mais voltada para a guerrilha de jardim: a ocupação dos terronos baldios por plantas comestíveis. Essa idéia foi da Paula e é muito simples. Sabe todas aquelas sementes que você jogava fora quando comia maçã, pera ou maracujá? Então, ao invés de po-las no lixo, jogue-as no terreno baldio ou margem de córrego mais próximo. Ou eles servirão de alimento para pássaros e insetos ou brotarão e darão origem a plantas.

A nossa casa é aqui e agora, aonde a gente está!

Segue um som muito gostoso do Arnaldo Antunes, para ilustrar a idéia.

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