Páginas

terça-feira, 26 de outubro de 2010

31 DE OUTUBRO É DIA DA DEMOCRACIA (DE NOVO!)



Pois é... estamos aí novamente, cara a cara com as urnas em todo o país. Após o primeiro turno, onde 1 milhão de Tiriricas elegeram um cidadão que  não sabe qual a função desempenhará para ganhar mais de R$15.000,00, fora benefícios. Quem votou no Tiririca não elegeu uma proposta. Nem sequer uma pessoa. Foram 1 milhão de votos (e quatro candidatos-nanicos eleitos à reboque) para uma imagem, um personagem de circo.

Não digo que sou contra o voto, que sou saudosista da Ditadura Militar no Brasil e outras sandices. Considero o sufrágio uma excelente ferramenta. Mas o processo eleitoral do brasil, apesar de ter uma estrutura excelente, cujo o simbolo é a urna eletrônica, carece de mudanças em sua base.

Temos eleições muito personalistas. Não existe um debate técnico sobre as propostas de governo, sua viabilidade e aplicabilidade. O que se vê na tevê não constrói um pensamento político sadio e estruturado. Somente divide a nação entre "nós" e "eles" em um processo que conheci em outras instâncias.

Me envolvi na política partidária em 90, graças ao movimento estudantil em minha cidade. Os grêmios, como os sindicatos e outros órgãos, eram vistos (e são) como braços dos partido e percebi o quanto é vertical, hierárquico, personalista e restritivo são os processos decisórios. Minha visão era ter o partido a serviço da entidade, e não o oposto.

Os debates internos eram marcados não pela racionalidade, mas pela emoção e, vez ou outra, meias-verdades. Com o tempo aprendi que queria eleger mais um programa de governo que uma pessoa ou grupo. Porque as pessoas passam, mas o programa e o grupo ficam. Mais de uma vez vi as massas se enfrentarem nas plenárias enquanto nos bastidores os líderes confabulavam. Fui perdendo o tesão.

Após o desgaste inevitável, deixei a política partidária em 99. Mas a vida política continua. Pois ela não se restringe ao Palácio do Planalto. Política é a soma das relações humanas no ônibus, na rua, no emprego, na cama, na cozinha, com o vizinho, com o desconhecido.

Lavar ou não a louça na pia determina naquele momento qual o tipo de relação de poder tenho em casa. Se cada ato é sagrado, cada ato também é político.


Separatismo

Estas eleições tem sido marcadas pela questão religiosa sobre assuntos civis como aborto, união civil entre pessoas homoafetivas e afins. Apesar do Estado ser laico segundo a Constituição de 1988, a população não o é. E é atrás destes votos que candidatos D. e S. correm. Como se durante quatro anos estes fossem os únicos temas a serem colocados em pauta.

Esse papo de bancada evangélica me lembrou algo. Faz uns anos que me foi sussurrado nos ouvidos uma proposta de partido pagão. Não sou a favor da setorização das pessoas. Lembra a criação de guetos, como o de Varsóvia. Sejamos cristãos ou pagãos, temos que comer, vestir, morar, nos movimentar. Um partido não deve governar para poucos nem em cima de um ou outro tema. E nem a nação se deixar levar pelo canto da sereia.

Quando as pessoas se separam, se coisificam.

Meu desejo é que num futuro próximo possamos eleger propostas viáveis para a nação em todos os campos básicos e deixemos de dividir o país em "bancadas" e "partidos". Quando aprendi que posso fazer política fora das plenárias durante o ano inteiro e não só quando entrego meu voto a uma pessoa, entendi o real valor dele. E entendi que hoje as pessoas e o modelo estão abaixo das minhas expectativas. Desde 1994 não elejo ninguém para qualquer cargo público.

Mas não quero que esta seja a tônica desta eleição, pois temos milhões de pessoas adultas que não tem responsabilidade política para se autogovernarem, e tão pouco serem coautoras da administração de uma região. Estas precisam (merecem?) os candidatos que se apresentam.

Que a Deusa tenha piedade de nós.


Saúde, amizade, liberdade.


S. Thot.

Ps.: entrou em vigor a lei da Ficha Limpa, válida já para estas eleições. Um fato curioso é que gente que tinha a ficha suja foi eleita, muitos com grande margem de votos, sendo preciso usar o poder da lei para retirar estes elementos das cadeiras do Congresso. Incrível como o povo necessita de um guia para tomar decisões corretas! E o quanto uma nação corrupta se reflete em seus parlamentares!

4 comentários:

  1. Pois é... Andei refletindo sobre tudo o que temos vivido ( e os debates ? melhor dizer "combates"!!!) e cheguei à seguinte ( e triste conclusão)...se eles tivessem 1 único princípio a seguir talvez as coisas fossem diferentes : "sem prejudicar nada e nem ninguém faça o que quiser...." Nem precisamos falar da lei do retorno (tríplice...) eles são seus próprios deuses...e vem falar de respeito, democracia, cidadania e outras "brincadeiras"...
    Realmente "Que a Deusa tenha piedade de nós..."
    Strega Mamma

    ResponderExcluir
  2. Essa questão da união, da segregação, de se "ser ou não ser" homofóbico uma pessoa q emitir conceito sobre o tema... gerou inúmeros discursos em toda a mídia - digo mais pelo rádio em q sou viciada.

    E um ponto abordado foi justamente esse que vc apontou aqui, sobre as Leis diferenciadas para homossexuais, e da união legal entre duas pessoas do mesmo sexo. Principalmente "protegê-los" dos homofóbicos. Essa foi a questão mais discutida....

    A Lei deve ser para todos, mesmo que na prática sabemos q muitas vezes não é.
    Leis "exclusivas" para blindar determinadas pessoas, por sua sexualidade, qualidade ou necessidade, é um passo para futuros guetos mesmo - isso já existe a bem da verdade.

    Existem as Comunidades (mudaram o nome de favela para Comunidade para ficar mais sonoro...); até na praia uma determinada faixa de areia, rua de tal a tal, só para homossexuais, gays, simpatizantes..isso td é bem tolerado e exposto e tido como normal e aceitável - uma segregação "espontânea".

    Guetos já existem, sem dúvida. Dissimulados ou expostos.

    Mas não percamos a esperança que o(a) futuro(a) governante do Brasil perceba que também existem além dos grandes centros, o Piauí, Acre, Amapá, Rio Grande do Norte!
    E lá existem os guetos "locais" prostíbulos onde crianças são compradas - vendidas por seus próprios pais como animais.

    Acho que eles esquecem que precisarão governar- também!- para essa gente,laaaaaá de longe.
    Que a memória lhes volte, para o bem de todos.

    Abraços Thot, e como não poderia deixar de ser, desculpe pelo comentário "desabafo", eles tem vida própria, quando vejo - já foi! ^^
    Culpa dos seus textos rsrsrs

    ResponderExcluir
  3. Oi Mamma! Não raro as coisas mais simples são as mais profundas, não? Tantas leis para explicar que precisamos viver bem uns com os outros...

    ResponderExcluir
  4. Oi Sel!

    De fato o gueto é um problema, uma vez que é na mistura que realmente acontece a democracia. Separados nossas diferenças se intensificam. O que pode ser ruim se não conseguimos viver com elas.

    ResponderExcluir

Cultivaram esta Semente: