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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

DO GLAMOUR


Glamour... Com certeza você conhece este termo que, até pouco tempo atrás eu achava ser de origem francesa. Mas pesquisando, descobri que sua origem é grega, passando pelo latim, francês e inglês. E esta deriva do termo
grammar, a mesma raiz da palavra gramática. "E daí", pode você pensar... A história não termina aqui.

Livros & magia

Na Idade Média européia poucas pessoas sabiam ler e escrever. O povo via com assombro os clérigos católicos traduzirem o som em sinais gráficos e tinham aquilo como sobrenatural. Logo, tudo ligado ao grammar era oculto, misterioso.

Grammar em escocês escrevia-se com a letra L, ficando então glammar. A língua, como todos sabem, possui vida própria e ao longo dos anos e grammar tornou-se glamour, que também significava feitiço.

A magia de glamour nos chega em uma obra muito conhecida do círculo pagão: As Brumas de Avalon, onde Pendagron toma o lugar na cama do Duque de Gorlois graças a vários elementos reunidos, além da magia de Merlin. Me ocorreu ainda outra obra, do escritor Humberto Eco, chamada "O Nome da Rosa", sobre o poder da palavra. Se não leu, recomendo.

Mas além do glamour como ato mágico, há também uma condição humana que envolve status, poder e fama

Narciso

Em muitos cultos multidões se reúnem em adoração a um sacerdote em específico, as vezes viajam quilômetros para participar de seus rituais vistosos. Como lidamos sobretudo com a emoção, não é raro que isto aconteça, este apego a uma personalidade mais aparente. Mas temo que isto aconteça na Wicca, apesar de seu caráter descentralizado.

Curiosamente o que mais auxiliaria esta guinada é o grande número de wiccanos solitários. Muitos por opção, pois não "conseguem trabalhar magicamente em grupo", apesar de viverem em uma sociedade gigantesca e complexa a maior parte de suas vidas.
Não vivem em comunidades, mas participam em encontros com dezenas de pessoas em datas específicas (senão raras) e compartilham duas ou três horas, voltando sozinhos para suas casas.

Não há assim vínculo com grupos próximos ou com a terra onde vivem. De certo modo, estariam "desconectados".
O que os une é esta figura carismática. Nestes casos, o glamour pode ser nocivo pois o foco de toda esta energia não é a comunidade, mas o indivíduo.

Máscara
Voltemos ao glamour como ato mágico. Tomando os fóruns das comunidades sobre Wicca e Bruxaria do Orkut como referência, as pessoas desejam ter a magia do glamour como uma máscara. Ou, na pior das hipóteses, como uma forma barata de maquilagem. Como os motivos para desejar aprender esta prática mágica quase não são revelados revelados, só se pode especular seus propósitos.

O problema do glamour é que dura pouco, não é resistente a dura realidade. Uma imagem precisa de uma base firme para sustentar-se. Sem ela, tudo ruirá como um castelo de cartas. Esta é a natureza do glamour, efêmera. E, em algum momento, o elástico se quebra e a máscara cai. Que o rosto embaixo lhe tenha servido de molde!

Acredito que nossa religião tenha que ser profunda no conhecimento, mas simples no trajar. Athames de prata e túnicas púrpuras são vistosos e fazem parte do imaginário pagão, mas não é isto que a Wicca representa. Nem tão pouco centrar-se sob duas ou três figuras, para que aquilo que dizem não seja dogma, mas pensamento passível de verificação.

Saúde, amizade, liberdade.

E, já que estamos no carnevale uma marchinha despretensiosa, só para quebrar qualquer efeito glamouresco que este texto lhe causou.

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