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terça-feira, 24 de março de 2009

DO TRABALHO




Você já refletiu sobre seu trabalho? Sobre aquilo que você faz, seja um produto ou serviço, e qual o seu impacto na sociedade?

Alguns trabalhos são muito ingratos. Não pela sua condição ou insalubridade, mas também pelo olhar social sobre eles.


Argos Panoptes

Argos Panoptes era um gigante de cem olhos, filho de uma geração anterior aos Deuses Olímpicos. Servo de Hera, foi incumbido certa vez de tomar conta de uma novilha preferida da Deusa. O que mal sabia ele é que este belo animal era uma princesa transformada por Zeus, que a desejava.

O Deus buscou-a pelo mundo até encontra-la metamorfoseada pela sua ciumenta esposa pastando calmamente e guardada pelo fiel gigante. Seu desejo não diminuiu com a visão de sua bela princesa transformada em animal. Mas era preciso passar por Argos que, quando dormia, podia manter cinqüenta olhos abertos.

Como ninguém se interpõe entre Zeus e seus objetivos, o gigante foi morto por Hermes. Quando sua cabeça rolou pelo chão, vitimado por um golpe certeiro de espada, todos os Deuses voltaram seus rostos, horrorizados pela visão aterradora de dezenas de olhos mortiços. Somente Hera se compadeceu dele, tirando-lhe os olhos e colocando-os na cauda de uma ave, batizada depois de pavão.

Certos empregos costumam ser muito ingratos com seus executores. 



Pirâmide

Em minha função na empresa que trabalho lido com pessoas de nível técnico ou superior, gente que trabalha não só com as mãos, mas também com o cérebro. Sinto entre essas pessoas e aquelas que não possuem tais conhecimentos uma separação. O trabalho não é só trabalho, mas a forma com a qual dizemos ao mundo hierarquizado qual o nosso valor na pirâmide. É tudo uma questão de cargo e/ou salário.

Por exemplo, o catador de lixo. Nestes tempos de aterros superlotados e campanhas de conscientização, o catador de lixo é um personagem desprezado não só enquanto profissional, mas também como ser humano, pois sobrevive daquilo que criamos e chamamos de lixo.

Mas ele não cata lixo. Lixo é tudo aquilo que não serve, que está contaminado. O que ele faz é retornar a sociedade produtos cuja a viabilidade econômica é possível. O que descartamos vira lixo quando nós o contaminamos com outros materiais e ignorância. Tudo vira lixo quando misturamos papéis, plásticos, vidro e metal com cascas, papel higiênico, resto hospitalar.

Na verdade ele garimpa oportunidades, riquezas em meio as coisas que desprezamos. E no processo reduz a extração de matéria bruta, realiza uma grande economia energética e diminui o volume em aterros e incineradores.
No entanto, apesar de seu trabalho ser de grande importância, nos voltamos nossos olhos devido o horror de ver alguém com metade do corpo mergulhado no que desprezamos.

Não tem que ser assim.



Uma Nova Visão

Um pouco de água e sabão nos produtos descartados tornará o trabalho destas pessoas menos desagradável pois eliminaria os produtos em decomposição e o mal-cheiro. Outra questão é não tornar isto em uma subprofissão, algo que se faz quando se está desmpregado, para a vergonha da familia.

A prefeitura entra com a capacitação e cessão de espaço para o depósito e manuseio destes materiais, diminuindo a atuação de atravessadores e garantindo meios para garantir a segurança do trabalho para estas pessoas. Há iniciativas em outras esferas do governo correndo em paralelo.

Mude seu olhar não só em relação àquilo que você descarta achando que não serve mais, mas também olhe novamente para as pessoas que enxergam coisas que você ainda não vê.

Então, verifique o que você faz com o seu lixo. Cada ação conta.

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