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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

sapos? roda? o que eu tenho com isso?!


Novata. Pois é também sou ‘postadora’ desse blog, mas ainda sou muito envergonhada para colocar meus escritos aqui. Então para estrear por aqui coloco um pequeno texto que li e é bem parecido com o momento que venho passando no meu caminho, e acho que dá pra ajudar a pensar um pouquinho também.



O Dia Dos Sapos Que São Híbridos


[...]
Ao pé da minha janela, a enxurrada desce para o bueiro, numa efêmera cascata suja, com inconveniências de cochicho e bochecho. E, quase que o dia inteiro, um sapo, sentado no barro, se perguntava como foi feito o mundo.[...]
Minha Gente; Sagarana, João Guimarães Rosa



Quem vinha era o líder. Existiram já muitos líderes, antigamente. Esse líder tirou a capa que o cobria. Todos estavam imensamente tristes, seus olhares lúridos. Foram tirando, sem importância agora, as fantasias de batráquios. O líder falava com alguém perto dele. O líder tinha voz boa e bonita e agradava a todos. Agora que estavam sem suas fantasias aparentemente túmidas falavam mais abertamente — único ponto positivo daquela noite.
— Não estamos aqui porque queremos mais um encontro e sim somente para dizer que… informá-los que… perdemos o lugar aqui, começou o líder, todos silenciaram. Uns correram a colocar a máscara de sapo.
— Inesperadamente nos comunicaram que é impossível continuar alugando o estacionamento e que vão vendê-lo, ainda assim, podemos comprá-lo, quero dizer… não podemos. Achávamos que na nossa Comunidade haveria alguém com… posses, que nos doasse uma parte de seu pecúlio necessário para continuarmos neste lugar, tão importante, vital. Nos doasse como acontece em outras Ordens. Infelizmente ninguém se apresentou e quando solicitamos vimos que também ninguém é possuidor, tem posses grandes… extensas. Que ninguém é rico o bastante.
Alguns queriam, porque triste, dizer coisas mais agressivas mas desistiam vendo o rosto congestionado do líder. Ele — que rira de tantas piadas por ser o primeiro a ser tão magro e ter um queixo pontiagudo demais para aquela Comunidade, mas era bondoso e inteligente e simpático — chorava lentamente de um jeito que poucos percebiam. Um então disse que se todos dessem um pouco, se juntassem, se esforçassem: pagariam. Todos concordaram mexendo seus corpos com espasmos flexíveis e satisfeitos. E a solução parecia como um sonho e foram embora com a resolução de se encontrarem amanhã com o dinheiro junto que salvaria o lugar para eles.
Lá está o líder e hoje é uma noite chuvosa, ele começou como se já estivesse falando o dia todo sem pausas:
— Mas mesmo o facho de esperança erguido por um de nossos queridos colegas que pareceu tão forte, se desconectou como fio de aranha sem herdeiros.
Único som imediatamente depois foi um “oh” mal começado e mal terminado. As imagens proferidas pelo líder chocaram todos os colegas. E queriam ir embora o mais rápido mas ainda saber o que de mal dera errado. Seus sapatos coloridos se mexiam ansiosos, ora contidos ora incontidos.
— O que aconteceu?!?, Disseram.
Então o líder falou pela última vez, respondendo pela primeira vez sem o sorriso de início:
— E vimos que seremos herdeiros sem herdeiros. Hoje todo o dia continuaram chegando mensagens de nossos colegas da Comunidade. Eram mensagens de desligamento. Um após o outro, e às vezes duas mensagens de um, todos os integrantes mandaram mensagens de desligamento. Prestaram algumas queixas de todo o tipo, desde filhos bastardos até pouco dinheiro por mal investimento. O importante não são as justificativas mas que foi em massa, todos, como um efeito social devastador, se desligaram. Como se todos deixassem o país. Sem ninguém pra gritar nenhures. Antes mesmo da primeira carta eu já preparava a minha de renúncia, e já tinha nas mãos as dos assistentes e junta administrativa. Como podem ver, todos desistiram e eu não entendo. E estou com medo de assumir um porquê simples. E cada um que desistiu resolveu vir mais uma vez. Não entendo. Enfim, todas as cartas, de caráter irrevogável como todos bem escreveram, foram aceitas.
O líder saiu não se sabe se de cabeça baixa ou não, por causa que todos olhavam para o chão. Em todos eles era difícil um pensamento que chegasse a um fim conclusivo. Os conhecidos passaram a se evitar. Sem amargura, sem alarme, sem dificuldade.
O lugar foi sendo utilizado para uma coisa e quando não essa, para outra. Ou as duas juntas, na mesma hora, simultaneamente.
Isso aconteceu mesmo quando as pessoas se tornaram poucas e suas paredes derrubadas, que não mais protegeram o lugar da água da chuva e do vento. Quando as pessoas não passavam mais ali, o lugar já tinha muito mato e poças barrentas ou não. E o lugar à noite era invisível. Depois de tempos em muitos e muitos anos o lugar se tornou mais brejeiro, agora não eram homens vestido de sapos que se reuniam e sim sapos que já tinham sido homens.

Texto de Clayton C.


Depois do texto ainda acrescento uma frase que encontrei hoje na internet,

“Uma grande roda só se forma se as pessoas derem as mãos...”


Abençoem e sejam Abençoados!!!
postado por Anne

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