Olá à tod@s
Sabem, não existe contrato no mundo que possa validar, ao meu ver, a posse de pessoas ou grupos sobre outras pessoas, grupos ou terras. Porque tanto o ser humano quanto a Nave-Gaia pertencem a todos, a ninguém e a si mesmos! Este é um pensamento complexo, não?
A ideia nasceu anos atrás, através dos desdobramentos e ligações que tive com com outras ideias. Foi no final do anos 90, após conhecer o pensamento libertário e as lutas campesinas do MST. O primeiro pede a liberdade do ser humano e o segundo a liberdade da terra.
Não Sou de Ninguém
Clique na foto! De Sebastião Salgado. |
O fato é que meu corpo, minha identidade, meus sentimentos, minha inteligência, minha força de transformação do mundo são meus. Meus até o dia em que Hades finalmente chegar e me levar. Mas será a mim e somente a mim que ele levará no meu leito de morte.
Sou em mim meu próprio mundo. E você também! Você é seu próprio universo e há coisas que só fazem sentido aí dentro! Juntos apenas dividimos, compartilhamos um tempo e espaço. As relações humanas são apenas convites para almoçar, jantar, ir ao cinema, dividir o trabalho. Mas são 6 bilhões de realidades diferentes.
Impossível falar de mim sem falar de como me relaciono com o outro. Se você não sabe quem é e seu próprio valor no mundo, corre o risco de ser coisificado.
Impossível falar de mim sem falar de como me relaciono com o outro. Se você não sabe quem é e seu próprio valor no mundo, corre o risco de ser coisificado.
O Seu Corpo é Valioso
Quando classificamos alguém buscamos reduzi-lo a alguma coisa para que este possa caber em nosso bolso e assim possui-lo. Deste modo tiramos das pessoas a identidade, assim como os senhores de escravos das Américas faziam com os seres humanos por eles comprados na África para o trabalho. Conforme a descrição do livro "A História Concisa do Brasil", de Boris Fausto:
"O critério discriminatório se referia essencialmente a pessoa. mais profundo do que ele, existia um corte separando pessoas de não-pessoas, ou seja, gente livre de escravos, considerados juridicamente como coisa." Pg. 31
Ou seja: para o Estado da época, com a benção da Igreja católica, a pessoa negra era uma coisa. Foram precisos 300 anos para se provar que uma pessoa negra fosse considerada humana. Lhe pergunto: deve uma pessoa esperar a decisão da Justiça ou dos autoproclamados representantes de Deus para se posicionar como figura humana e adquirir a posse de sua individualidade?.
Ainda hoje o pensamento cristão majoritário, com a omissão do Estado, tenta possuir o corpo das pessoas e negar-lhes direitos civis básicos, baseados em critérios duvidosos, por conta da orientação afetiva das pessoas. Em suma: a Igreja decide a quem devemos amar e como. Isso abre brechas para todo o tipo de barbaridades:
- Pai teve orelha parcialmente arrancada por abraçar filho: o fato se deu na cidade de São João da Boa Vista. Um pai andava abraçado a seu filho e um grupo os espancou achando que fossem gays. Leia AQUI. Lembra aquela história recente de um índio que foi queimado vivo porque achavam que fosse mendigo.
Além da Muralha, os Bárbaros
Ontem e hoje os muros são construídos para delimitar os espaços das pessoas, justificado ou não. Como fez a minha vizinha que ergueu uma fileira de blocos sobre nosso muro comum sem meu consentimento. Para dar o acabamento final na obra ela teve que vir até a minha casa e explicar que a construção não se baseava em qualquer forma de desconfiança da parte deles. Mentira descarada, obviamente. Mas deixei passar. É sempre o medo que levanta muros.
Numa escala maior, os impérios sempre se valeram destas construções para deter o corpo do outro. Veja o exemplo da Muralha de Adriano, imperador romano que construiu um muro gigantesco afim de colocar do outro lado os bárbaros do norte da Bretanha (leia AQUI). É como varrer a areia da praia. Posso citar outras?
- Muralha da China
- Muros de Jericó
- Muro de Berlim
- Muro do México - EUA
- Muro do Paralelo 38ºN
Nossa última vergonha humanitária é o muro que Israel constrói para aprisionar os palestinos da Cisjordânia (veja AQUI). Creio que será uma das maiores penitenciárias do planeta e entra no rol dos Muros da Vergonha. Tudo isso por causa da terra.
A Posse da Terra
As lutas pelo campo que me foram narradas pela militância do MST me deram a seguinte perspectiva: de quanta terra preciso para viver? Pois existem empresas e/ou pessoas que possuem uma fome terrível por espaço e são donas de regiões maiores que minha cidade. O nome disso é latifúndio. A prática de dominar as grandes extensões pela força - das armas ou das moedas - é antiga. Os reis achavam que o país onde estava seu castelo é uma espécie de quintal, sendo as pessoas meros joguetes. Quem já não leu nos contos de fadas: "Filho, um dia tudo isto será seu"?
As guerras mundiais retalharam continentes inteiros ao bel-prazer das nações americana e europeias, como prova o Congresso de Berlim. Qualquer mapa-mundi atual lembra uma colcha de retalhos. Mas o pagão, o camponês que da terra vive não se importa com estas coisas, desejando apenas sossego para plantar e colher, sem ter que se mudar diante do avanço das tropas, sejam elas amigas ou inimigas.
Do Alto Somos Todos Iguais
A Mãe-Terra não tem fronteiras quando vista do espaço. Mas inventamos tantas maneiras de construir muros e tantas desculpas para mante-los. E no final é sempre o medo que prevalece, pois temos sempre que por a cara para fora.
Fronteiras só no mapa-mundi! |
A Mãe-Terra não tem fronteiras quando vista do espaço. Mas inventamos tantas maneiras de construir muros e tantas desculpas para mante-los. E no final é sempre o medo que prevalece, pois temos sempre que por a cara para fora.
A conclusão a qual cheguei é que não podemos libertar o corpo da Terra se não podemos libertar o corpo das pessoas. Que não é possível libertar o corpo do outro sem também libertar a si mesmo. E não podemos libertar as pessoas sem libertar a Terra também! Pois não adianta trancarmos em nossos mini-feudos ou em grandes latifúndios. Somos homo socius e uma hora temos que por a cabeça fora do buraco.
Se puder pedir algo a vocês, caros leitores, é o seguinte: libertem os corpos! O seu, o meu, o da Terra. Pois a posse é uma ilusão e só cria tensão entre as pessoas porque sempre haverá um senhor e um escravo. Não confunda posse com amor. Isso é um erro trágico.
Ame seu corpo e passe a amar o corpo do outro também em toda a sua plenitude.
Ame seu corpo e passe a amar o corpo do outro também em toda a sua plenitude.
Saúde, amizade, liberdade!
Bem, concordo com muito das coisas que disse, exeto pela "coizificação" nós seres humanos "normais" buscamos dar nome as coisas, imagine saber, ter a certeza que você tem uma doença, mas não sabe dizer o que é, esta triste, derretendo por dentro, o mundo não faz sentido algum, e nem a doença que te consome, dai nomeamos, depressão, por que fica muito mais "pratica" a nossa vida, e isso também faz parte da nossa vida.
ResponderExcluirGostamos de nomear os objetos, principalmente os mais significativos.
Com relação a terra, deveria ser mais livre e acessivel a todos, afinal como RAUL SEIXAS diz em sua musica "O homem tem direito de amar como ele quiser
De beber o que ele quiser
De viver aonde quiser
De mover-se pela face do planeta livremente sem passaportes
Porque o planeta é dele, o planeta é nosso.
O homem tem direito de pensar o que ele quiser, de escrever o que ele quiser.
De desenhar, de pintar, de cantar, de compor o que ele quiser
Todo homem tem o direito de vestir-se da maneira que ele quiser
O homem tem o direito de amar como ele quiser, tomai vossa sede de amor, como quiseres e com quem quiseres
Há de ser tudo da lei"
A musica se chama a Lei, baseado no livro da Lei de Aleister Crowley.
Abraços a todos, paz e luz...
Ah Spooky, bom dia!
ResponderExcluirE não há discordância entre nós. Talvez apenas haja "ruído" na comunicação! Rs!
Reafirmo que não sou favorável a coisificação das pessoas, mas coisifificar as coisas é de certo uma atitude bem vinda. Afinal é assim que nossa consciência (o Deus?) emerge do mundo natural (a Deusa). Tudo bem que é para voltar após nosso ciclo de vida, maaaaaaas, valeu a aventura! Rs!
Um exemplo de coisificação das pessoas se deu durante o genocídio de Ruanda. Para melhor matar seus vizinhos, a população local as coisificou chamando-as de baratas.
A coisificação nos aparta do outro. No caso de um câncer, é benéfico. E no caso de um ser humano? É neste ponto que foco o texto.
Grandes abraços e afago nos bichos, rs!
Sergio.
Ótimo texto! Ninguém é de ninguém! Se as pessoas entendessem isso, com certeza seriam mais felizes. E a beleza está em saber que tudo aqui na terra é temporário. Por isso, vivamos com mais intensidade e desapego!
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