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sexta-feira, 13 de julho de 2007

DOS CORDEIROS DE DEUS


Imagem de Lascaux. Clique para abrir.
"Quem sou perante o animal?" Aquele que possui ou já possuiu gatos, cães, ou mesmo pássaros e répteis, não deixou esta pergunta passar em branco em algum momento da vida. O próprio termo animal de estimação revela qual nossa posição diante deste seres ao longo de nosso relacionamento com eles.

É difícil precisar qual o momento em que nós seres humanos adquirimos a "consciência-de-si-em-si-mesmo", e nem quando isto, num novo salto, nos separou de nossos companheiros de penas, pêlos e escamas desta nave chamada Gaia. No Ocidente, os mais antigos registros históricos afirmam que - o homem devia ter o domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.

E, ao mesmo tempo que nos separamos deles também desejamos retornar a irmandade. E ao mesmo tempo que queremos reatar estes laços perdidos, temos que deles nos alimentar. É um paradoxo.



Animais frágeis

Se pensarmos no ser humano como um animal, verificamos nossa imensa fragilidade: não somos fortes, rápidos, ágeis. Não voamos. Nadamos e corremos com grande dificuldade em relação a outros animais. Somos um tipo de macaco pelado. Estaríamos destinados à extinção se não tivéssemos uma série de fatores que, combinados, recebem o nome de adaptabilidade. Nosso cérebro e nossa capacidade de construir ferramentas fizeram de nós seres capazes de sobreviver, caçar e coletar alimentos em praticamente todas as partes do globo. Portanto dieta foi a primeira ponte que nos uniu aos animais. 


Mas caça-los não era tarefa fácil: lanças e flechas são armas rústicas, e a mata ou os campos possuem predadores de homens também! A pecuária e a agricultura foram passos importantes, pois pela primeira vez o homem deixa a Terra para criar seu próprio Mundo domesticado.


Lascaux

As imagens de Lascaux e outros sítios arqueológicos ao redor do mundo - incluindo o Brasil - implicam em sérias dúvidas sobre sua real finalidade. Presumisse que estes desenhos de bovinos e equinos de até 5 m., feitos há 15.000 anos atrás com uma beleza impressionante, possuíam um caráter iniciático. Achados arqueológicos ao redor da caverna francesa indicam que os animais desenhados não serviam de alimento, constituindo este basicamente de renas.

Se a caverna servia a iniciação mas os animais ali pintados não eram caçados, porque então a representação? Supõe-se que os seres são sagrados aos antigos frequentadores do local, auxiliares em seus transes, guias para outros planos.

Posteriormente estes e outros animais serviriam como identidade para as tribos. São os totens. Uma tentativa de reunião, de pacto de paz.


Os animais e as Divindades


Se no Período Neolítico buscávamos as ligações com os Deuses através da identificação com os animais, uma vez que observaríamos que estes teriam um relacionamento mais estreito com o sagrado, os milênios mudaram o convívio para outro plano.

Com a domesticação, nossa consciência separa-se da dos animais. Em vez de parentes, somos seus algozes. Agora os sacrificávamos em honra aos Deuses através grandes holocaustos. Com os animais recebemos favores ou nos livramos da Ira Divina. Alguns seres (ou mesmo todos) são proibidos para consumo. Outros são objetos de culto. Mas sua posição como ponte entre os humanos e deuses se manteria ainda por longos períodos.

Muitas Deusas&Deuses teriam através de seus fiéis, características associadas a animais como corujas, águias, vacas, cordeiros, cavalos, leões, jaguares, abelhas, aranhas, escaravelhos, coiotes, lobos, corvos, tubarões, tucunarés, elefantes, cobras. No Egito antigo podemos citar meu Deus de devoção, Thot, com a cabeça de Íbis. O hábito manteve-se até hoje, como verificamos no termo religioso Cordeiro de Deus usado por muitos de seus sacerdotes, os pastores.

Em nosso país os cultos dos afro-descendentes mantém a prática de sacrifícios animais aos Deuses de seus panteões. A indústria da carne de diversos animais continua a todo vapor, onde a característica do animal se dilui nos magníficos comerciais de tv e ganchos de frigoríficos. Para muitas crianças a carne não vem da vaca, mas do açougue.

Animais ainda selvagens são consumidos com função afrodisíaca ou medicinal, como acontecem com as barbatanas de tubarão no processo chamado de "finning" Leia + AQUI. Os bichos domésticos vão da semidivinização (hotéis e motéis para animais, roupas, manicure, dieta etc) a escravidão, mutilação, vivisseção ou puro e simples mau-trato.



E apesar de tudo isto, ainda os consideramos parte de nossa família quando vivem conosco por muito tempo e tomam de assalto nosso coração. Não raro me pego falando com os gatos aqui em casa. E às vezes acho que até me entendem. Não obedecem, mas entendem.

Talvez seja este o milênio em que nós devamos questionar quais são nossos papéis nesta parceria com os companheiros que voam, nadam, caminham e rastejam na Nave Gaia.





Sergio Thot

 

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