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"Na minha viagem aos mistérios ouço a planta carnívora que lamenta tempos imemoriais: e tenho pesadelos obscenos sob ventos doentios. Estou encantada, seduzida, arrebatada por vozes furtivas.
As inscrições cuneiformes quase ininteligíveis falam de como conceber e dão fórmulas sobre de como se alimentar da força das trevas. Falam de fêmeas nuas e rastejantes.
E o eclipse do sol causa terror secreto que no entanto anuncia um esplendor no coração. Ponho sobre os cabelos o diadema de bronze."
Do livro "Água Viva", de Clarice Lispector
Então chegou o tempo do caos. Sob a terra os talos e frutos não colhidos são devorados pelos vermes. A desordem impera nos campos. As formas se perdem, misturando à terra, ao útero.
Todos se perguntam: o que foi colhido será suficiente para os tempos que se seguem? Durará muito o período de seca? Quando éramos camponeses, este era um período de incertezas, onde só sabíamos que estávamos a mercê da Natureza a nossa volta.
Mas também era (e é) um tempo de fé, de entrega, de afirmação, de uma alegria dos corajosos que cantam em volta das fogueiras, batendo forte o pé no solo enquanto dançam para que saibam que ainda estão vivos e que lutarão para assim permanecer.
É tempo do retorno ao Escuro.
O Divino irromperá pelos portões da Noite Eterna e, a cada passo, se perderá de si mesmo, de sua identidade de seu ser, para mergulhar no turbilhão onde Fim e Início finalmente se misturam.
Então limpe sua mente das coisas passadas, olhe para dentro de sua casa e descarte o que não serve mais, finalize de uma vez suas pendências, comece a arrumar suas coisas pois estamos todos de partida.
Estamos sempre de partida para algum lugar, não?
Saúde, amizade, liberdade.
Ps.: E aqui estamos nós, celebrando o Samhain.
Saúde, amizade, liberdade.
S. Thot